As mensagens de ano novo,
repletas de votos auspiciosos, são gentis e demonstram o desejo que todos
temos de viver num mundo melhor. Contudo, soam irreais ou puramente
convencionais quando pensamos em como estão longe de se tornarem realidade.
Sem boas perspectivas de transformação da situação que
vivemos em 2001, terminamos o primeiro ano do novo século com a frustração
de muitos que sonhavam que milagres acompanhassem a chegada do milênio. Não
havia de fato razões para se acreditar que isso pudesse acontecer. Passagem
de ano, século e milênio é
um mero marco de uma contagem do tempo convencionada por uma determinada
civilização. Pouco melhores são os motivos dos que crêem na influência
dos astros e aguardavam a chegada da era de Aquário, quando o homem
desenvolveria toda a sua potencialidade espiritual. Há uma polêmica se já
estamos ou não na era de Aquário, mas nem as boas influências do cosmo
poderiam neutralizar descalabros cometidos por muitos governantes.
Quem quer que seja eleito em 2002 presidente do Brasil não dará solução
aos nossos problemas, pois para isso não basta um homem e um mandato.
Alguns de nossos problemas, como, por exemplo, a educação levarão décadas
de boa condução para serem resolvidos. Já não bastam também soluções
locais num mundo que só globaliza suas misérias e sofrimentos.
A água, que há poucos anos não era vista como problema, está ameaçada
de deixar de ser um bem público, passando a ser vendida por uns poucos
controladores privados a preços cada vez mais altos, tornando a vida um bem
acessível a apenas alguns.
O lixo produzido pelos países em melhor situação econômica contamina a
terra, o ar e a água do mundo todo. O crescimento econômico dos estados,
propugnado como equacionador das desigualdades, tarda a chegar, como vimos
nas duas últimas décadas. Não estamos vivendo uma crise, mas uma mudança
estrutural na economia mundial. Até mesmo o império norte-americano acaba
de admitir que entrou em recessão em março de 2001 — o que elimina relações
com o atentado de 11 de setembro. Nossa vizinha Argentina está em
“concordata” e sua falência iminente terá graves reflexos no Brasil.
Além de convidá-los à reflexão de todos esses problemas, o que podemos
nos desejar para 2002 que não pareça sonhador, utópico ou alienado? Que
sejamos capazes de não deixar que essas preocupações afetem nosso
cotidiano, nossos laços afetivos e nossa convivência no trabalho, com os
amigos e familiares. Que possamos manter a
tranqüilidade e agir tendo em mente que
um futuro melhor, ainda que distante, constrói-se a cada dia.
Eng. Maria Célia
Ribeiro Sapucahy
Coordenadora
do Conselho Editorial do SEESP
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