PRIMEIRO DE MAIO COM LUZ NO TÚNEL SINDICAL

Todos os anos o primeiro dia de maio é momento de reflexão obrigatória para os engenheiros. Pela primeira vez em muitos anos, alivia-se o cenário institucional do mundo sindical. Não porque tenha havido uma mudança de opinião das forças políticas, mas sim pela pressão inexorável dos fatos. Um dos principais fatores é a desmoralização da visão liberal. Quando se trata do seu dinheiro, nem os liberais acreditam nela. Basta olhar a Argentina. Tudo livre. Menos o câmbio que garante os lucros das aplicações financeiras.

O segundo fator importante é o processo de renovação moral por que passam as instituições brasileiras. Os escândalos no Senado, Sudam e Sudene representam a força da democracia em ação, da perspectiva de eleições gerais, contribuindo para depurar a vida política nacional. No campo do trabalho, essa renovação da política está provocando uma paralisação da pauta legislativa, o que dificulta mudanças no cenário sindical e trabalhista.

Por fim, retorna à pauta brasileira o debate sobre meios heterodoxos para promover o desenvolvimento e o combate à miséria. O elixir eleitoral está forçando as lideranças políticas a repensarem o modelo. Após uma década de pensamento único, acabou a possibilidade de xingar quem não comunga na cartilha liberal.

Mesmo no Governo, já encontra espaço o direito de divergir dos liberais. No caso da Saúde, por exemplo, o ministro José Serra destacou-se como defensor de uma política de viabilizar o combate à Aids entre os pobres, forçando, contra o livre mercado, o barateamento dos remédios.

No setor energético, a clara incapacidade do modelo privado em expandir a oferta começa a ser duramente criticada até pelo presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves.

Tudo isso colabora para criar uma nova perspectiva no debate nacional sobre a estrutura sindical. Do mesmo modo que a ninguém ocorre extinguir a Justiça Eleitoral ou o Ministério da Educação, ambos criados pela ditadura Vargas, finalmente começa a ressurgir o entendimento que nossa estrutura sindical tem muitas qualidades. De fato, representa a parte mais mobilizada, engajada e politizada, mais moderna e arejada, de nossa sociedade civil, tanto do lado patronal quanto do lado dos empregados.

É isso mesmo, mais moderna e arejada que a liberal estrutura sindical pluralista dos países desenvolvidos. Principalmente após a autonomia sindical conquistada na Constituição de 1988, o Brasil representa o progresso nessa área, o experimento social modernizante, a novidade política que organiza a sociedade e a coloca em movimento. Ao contrário do que se ouve no discurso político hegemônico, a unicidade sindical, a CLT e o poder normativo da Justiça do Trabalho introduzem o Estado de Direito na regulação das relações individuais e coletivas de trabalho.

Alvissareiro esse Primeiro de Maio, que impõe uma trégua na luta incansável do atraso liberal trabalhista contra a modernização social. Quiçá torne-se profético dos rumos do debate do novo modelo de desenvolvimento nacional neste e no próximo ano.

Eng. Paulo Tromboni de Souza Nascimento
Presidente

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