COMÉRCIO GLOBAL E COMPETITIVIDADE  | 
| 
     Depois dos acontecimentos de 11 de setembro, quando
    aviões de passageiros foram arremessados por terroristas contra as torres gêmeas
    do WTC e o Pentágono, o tom das discussões internacionais sobre livre comércio
    mudou.  Já não é tão grande
    a urgência na implantação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas),
    nem a indisposição americana para discutir patentes e produtos agrícolas,
    conforme se demonstrou na 4ª Conferência da OMC (Organização Mundial do
    Comércio). A comoção mundial provocada pelo terror e a luta dos
    Estados Unidos na conquista de apoios formais de outros países contra o
    terrorismo fizeram com que os protagonistas dos encontros mundiais G7 e G20
    amenizassem um pouco o discurso sobre comércio e deixassem de lado os
    habituais radicalismos geradores de incertezas. Enquanto os EUA vêm se
    ocupando da guerra no Afeganistão, a discussão internacional sobre a Alca
    arrefeceu, embora no Brasil tenha prosseguido por meio de um seminário na Câmara
    dos Deputados, em outubro último. Na ocasião, compondo a mesa com diversas
    personalidades e autoridades no assunto, tivemos a oportunidade de expor a
    posição do SEESP, veementemente contrária a uma integração subordinada
    aos Estados Unidos. Esse ambiente de discussão de temas internacionais
    que interessam à sociedade brasileira prosseguiu ainda com a realização
    da 4ª Conferência Ministerial da OMC, em Doha, capital do Qatar, onde o
    Brasil compareceu com uma “tropa de choque” composta, entre outros, pelo
    embaixador Celso Lafer e pelo ministro da Saúde, José Serra. O objetivo
    era defender teses brasileiras, como a eliminação completa de todas as
    formas de subsídio à exportação nos países ricos e a autorização de
    quebra de patente de medicamentos estrangeiros pelos países que têm
    problemas de saúde pública, caso da Aids no Brasil. O sucesso da
    representação brasileira foi total, pois o País conquistou um acordo histórico,
    ao obter apoio de inúmeras nações para forçar novas rodadas de negociação
    sobre os subsídios agrícolas e sobre o direito de quebra de patentes. Nesse contexto, o grande vencedor foi o ministro José
    Serra, que fez dobrar a espinha de grandes laboratórios internacionais
    representados no plenário da OMC. Outra luta de Brasil e Japão na OMC
    combate o protecionismo adotado pelos Estados Unidos, que, numa flagrante
    contradição, taxam suas importações enquanto exigem que o resto do mundo
    adote liberação total. Enquanto defendem com unhas e dentes a implantação
    da Alca, praticam acintosamente o antidumping, prejudicando quem deseja
    competir no mercado americano. O Fórum Econômico Mundial e o Centro de
    Desenvolvimento de Harvard lançaram recentemente um relatório sobre a
    competitividade mundial, cujo objetivo é fazer com que todos os países
    interpretem igualmente o conceito.  No
    referido estudo, adota-se a seguinte definição: “competitividade é a
    capacidade de um país atingir crescimento econômico sustentado a médio
    prazo.” Portanto, a luta da maioria dos 142 países membros da OMC por
    discussões objetivas, humanitárias e menos sectárias sobre os efeitos da
    globalização dos mercados finalmente aconteceu na 4ª Reunião
    Ministerial. Esse fato, importante para o Brasil, veio reforçar a tese
    defendida pelo SEESP no seminário sobre a Alca na Câmara Federal. Ou seja,
    que a área de livre comércio preconizada pelos americanos não pode ser um
    jogo de rico contra pobres, e sim um negócio do tipo “ganha-ganha”, que
    beneficie todos os países membros, inclusive o Brasil. Eng.
    Murilo Celso de Campos Pinheiro  |