PRIVATIZAÇÃO DA CESP REVELA INCOERÊNCIA

A única das três geradoras de energia que permaneceu estatal após a cisão da Cesp em cinco empresas, incluindo uma distribuidora e uma transmissora, e leva o seu nome deve ser entregue à iniciativa privada ainda neste ano. A intenção de publicar o edital de venda este mês e efetuar o leilão no próximo foi anunciada pelo Governo do Estado em audiência pública realizada na Bovespa (Bolsa de Valores do Estado de São Paulo) no dia 6 de setembro último. A companhia remanescente resultante do processo de reestruturação dispõe atualmente de 6.520 MW de potência e é maior do que as duas outras juntas. A justificativa de aliená-la em função das dificuldades financeiras decorrentes de dívidas estaduais não procede. De acordo com especialistas, o débito total da Cesp – cujas instalações já foram amortizadas e pertencem ao domínio público –, hoje de R$ 6.813 milhões, é absolutamente suportável, com 75% do valor a ser pago em longo prazo. Mesmo que tal argumento fosse válido, a venda de 39% do seu capital social, segundo divulgou a imprensa, pelo provável preço mínimo de R$ 1,5 bilhão, representará recursos insignificantes face ao seu potencial e valor patrimonial. Além disso, inviabilizará obras de expansão no Estado, pois esse montante equivale a US$ 500 por kW instalado, quando não se conseguiria construir por menos de US$ 1.400. Sem contar a incoerência no processo, conforme lembrou o engenheiro José Gelazio da Rocha, que atuou por mais de 40 anos no segmento: "O Estado alega ser necessário efetuar as privatizações porque não tem dinheiro para investir, mas essas estão sendo feitas através de financiamentos de órgãos governamentais."

Na sua concepção, a questão não é ser contra ou a favor da venda, mas analisar o assunto com cuidado para evitar conseqüências desastrosas. Haja vista que as mudanças no modelo do setor elétrico brasileiro vêm trazendo resultados nada satisfatórios, especialmente para a população. Entre eles, aumento de tarifas bem acima da inflação, não-investimento ou reinvestimento dos lucros no próprio segmento e não-realização das obras necessárias para a expansão do sistema de modo a atender o crescimento previsto do consumo de energia, o que possivelmente ocasionará racionamento no próximo ano. "A eletricidade é um insumo que entra na produção de quase tudo. Na medida em que se submete seu preço às forças de mercado e ela se torna cara, o País acaba perdendo competitividade lá fora", complementou Gelazio. Na visão do SEESP, insistir em fazer a privatização na forma que comprovadamente não está dando certo denota falta de competência.

Visando contribuir para o debate sobre o assunto, o Sindicato, juntamente com outras entidades representativas, está colaborando na organização do seminário "São Paulo – Colapso Energético e Alternativas Futuras", a ser realizado no dia 16 próximo, na Assembléia Legislativa do Estado, no Auditório Teotônio Vilela, a partir das 9h30. Na oportunidade, especialistas estarão abordando os temas "A crise do modelo", "Energia em São Paulo como instrumento de desenvolvimento regional" e "A privatização em São Paulo e controle social da energia". O evento é aberto ao público e conta ainda com a participação de comissões da Câmara Federal dos Deputados e ONGs (Organizações Não-Governamentais). No encontro, deve ser formada uma frente para discutir com o Governo e a população as soluções possíveis para a questão energética.

PRINCIPAIS MUDANÇAS QUE OCORRERAM NA CESP

Privatizada a área de distribuição, com a compra da Elektro pela americana Enron (julho/1998);

Efetuada a cisão da Cesp em três empresas geradoras e uma transmissora, a CTEEP (abril/1999);

Privatizada a geradora Paranapanema, constituída de oito usinas e 2.307 MW de potência, comprada pela americana Duke Energy por R$ 1.239 milhões (39% do capital social), o que equivale a US$ 1.016 por kW instalado (julho/1999);

Privatizada a geradora Tietê, formada por nove usinas e 2.651 MW de potência, comprada pela americana AES por R$ 938 milhões (39% do capital social), o que equivale a US$ 666 por kW instalado (outubro/1999);

A companhia ainda alienou sua participação acionária na CPFL (novembro/1997) e na Comgás (abril/1999), quando dos processos de privatização dessas.

Obs.:
A transmissora CTEEP deverá permanecer estatal e se fundir com a EPTE (remanescente da Eletropaulo) em data ainda não definida.

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