Dando seqüência ao Fórum de Debates "A Engenharia e a
Cidade", o Jornal do Engenheiro traz nesta edição o programa
dos candidatos Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PPB), que disputam o
segundo turno da eleição na Capital, neste dia 29, para os pontos
considerados fundamentais na administração da cidade. Publica também
propostas dos concorrentes em Campinas e Santos, demais localidades do
Estado em que foi realizado o Fórum de Debates e vai haver segundo turno.
Jornal do Engenheiro: Qual o problema mais grave de São Paulo e como será solucionado?
Marta Suplicy: A cidade foi abandonada pelas duas últimas gestões e o que
vemos hoje é um quadro de corrupção institucionalizada. Por isso, uma
de nossas prioridades será fechar as brechas da corrupção. Para isso,
vamos democratizar e dar transparência às ações da Prefeitura,
através da descentralização, do incentivo à participação popular e
da manutenção de uma Rede Pública de Comunicação e Informação.
Quando o poder público é controlado e observado, não existe espaço
para a corrupção e a eficiência das ações fica garantida.
Maluf: Sem dúvida nenhuma é a falta de segurança. De um lado,
vamos pressionar o Congresso Nacional para o aumento das penas nos casos
de crimes hediondos e para que aprove a municipalização da polícia,
dando poderes às prefeituras com mais de 1 milhão de habitantes para
coordenar as atividades de repressão ao crime e ao vandalismo na cidade.
Além disso, vamos aumentar o efetivo da Guarda Civil Municipal para 10
mil policiais; criar cursos especiais ao treinamento dos policiais,
ministrados por especialistas americanos; transferir verbas de obras
viárias para os programas de segurança pública; melhorar os salários
dos policiais da GCM, exigindo um trabalho eficiente e um controle de
qualidade do seu serviço (Guarda Cidadão); criar uma polícia especial
de trânsito para atuar nos veículos de transportes coletivos; instalar
extensa rede de câmaras de vídeo, monitorando grandes concentrações
humanas e locais da periferia com maior incidência de crimes; reeducar e
preparar os jovens drogados para a vida produtiva, entre outras medidas.
JE: Como pretende equacionar a dívida do município?
Marta: A atual administração estabeleceu um acordo com o Governo
Federal, no qual o município transferirá 13% de seu orçamento líquido
anual à União, por até 30 anos. Nossa proposta é pagar e pedir à
União que 3% a 4% da receita voltem para a Prefeitura para ser aplicados
em projetos sociais, como o Renda Mínima e o Bolsa Escola. A Lei Federal
nº 59.533, promulgada em 1997, permite aos municípios desenvolverem o
Bolsa Escola com participação da União em 50% dos custos. Pela lei, a
cidade de São Paulo só teria direito ao benefício em 2003. Entretanto,
como a dívida é em parte de responsabilidade do ex-prefeito Paulo Maluf
e em parte resultado dos juros astronômicos praticados pelo Governo
Federal, achamos justo pleitear a antecipação dessa parcela da União
nos programas sociais. Outra medida para equacionar a dívida será o
combate à corrupção. Para se ter uma idéia, nos últimos quatro anos,
a corrupção foi responsável por subtrair dos cofres públicos cerca de
R$ 7 bilhões.
Maluf: Estou acostumado a receber orçamentos apertados. Quando
assumi a Prefeitura deixada pelo PT, São Paulo estava falida. Com um
enorme cabide de empregos chamado CMTC, obras paralisadas, contas que não
fechavam e descaso com o dinheiro público. Assumi com cinco meses de
folha atrasados para pagar. Vou colocar a cidade em ordem e isso é mais
do que um compromisso público. É o dever de quem errou acreditando em
alguém despreparado para governar São Paulo.
JE: Quais as propostas para a área de Transporte?
Marta: Hoje é essencial que a Prefeitura busque parcerias com o
Governo do Estado para a expansão da rede de metrô. Também daremos
apoio à implantação do Rodoanel, propondo, entretanto, uma revisão no
seu traçado. O sistema de transporte na cidade precisa de intervenções
urgentes de modo a melhorar as condições do transporte público, a
mobilidade, a segurança, a acessibilidade e a qualidade ambiental. Vamos
reestruturar o sistema de transporte coletivo e formar uma rede que
integrará metrô, trem, ônibus, lotações etc. Outra proposta é o
bilhete único, que possibilitará aos usuários a utilização de dois ou
mais meios de transporte sem pagamento de uma nova tarifa em cada etapa da
viagem.
Maluf: Em meu governo, a Prefeitura fará parceria com o Governo do
Estado para a construção do Rodoanel e também de novas estações do
Metrô. Nossas metas para o setor de Transporte são: obras viárias para
a melhoria do fluxo dos veículos; expansão de corredores de ônibus e da
rede de semáforos inteligentes e câmeras de TV; aumento do efetivo de
"marronzinhos", orientados para educar e corrigir os motoristas
infratores; bolsões e estacionamentos de veículos, junto aos terminais
de ônibus, metrô e trens; regulamentação da circulação de caminhões
no centro expandido de São Paulo; controle da frota de veículos; normas
de circulação para motocicletas; controle da poluição do ar e do som;
integração entre os sistemas de transporte coletivo; organização e
regularização do sistema de peruas; modernização da frota de ônibus,
possibilitando a implantação do bilhete único.
JE: Qual o papel da Prefeitura no saneamento ambiental em São Paulo e como
será seu relacionamento com a Sabesp?
Marta: A gestão compartilhada dos serviços entre estados e
municípios é a melhor forma para o saneamento ambiental nas áreas
metropolitanas. Principalmente pelo caráter integrado dos sistemas de
saneamento nessas regiões. São Paulo, por exemplo, não dispõe de
mananciais suficientes para abastecer a população. Cerca de 60% da água
consumida na cidade vem da bacia do Rio Piracicaba. Nossa proposta é
estabelecer contatos com a Sabesp para que possamos construir uma nova
relação. A começar pela elaboração de um contrato de concessão que
definirá imediatamente as prioridades do município que serão atendidas
pela concessionária.
Maluf: Vou dinamizar a popularização da educação ambiental, por
meio de cursos na rede de escolas municipais e de campanhas para a
população, através de intensa publicidade. Quanto à questão do lixo,
vamos aumentar a capacidade de absorção dos resíduos nos lixões e a
compostagem do lixo urbano. A comunidade terá participação fundamental
quanto à eficiência das concessionárias, através de licitações na
Internet. Criaremos o Grupo de Controle da Poluição Ambiental, a fim de
conceder mais poder de fiscalização à sociedade civil e aumentar as
multas para os infratores de poluição sonora e atmosférica. Quanto à
Sabesp, a Prefeitura será um órgão fiscalizador do trabalho da estatal
paulista.
JE: O que está previsto para acabar com as enchentes?
Marta: Uma de nossas propostas é a elaboração de um Plano
Diretor de Drenagem, que fará um diagnóstico das bacias e córregos e a
relação deles com os rios de São Paulo. A partir daí, será possível
definir, priorizar e articular as ações a serem adotadas. Ao lado dessa
iniciativa, vamos implantar os piscinões, fazer a manutenção das
galerias e bocas-de-lobo e reestruturar o sistema de defesa civil,
realizando a prevenção nas áreas de risco.
Maluf: No meu governo anterior acabei com as cheias na região da
Avenida Pacaembu, Zona Oeste da Capital, com a construção de uma das
obras mais eficazes contra as enchentes em grandes centros: o
reservatório de contenção de cheias, o popular "piscinão",
sob a Praça Charles Miller. Nossa meta é construir mais piscinões pela
cidade, continuar as obras de retificação de córregos e fundos de
vales, cooperar com o Governo do Estado na questão que envolve a
despoluição dos rios Tietê e Pinheiros, exigindo, inclusive, que as
obras estaduais nesses dois sejam realizadas mais aceleradamente e com
continuidade. É nosso objetivo também atualizar os regulamentos e leis
municipais para obras de drenagem.
JE: Qual o papel da sociedade civil na preparação do orçamento e nos
debates sobre políticas públicas?
Marta: O controle orçamentário e o incentivo à participação da
população nas decisões do Governo Municipal devem caminhar juntos. O
Orçamento Participativo, experiência bem-sucedida nas cidades onde o PT
governou, é um exemplo de como isso pode ser feito. É um processo no
qual a população discute e decide sobre o orçamento, os investimentos e
as prioridades da cidade. Além de democratizar as decisões das
políticas públicas, essa proposta garante a transparência da
administração.
Maluf: Fundamental. Tanto que vou criar o Conselho de Paulistanos,
formado por representantes da sociedade civil, e que estará destinado a
fiscalizar todas as intervenções da Prefeitura no dia-a-dia da cidade, o
que inclui o atendimento às reclamações e aos próprios munícipes.
JE: Como o Sindicato dos Engenheiros pode contribuir com a próxima gestão
municipal?
Marta: O Sindicato dos Engenheiros pode, fundamentalmente, ajudar
no processo de combate à corrupção que implementaremos. É muito
importante que os setores da sociedade civil, como os sindicatos, atuem,
por exemplo, na fiscalização dos processos de licitação.
Maluf: Terei imensa alegria em ter como parceiro o Sindicato dos
Engenheiros como órgão fiscalizador, inclusive com a participação da
entidade no referido Conselho de Paulistanos, que vamos criar.