ENGENHARIA CLÍNICA REVELA-SE 
MERCADO EM EXPANSÃO

Trabalhar em ambiente hospitalar pode ser uma alternativa aos profissionais da categoria que pretendem seguir uma carreira inusitada. A esses, a Engenharia Clínica surge como um mercado promissor. Atuando na área há 10 anos, Luzia Leto de Aguiar, diretora da Unidade de Engenharia Clínica do Serviço de Infra-Estrutura e Logística do Incor (Instituto do Coração), confirma sua expansão no País. E garante que, apesar dos avanços tecnológicos terem originado equipamentos bastante complexos especialmente a partir do final da década de 80 e início dos anos 90, tornando fundamental a presença desse profissional para seu gerenciamento, muitos hospitais de São Paulo e do Brasil ainda não têm
um contratado.

Na rotina desses estabelecimentos, segundo Luzia, o engenheiro clínico é peça importante desde a aquisição de um aparelho até sua instalação, manutenção e verificação contínua. "Nossa missão é assegurar através desse suporte técnico, sob a ótica de custo, risco e qualidade, o ininterrupto funcionamento de equipamentos médicos, laboratoriais, hospitalares e odontológicos", ressaltou, acrescentando: "O Incor é um centro de referência para problemas cardíacos, vem paciente de longe para se operar ou fazer exame, ele se prepara, fica em jejum, faz uma série de sacrifícios, então é complicado não ter a estrutura adequada ao seu atendimento. Eu e meus 11 funcionários – todos técnicos – nos desdobramos bastante para que esse número de ocorrências seja cada vez menor e hoje é raro haver algum problema."


RESPONSABILIDADE SOCIAL
A engenheira clínica ensina: "Essa parte de gerenciamento no dia-a-dia de um hospital não dá muito status, é preciso gostar e ter compromisso com o atendimento do paciente – no Incor, no ano passado, 79% deles foram assistidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde)." Garantir esse nível de excelência não é fácil em um estabelecimento do porte do Instituto do Coração, onde foram realizados no ano 2000 3,7 mil cirurgias, 248 mil consultas médicas, 11 mil internações e 1,7 milhão de exames laboratoriais. Para mantê-lo, conforme Luzia, a média anual de despesas é de US$ 1,4 milhão, incluindo peças, contratos e serviços de terceiros.

Em âmbito nacional, porém, particularmente para Luzia, nem toda a tecnologia vai gerar de imediato um bem-estar maior para a população. "Em países desenvolvidos como a Espanha, o Canadá, os nórdicos, o Governo atua diretamente na análise do impacto da tecnologia no atendimento da população em geral. Antes deles adquirirem qualquer equipamento, fazem vários estudos para justificar sua importância. Na Noruega, Suécia e Dinamarca, por exemplo, constataram que treinar as mulheres a fazer o auto-exame da mama era muito mais eficaz do que comprar mamógrafos. Claro que o nível de alfabetização nesses locais é muito superior ao do Brasil, não podemos dizer que aqui daria certo. Mas esse trabalho deveria ser feito pelo Governo Federal. Será que comprar ressonância magnética para um determinado município é prioridade? Será que saneamento básico e controle de vacinação não garantiriam uma saúde melhor para a população local? Acho que dependendo da condição socioeconômica da cidade ou do país, deve-se tomar cuidado na avaliação de investimentos na área de tecnologia em saúde", considerou.


MERCADOS PROMISSORES
Engenheira elétrica pós-graduada em Engenharia Biomédica pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ela explica que a conclusão desse curso – cuja duração até a defesa da tese é de cerca de quatro anos – permite a atuação não só na área clínica, mas também em outros mercados ainda mais promissores, como a Telemedicina, que possibilita a transmissão de exames e imagens por redes de informática de uma cidade para outra e até para o exterior. "O médico não é mais necessário naquele momento no ponto onde se encontra o paciente. Um especialista situado na localidade pode ajudar um colega num destino mais afastado sem tantos recursos no diagnóstico e esse é um grande avanço. E envolve ter um engenheiro biomédico, o qual auxiliará no desenvolvimento da tecnologia necessária para permitir essa comunicação de imagens e dados fisiológicos", concluiu. Tendo essa formação, ela afirma que poderia atuar inclusive nesse campo, desde que se atualizasse. Portanto, o leque é bastante amplo para quem optar pela especialidade que envolve alta tecnologia e dá ênfase ao papel social do engenheiro.

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