FLEXIBILIZAÇÃO DOS DIREITOS 
PREJUDICA TRABALHADOR

Sob o pretexto de modernizar a legislação trabalhista, o Governo enviou no mês de outubro ao Congresso Nacional, em regime de urgência, o projeto de lei nº 5.483/01, que altera o artigo 618 da CLT  e propõe que o negociado prevaleça sobre o legislado. Desse modo, direitos conquistados, estabelecidos na Constituição e regulamentados desde 1943, com a instituição da CLT, como férias, horas extras, 13º sálario, licença-maternidade, descanso semanal remunerado e adicional noturno, ficariam passíveis de flexibilização. Para João Guilherme Vargas Neto, assessor sindical do SEESP, em uma conjuntura desfavorável ao trabalhador como a atual, é inoportuno discutir mudanças na CLT a toque de caixa. Além disso, segundo as principais centrais sindicais do País, trata-se de “insulto à inteligência dos trabalhadores e à seriedade que a crise econômica exige de todos que têm responsabilidades públicas”. A conclusão integrou moção de repúdio ao projeto, extraída de amplo debate organizado no dia 8 de outubro pela CGT entre essas instituições, com a participação de confederações, federações, sindicatos, incluindo o SEESP, e Pastoral Operária. A reunião resultou em estratégia de ação unificada que garantiu por diversas vezes o adiamento da votação do projeto. “Estamos dizendo não à terceirização, à precarização do trabalho e à violação dos direitos sindicais”, salientam as centrais. Para João Felício, presidente da CUT Nacional, é o pior projeto já apresentado na Câmara dos Deputados sobre a questão. “É um pacto entre o pescoço e a corda. Queremos o aperfeiçoamento da CLT e a ampliação de direitos, enquanto o Governo quer subtraí-los.”

Na visão de Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente do SEESP, os argumentos do Executivo Federal para implementar tais mudanças são falaciosos, como o de que os principais direitos ficam preservados, pois são garantias constitucionais, e o de que leis trabalhistas mais flexíveis reduzem a informalidade e o desemprego. Para Felício, ocorreria o inverso. Além disso, segundo ele, a prevalência do negociado sobre o legislado estimularia a guerra fiscal. A CUT derruba ainda outro argumento – o de que a intenção do Governo seria fortalecer o poder de negociação dos sindicatos. Para a central, o objetivo real seria reduzir os custos do trabalho, transferindo o ônus da desaceleração econômica para os empregados. 


Aliado de peso
Ao demonstrar quão inoportuno seria tal projeto passar nesse momento, as centrais sindicais conseguiram um grande aliado na luta para impedir a aprovação: o PMDB, que decidiu no dia 27 último, durante sessão deliberativa na Câmara dos Deputados, votar contra o projeto caso se mantivesse o pedido de urgência. Para a CGT, essa foi a maior perda do Governo. Restou-lhe, para não amargar derrota histórica, obstruir a votação: seus parlamentares e aliados se retiraram da sessão, adiada por falta de quórum – teria que haver no mínimo 257 presentes e ficaram 222. No dia 28, o procedimento se repetiu. Após problema técnico no painel eletrônico, eles deixaram o plenário, impedindo a votação nominal.

Na análise de Vargas Neto, o Governo dificilmente reverterá a seu favor o quadro que se configurou. “Mesmo na hipótese remotíssima de passar pela Câmara, Senado e STF, estrategicamente, o movimento sindical ganhou a parada”, comemora. Felício concorda: “O Governo já perdeu a disputa na sociedade, não conseguiu convencer sobre a justeza da sua proposta.” Nem a inclusão no projeto de validade por apenas dois anos – ou seja, se aprovada, a lei vigoraria por esse período – conseguiu que o Executivo Federal angariasse votos.

Apesar de cenário desfavorável ao seu intento, até o fechamento desta edição, o Governo não havia retirado o projeto da pauta, bloqueada em função do pedido de urgência na apreciação desse – isto é, nenhum outro tema poderá ser votado antes do PL nº 5.483/01. A próxima sessão deliberativa estava prevista para dia 4 deste mês, dependendo, todavia, da conclusão de laudo da Unicamp sobre as causas da falha no painel eletrônico. As centrais sindicais prometem ainda maior mobilização para impedir a demolição dos direitos trabalhistas. O SEESP integra essa batalha.

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