LOUCURA, JOGO DE CENA E MÁ-FÉ RECHEIAM NOVELA CANADENSE

A confusão armada pelo Canadá está entre a tragédia e o teatro do absurdo. Evidentemente, toda essa história em torno da carne brasileira estar contaminada não passa de jogo de cena. O caso começou com a acusação mútua entre Brasil e Canadá (Embraer e Bombardier) e resultou em reconhecimento pela OMC (Organização Mundial do Comércio) de que ambos fugiram às regras estabelecidas para a venda de aeronaves.

O fato é que o Canadá, ao conceder subsídios às suas exportações, adapta-se melhor que o Brasil às imposições da OMC, o que não surpreende, visto terem as regras desse jogo sido construídas para que os países desenvolvidos estivessem corretamente enquadrados.

O Brasil sequer participou dessas discussões. Os episódios que estamos vivendo mostram a determinação do Primeiro Mundo de impedir que países como o Brasil avancem, deixando sua posição de dependência e subserviência, quer exportem aço, frango, laranja ou aviões.

Sobretudo nesse último caso, num mundo onde conhecimento significa suficiência, a exportação de um produto de alta tecnologia deve ter provocado a ira do Canadá, por concorrer com uma de suas empresas, e disso surge sua atitude irracional.

Há uns seis meses, a imprensa internacional já especulava sobre quais produtos recairia a retaliação do Canadá contra o Brasil. Fugindo aos padrões da diplomacia, o Canadá optou pelo terrorismo. Lançar dúvida sobre a possibilidade da carne brasileira estar contaminada pela doença da vaca louca, proibindo sua importação, é um ato irresponsável.

O desarranjo provocado na economia brasileira é infinitamente maior do que se produziria com sobretaxas e restrições. Nesse caso, não se aplica o benefício da dúvida, mas sim o prejuízo irrecuperável da difamação. Milhares de trabalhadores desempregados e companhias sob risco de falência por não suportarem a paralisação do fluxo de caixa já são uma realidade.

O episódio só terá um saldo positivo se os brasileiros, cidadãos e Governo deixarem de se iludir e entenderem que entrar pela porta da frente de nada serve se for para estar na sala de visita limpando as botas de quem vem para a festa. Na arena internacional, com as regras que hoje regem esse comércio, de nada vale bancar o bom-moço. É preciso que tenhamos uma atitude soberana e saibamos exigir compensações equivalentes ao que representa um mercado com as dimensões do brasileiro.

Mais ainda, temos que começar a lutar já por outra globalização, uma em que todos os povos do mundo tenham seus direitos respeitados. Como inclusive ficou bem claro durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, é hora de distribuir o que já pertence a todos.

Eng. Maria Célia Ribeiro Sapucahy
Diretora do SEESP

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