O APAGÃO DOS TRANSPORTES |
São
Paulo, a terceira maior cidade do mundo, iniciou o século XXI com um
sistema de transporte coletivo muito aquém de suas reais necessidades, com
uma crise de mobilidade sem precedentes em sua história e com sinais que
demonstram perda de competitividade
e que podem inviabilizá-la como metrópole mundial. Para
que São Paulo se afirme como tal, depende de garantias das condições de
infra-estruturas básicas e soluções para suas deseconomias urbanas, entre
as quais destaca-se, como uma das mais graves, o congestionamento do sistema
de transporte. A crise de energia com que hoje nos defrontamos é,
infelizmente, a ponta do iceberg
da falta de investimentos em infra-estrutura. Já faz algum tempo que
enfrentamos o que se pode considerar o “apagão do transporte”, mais
perverso do que o da energia, minando a economia das cidades, acabando com
sua eficiência, empobrecendo-as, transformando seus habitantes em cidadãos
de segunda categoria e punindo a todos indiscriminadamente. O
transporte público que viabilizou social e economicamente nossa cidade
deixou de ser prioridade dos governos, que não
alocam recursos suficientes para atendimento de suas necessidades.
Hoje, a política de transporte dá prioridade ao individual em detrimento
do coletivo. Como conseqüência,
tivemos o crescimento brutal dos congestionamentos. Em São Paulo,
entre 1992 e 2000, a média passou de 40 km/dia para 120 km/dia, mesmo com a
implantação do rodízio. Os ônibus perderam passageiros e qualidade. Em
dez anos, a capital paulista ganhou mais de 1 milhão de carros e apenas 11
trens de metrô. Entre 1991 e 1999, a cidade perdeu
476.220 empregos (13,39%), enquanto a população aumentou em 694.390
(7,22%), segundo dados da Fundação Seade. Isso quer dizer que estamos
perdendo mobilidade e competitividade na atração de investimentos que
garantam os nossos empregos e os dos nossos filhos. De
acordo com a pesquisa Origem e Destino de 1997, centenas de milhares de
pessoas perdem mais de cinco horas e meia por dia para ir e voltar do
trabalho, ou seja, o mesmo tempo de uma viagem de São Paulo
ao Rio de Janeiro. Essas pessoas não têm tempo para, durante a
semana, desfrutar da convivência da família, visitar
amigos, participar de atividades comunitárias, perdem o direito ao
lazer e se transformam em verdadeiros cidadãos de segunda categoria. Estamos
na contramão das tendências mundiais. Nos países desenvolvidos, as metrópoles
estão mantendo sua mobilidade por meio de investimentos públicos nas
malhas de metrôs e de trens de subúrbio que se integram aos demais modos
de transporte público, enquanto em São Paulo, apesar de termos um dos
melhores e mais eficientes metrôs do globo, não estão sendo destinados
recursos para que se construam novas linhas. O
problema da mobilidade das metrópoles brasileiras só será resolvido
quando os governos entenderem que ele é a causa de graves prejuízos
sociais e econômicos e atinge mais da metade da população do País. Mais
do que nunca, é preciso entender que o transporte coletivo é um direito do
cidadão e um dever do Estado. Eng.
Emiliano Affonso |