O PESO DA MOEDA |
O ano de 2002 teve início com dois fatos notáveis que explodem no cenário
internacional. O primeiro foi o lançamento do euro, adotado por 12 países
da Europa, em substituição às moedas nacionais, em alguns casos, símbolos
de poder e orgulho. Isso representa, para o mercado mundial, a consagração
da experiência do primeiro grande bloco de livre comércio, fortalecido com
a circulação de uma moeda única e forte. O segundo episódio, esse lamentável, foi o
desmoronamento da economia argentina após dez anos de seguidos fracassos,
devido a uma política econômica equivocada, ultraliberal, regida pela
paridade monetária e cambial (um peso = um dólar), realimentada por uma
elite empresarial e política que jamais se preocupou em saber se essa regra
seria suportável para o País. Os motivos que levaram a União Européia e a
Argentina a criarem uma moeda forte e competitiva são sobejamente
conhecidos e explicam, hoje, o porquê do sucesso em um caso e do fracasso
no outro. A União Européia nasceu em 1951 como “Comunidade Européia do
Carvão e do Ferro”, instituída pelo Tratado de Paris, unindo
comercialmente Alemanha, Bélgica,
França, Itália, Luxemburgo e Holanda. Ao longo de décadas, a elite
empresarial européia apostou em um projeto de unidade comercial
continental, como forma de garantir o seu espaço no comércio internacional
de bens e serviços. A União Européia de hoje congrega 15 países, dos
quais apenas três – Reino Unido, Dinamarca e Suécia – não aderiram
prontamente à adoção do euro. A justificativa para o desastre na Argentina é aquela
noticiada pela imprensa portenha. Após a falência sucessiva das economias
da Ásia, Rússia, México e Brasil, entre 1997 e 1999, o governo argentino,
pego por um impulso ultraliberal, pensando ter descoberto a pólvora,
apegou-se à conversibilidade peso/dólar, valorizando artificialmente a
moeda local, na tentativa de reconquistar sua combalida posição de liderança
na América Latina e no Mercosul. O tiro saiu pela culatra. Ministros
argentinos afirmavam que seu país tinha uma “moeda forte”, ao contrário
do Brasil, e boicotavam o empenho desta Nação em avançar na implantação
do Mercosul. O colapso financeiro não tardou a chegar. Quando a economia se
deteriora, não há moeda que suporte sua valorização paritária. Economia
forte, moeda forte. Economia fraca, moeda fraca. Após a elite política e
industrial se beneficiar da paridade peso/dólar, a nação foi devolvida à
sociedade com sua economia no fundo do poço, as instituições democráticas
destruídas e o conseqüente sofrimento do povo. Os dois exemplos ilustram bem o que deve ou não ser
feito. A partir de agora, Brasil e Argentina devem “fazer a lição de
casa” e, à imagem do feito na Europa, unir-se na conquista do Mercosul.
Nada acontece por acaso. A união faz a força, mas com economias e moedas
fortes e sem hipocrisia. Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro |