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     Se,
    em sua primeira edição, o Fórum
    Social Mundial ficou marcado pela influência majoritária das
    organizações não-governamentais, em 2002 
    houve forte presença do movimento sindical. Na manhã da
    quinta-feira, 31 de janeiro, aconteceu o Fórum Mundial do Trabalho e
    Sindicalismo, que atraiu representantes dos trabalhadores de todo o mundo,
    inclusive dos engenheiros de São Paulo. Eles lotaram o auditório do Hotel
    Continental, na região central de Porto Alegre, que ficou pequeno para
    todos. Com uma programação enxuta e sem grandes debates teóricos, a
    reunião expressou em muitas línguas um só anseio: é preciso construir um
    mundo mais justo, derrotando o neoliberalismo econômico. E dois consensos
    sobre como atingir essa meta: o sindicalismo tem um papel histórico a
    cumprir nessa luta e o FSM é, hoje, uma trincheira importante a partir da
    qual ela poderá ser travada.
    
     
     
    A posição foi expressa pelos representantes das organizações
    brasileiras CAT (Central Autônoma dos Trabalhadores), CGT (Confederação
    Geral dos Trabalhadores), CUT (Central Única dos Trabalhadores) e até da
    Força Sindical. Falaram ainda os porta-vozes da Clat (Central
    Latino-americana dos Trabalhadores), Orit (Organização Regional
    Interamericana do Trabalho), CES (Confederação Européia de Sindicatos),
    CMT (Confederação Mundial do Trabalho) e CIOSL (Confederação
    Internacional de Organizações Sindicais Livres).
    
     
     
    Também repetiram-se nas falas dos sindicalistas a preocupação com a
    política de ataque aos direitos dos trabalhadores e as inúmeras agressões
    e atentados a sindicalistas ocorridos, por exemplo, no Brasil, na Colômbia,
    na Venezuela e na Ásia. Como não poderia deixar de ser, a Argentina foi o
    grande exemplo do que pode fazer a uma nação o receituário do Fundo
    Monetário Internacional.
    
     
     
    Convidado de honra, o diretor geral da OIT (Organização Internacional do
    Trabalho), Juan Somavia, fez questão de afirmar o caráter democrático da
    instituição, assegurado “devido à participação dos sindicalistas. Ele
    afirmou ver no Fórum Social Mundial “as raízes de um grande movimento de
    cidadãos”. “É a reunião de muitas propostas, mas com um objetivo
    comum: uma globalização que respeite a dignidade humana. E já está claro
    que o neoliberalismo não responde à questão do trabalho e da proteção
    social”, asseverou.
    
     
     
    Análise
    
     
    O assessor sindical do SEESP, João Guilherme Vargas Neto, comemorou
    a realização do encontro. “Os posicionamentos foram ricos e ponderados,
    o que pode propiciar um documento unitário dessas organizações”,
    avaliou. Ele acredita ainda que essa articulação, proporcionada pelo
    Fórum Social Mundial, possa fortalecer as organizações dos trabalhadores
    e torná-las mais relevantes nos rumos do Planeta. “O velho sonho de Marx,
    da Internacional dos Trabalhadores, não pelo caminho dos comunistas,
    socialistas ou anarquistas, mas pelo do movimento sindical real, é
    factível.”
    
     
     
    Para ele, a participação dessas organizações favoreceu o próprio FSM.
    “As estruturas sindicais são infinitamente mais orgânicas que as das
    ONGs, embora essas últimas possam ser mais eficazes em termos de mídia ou
    de opinião pública. Assim, as bandeiras defendidas no Fórum podem
    efetivamente fluir por meio dos sindicatos.”
    
     
     
    CLT em pauta
    
     
    O movimento sindical brasileiro aproveitou também o FSM 2002 para
    discutir e condenar o  projeto
    de lei do Governo que altera o artigo 618 da CLT (Consolidação das Leis do
    Trabalho) e flexibiliza direitos, como férias e décimo terceiro salário.
    Aprovada na Câmara dos Deputados no final de 2001, a proposta aguarda
    votação no Senado, onde pode ser barrada.
    
     
     
    Numa plenária convocada pela CUT e realizada no dia 
    1º de fevereiro, no Parque Marinha do Brasil, foi aprovada a
    realização de uma greve nacional em 21 de março. “Nesse dia, iremos às
    ruas, organizaremos manifestações, marchas, pane-laços, não vamos perder
    nossos direitos”, assegurou o presidente da central, João Felício.
    Segundo ele, já está programado pelas mulheres da CUT, entre os dias 8 e
    21 de março, um ato em Brasília contra a perda da licença-maternidade.
    
     
     
    A cobertura do Jornal do Engenheiro
    no Fórum Social Mundial 2002 será publicada em edição especial, ainda em
    fevereiro.
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