ENGENHARIA DE ÁUDIO UNE LÓGICA À ARTE

Formado em Engenharia Civil, Milton Miné não se dedica a construir casas, prédios ou pontes como seria de se esperar. Longe disso, sua rotina de trabalho envolve peças publicitárias, desenhos animados e dublagens, feitas a partir do estúdio da MR Min Produções Sonoras, empresa que criou em 1996 e que tem como principais clientes Mauricio de Sousa, Editora Camelot e HB Comunik. Antes, ele havia atuado na Mauricio de Sousa Produções e na In Sonoris Imagens Musicais, que pertence ao cantor e compositor Jean Garfunkel.

Atraído por áudio e música desde os 15 anos, quando cuidava do som em bailes escolares, ele sequer cogitou trocar os teclados pela obra, apesar do gosto pelo mundo dos números. Ao contrário, aproveitou a formação em exatas que a faculdade lhe propiciou e especializou-se na sua área de interesse. "Se fosse só músico, os obstáculos seriam grandes, dependeria de outros profissionais para operar o maquinário. Há gente que trabalha com o ouvido, mas para se ter certeza do que se está fazendo é preciso conhecer cálculo de freqüência", contou. Ao mesmo tempo, segundo Miné, o conhecimento musical é imprescindível, já que a atividade não é feita só de técnica, assim como sensibilidade para entender o que o cliente deseja e precisa.

Tendo operado equipamentos de som para shows de gente famosa como o grupo Rádio Táxi ou as duplas Gian e Giovani e Sá e Guarabira, ele decidiu partir para a publicidade, que também exige conhecimento musical. "Recebemos pedidos de peças publicitárias que usam desde Olodum até valsas. Então, temos que saber produzir e chamar os músicos certos para fazer a trilha específica." Apesar do uso da tecnologia, ele contrata pianista, guitarrista, trompetista e quem mais for necessário, unindo o trabalho artístico desses profissionais, que considera indispensável e não substituível por teclados eletrônicos, às técnicas da Engenharia. "As mais complicadas são as peças publicitárias, porque a música é apenas um item, há outros efeitos sonoros como locução e às vezes exigem-se até atores", disse.

Nesse caso, a solução é utilizar loops, que são trechos comercializados em CD de certos instrumentos, como baterias, mais dificilmente acomodados dentro de um estúdio. Além disso, podem ser encontradas, inclusive disponíveis na Internet, coleções de efeitos sonoros, com ambiente de rua, galo cantando ou o que se imaginar. Com todos esses sons na mão, o engenheiro de áudio fabrica aquilo que o espectador vai ver pela TV ou o ouvinte escutará pelo rádio como se fosse real. "Por exemplo, pegamos um trecho do Olodum tocando só a parte percussiva da música, adequa-se a velocidade, com o que se desenha toda uma melodia, e está pronta uma peça de 30 segundos. A partir daí, inserimos outros instrumentos, cada músico tocando o seu, e fazemos a mixagem final", explicou o mago eletrônico.

E se o trabalho de Miné é bastante diferente do usual, ele enfrenta problemas típicos da profissão. "Existe mercado de trabalho para engenheiro e técnico de áudio, mas há muita gente não-habilitada ocupando essas funções", reclamou. Sempre procurando os nichos mais promissores, ele pretende se voltar à dublagem, tendo em vista o interesse manifestado por várias empresas, sem abandonar a publicidade. "Hoje, com a tecnologia de software disponível, numa produtora pequena podemos fazer o mesmo trabalho que em uma grande, que cobra preços altíssimos. Então, o essencial é ter bons contatos e credibilidade no mercado", receitou.

Volta