Na indústria alimentícia, da rotulagem à venda do
produto, há um profissional indispensável: o engenheiro de alimentos. É
ele quem desenvolve, efetua o controle de qualidade e a regulamentação
técnica. A formação abrangente o torna indispensável ao setor,
conforme atesta a engenheira Eliane Miyazaki, graduada em Engenharia de
Alimentos pela Unicamp em 1984 e especializada em Administração e
Vigilância Sanitária de Alimentos. "Um nutricionista, por exemplo,
dificilmente atuará na área de produção e controle de qualidade; o
farmacêutico não entrará na produção e nutrição; e o engenheiro
químico restringe-se à área de processo."
Sócia-diretora da Food Staff Ltda., empresa de prestação de serviços
na área de regulamentos técnicos em alimentos fundada em 1988, Eliane
acredita no potencial de mercado para o segmento que escolheu. Atuando na
Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação) entre 1985
e 1987, ela percebeu que havia um nicho de mercado a ser explorado: o
suporte técnico ao desenvolvimento de produtos e ao marketing, e o
jurídico, referente à legislação vigente. Hoje, mantendo
aproximadamente 100 clientes, 80% em São Paulo e 20% em outras cidades ou
estados, a Food Staff presta assessoria às empresas, acompanhando desde a
formulação de produtos até sua rotulagem. A idéia é dizer o que as
companhias podem ou não utilizar, de acordo com a legislação sanitária
no Brasil.
A iniciativa bem-sucedida de montar a empresa aproveitou a tendência de
terceirização desse mercado. Contudo, segundo Eliane, grandes companhias
como Nestlé e Coca-Cola têm um departamento próprio, com pelo menos um
engenheiro de alimentos contratado para cuidar dos regulamentos técnicos.
Além disso, ela acredita que aquece o mercado de trabalho a entrada
recente de empresas estrangeiras no Brasil, que fabricam aditivos,
embalagens ou equipamentos. Outro incremento foi o Código de Defesa do
Consumidor, que intensificou a fiscalização e tornou as pessoas mais
exigentes. O maior interesse por qualidade de vida e saúde também
favorece a categoria, já que, com a concorrência acirrada, as empresas
precisam oferecer produtos que, além de nutrir, sejam benéficos ao
organismo. Nessa guerra, entram leites e margarinas que combatem o
colesterol ou cereais que melhoram a digestão. Para produzir e normalizar
tudo isso, só o engenheiro de alimentos.
Com uma bagagem significativa num mercado pouco conhecido, Eliane dedica a
maior parte de seu tempo ministrando cursos, palestras e treinamentos na
área de legislação de alimentos, além de realizar viagens freqüentes
a Brasília, para reuniões nos ministérios da Saúde e da Agricultura,
onde é membro de grupos de trabalho. Porém, para o recém-formado, ela
vislumbra maiores oportunidades na área comercial, cujo trabalho de venda
exige conhecimento técnico. A seguir, vem a produção, que inclui
desenvolvimento, fabricação e controle de qualidade.
Para a engenheira, a maior dificuldade ainda é o relacionamento humano,
especialmente entre o profissional especializado e aquele experiente, mas
sem formação técnica, que acredita estar mais preparado. "O
engenheiro sai da universidade sem compreensão do funcionamento de uma
instituição. Deveria ser aumentada a carga horária das disciplinas
voltadas aos relacionamentos humanos e à administração de
empresa", ponderou.
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