POLITÉCNICOS: NASCIDOS PARA O PALCO

"Sujeito oculto indeterminado" foi a peça apresentada na XII Sapo (Semana de Arte da Poli), em 24 de outubro, pelo GTP (Grupo de Teatro da Poli), integrado por 13 alunos, sete cursando Engenharia Mecânica, Elétrica e Química na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Os próprios atores escreveram o roteiro, orientados por Lena Roque, diretora do grupo no primeiro semestre deste ano. A idéia era apontar a influência da tecnologia nas relações humanas, contou um dos integrantes, Vitor Bellissimo Falleiros. "Nós queríamos mostrar como as pessoas estariam desamparadas durante um blecaute, especialmente os jovens vivendo numa República." Com apoio do GP (Grêmio Politécnico), em três meses montaram o espetáculo.

A essa altura, o diretor era Rafael Masini, ator formado pela Escola de Célia Helena, que estranhou o fato de haver um grupo de teatro na escola de Engenharia. Após a experiência, acredita que "todos estão abertos para trabalhar com arte, independente da profissão". Para outra integrante do grupo, Luciana Paula Regianni, o teatro vem justamente complementar uma formação com demasiada ênfase em Exatas. "Depois de um dia inteiro de aulas teóricas, que obrigam todos a serem racionais e lógicos, a peça possibilita deixar a razão de lado e expor sentimentos." Na mesma linha, Eric Abe, também diretor do GP, considera o GTP importante. "Temos escassez de matérias de Humanas, o grupo tem a função de cobrir isso. Não é porque somos engenheiros que somos alienados do mundo", garantiu.

O projeto agora é apresentar novamente a peça, tendo em vista o bom desempenho da estréia, sendo necessário para tanto que o GTP disponha de um local.

HISTÓRIA ANTIGA
Embora para muita gente Engenharia e Arte não combinem, só se surpreende com os politécnicos de hoje fazendo teatro quem não conhece a história do GTP, criado em 1950, com direção de J. E. Coelho Neto e integrado por Luiz Mazarolo e Moisés Leiner. Naquele ano, o grupo estreou no Teatro Cultura Artística com a consagrada peça "O Doente Imaginário", de Molière, e apresentou duas outras no Teatro Caetano de Campos, "A História do Homem e do Queijo", de Ferrete, e "Sganarelo", também de Molière. Em 1956, o GTP tornou-se um Departamento do Grêmio Politécnico e ninguém menos que Antônio Carlos Zarattini, o Carlos Zara, foi escolhido para dirigir o grupo.

Como os registros são escassos, não se tem notícias das atividades do GTP desde então até 1998, quando foram retomadas, com oito componentes. Em 1999, chegou a ter, no primeiro semestre, 40 participantes, com a direção de Artur Beloni, então estudante de Artes Cênicas na ECA (Escola de Comunicação e Artes). No segundo semestre, com 23 integrantes, apresentou em setembro a peça "O Inspetor Geral", de Nicolai Gogol, dirigida por Lúcia Lombardi. No mesmo mês, parte do grupo participou da leitura dramática de "Eles Não Usam Black-Tie", de Gianfrancesco Guarnieri.

Contudo, na efervescente década de 60, muito se fez. Um exemplo é o Coralusp (Coral da Universidade de São Paulo), montado no GTP em 1967, conforme contou Antônio Carlos Melo Franco, engenheiro químico formado em 1971 e hoje um dos integrantes do coral "Engenho e Arte" (JE 150). Outro talento surgido na Poli é Alberto Martino. Em 1959, ele transferiu-se do ITA para lá e montou o embrião do grupo que, em 1983, se tornaria a famosa Traditional Jazz Band. Hoje, Martino é engenheiro e jazzista, fazendo apresentações com a Tito Martino Jazz Band na cidade de São Paulo (JE 154).

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