ENGENHEIRO APAIXONADO POR 
TEATRO TORNA-SE ATOR

Inquietação era o sentimento de Roberto Aureliano da Rocha ao ver engenheiros trabalhando com afinco na Companhia do Metropolitano de São Paulo, onde ele atuou por oito anos, enquanto sonhava com outros vôos. "Tinha uma coisa de paixão em alguns que eu não via em mim."

Apaixonado pelo teatro, o palco rivalizava com a função de engenheiro de projetos e, com o tempo, apenas as noites, período que reservava à atividade paralela, ficaram insuficientes. Por exemplo, ele contracenou com Paulo Autran na peça "Exercício para Antígona", de Sófocles, mas só o conheceu em cena na estréia, pois ensaiava à noite e o notório colega à tarde.

Em setembro de 1999, o PDV (Plano de Demissão Incentivada) lançado pela companhia definiu o impasse. "Estava para estrear a peça ‘Atitude’, monólogo dirigido por Marco Antônio Pâmio, e achei que era hora de sair. Resolvi arriscar por dois anos e me dedicar só ao teatro."


MUDANÇA DE VIDA

No ano 2000, atuou na peça "Ópera do Malandro", de Chico Buarque de Holanda, que ficou em cartaz até março de 2001. Foi um ano de trabalho, entre ensaios e apresentações no TBC, que já lhe rendeu diversos outros projetos. Atuará em "Vítor ou Vitória", um musical da Broadway em sua versão brasileira, estrelado por Marília Pêra, com direção de Jorge Takla e início previsto para agosto, no Teatro Cultura Artística.

Agora, ator em tempo integral, Rocha estreará simultaneamente "MotoRboi", de Aimar Labaki, com direção de Débora Dubois, um espetáculo juvenil produzido pelo Teatro Popular do Sesi. Os ensaios das duas produções começam em junho e cada uma rende ao ator um salário de R$ 2 mil. Para completar, também neste mês, a "Ópera do Malandro" entrará em cartaz no Rio de Janeiro às segundas, terças e quartas-feiras. Nos demais dias, Rocha estará atuando nas duas outras peças em São Paulo.

Mais um projeto a empolgar o engenheiro é o cinema. O primeiro longa-metragem será "Flying Virus", produção norte-americana rodada no Brasil, na qual metade dos atores e o diretor são estrangeiros. Eles usarão a cidade de São Paulo como se fosse Los Angeles, e Ubatuba para retratar a Amazônia, local onde um grupo de cientistas pesquisará uma espécie de abelha com poder curativo. No papel de soldado, Rocha interpretará em inglês. As filmagens começaram no dia 28 último, em Ubatuba, e o longa-metragem estará pronto em 2002.

Rocha atua ainda em publicidade — dois comerciais estão atualmente no ar, do Banco Regional de Brasília e da Embratel, e um da Topper será veiculado em maio —, locução e dublagem de filmes. Com esses trabalhos, ganha entre R$ 2 mil e R$ 3 mil mensais. A rotina alucinante que já o deixou "desesperado" inclui também aulas de canto popular e lírico, jazz, dança, sapateado, ioga e natação.

Embora a Engenharia tenha já perdido a disputa com o teatro, Rocha garante que a formação em Eletrônica na Faculdade de Engenharia de São Paulo o ajuda, mesmo numa área tão diferente. As principais vantagens são a disciplina e o método, típicos da carreira. "Produzi três espetáculos e essa base foi fundamental para elaborar o projeto e saber agir numa reunião para pedir dinheiro ao patrocinador. Na verdade, é a cabeça de engenheiro, que é um grande administrador."

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