ESCÂNDALO ENRON: A MÁSCAR CAIU

Ex-gigante mundial dos setores de energia elétrica e gás e sétima maior corporação dos Estados Unidos da América, a Enron implodiu em dezembro último e suas ações em bolsa viraram pó, após 15 anos de sua fundação. Quando da desregulamentação do mercado de energia nos EUA, foi  uma das empresas que mais se beneficiou e transformou-se numa das mais badaladas companhias norte-americanas, possuindo 21 mil empregados e com investimentos em 40 países, inclusive no Brasil.

A tradição capitalista americana de megainvestimentos, lastreados por pequenos, médios e grandes investidores compradores de ações, jamais colocou em dúvida a solidez econômico-financeira de uma Enron.

A euforia de expansão e sucesso da corporação induziu seus executivos, com respaldo dos acionistas, a relegar ao passado o modelo tradicional de gestão empresarial e experimentar uma “nova aventura” com outro modelo de investimento mais dinâmico e de maior risco, criando entre a companhia e seus investidores uma rede de “empresas parceiras”, que cruzavam negócios entre si e com a Enron. Isso a transformou numa perigosa e complexa estrutura a ser gerenciada, enredada por diversos interesses.

Porém, algo inesperado aconteceu, pois no ano 2000 a energia vendida no mercado atacadista subiu de US$ 32 para US$ 317, levando a empresa a um faturamento anual superior ao PIB (Produto Interno Bruto) de muitos países. Em 2001, com o advento da recessão americana, os preços da energia caíram significativamente, levando a Enron a acusar o golpe e declarar um prejuízo de US$ 638 milhões no terceiro trimestre do ano. Essa notícia caiu como uma bomba no já combalido mercado acionário de Nova York. Para piorar o inferno astral dos milhares de investidores em bolsa, a Securities and Exchange Commission, entidade fiscalizadora e reguladora do mercado financeiro americano, verificou que a empresa havia sido alvo de corrupção financeira e má gestão, sofrendo perdas acima de US$ 1,4 bilhão. O escândalo envolvia  desvio de US$ 1 bilhão por alguns de seus executivos e acobertamento de fraudes contábeis em parceria com uma prestigiada empresa de consultoria do mercado global.

No Brasil, os reflexos da falência da Enron atingiram uma empresa do setor elétrico paulista, a Elektro, e duas do setor de gás encanado do Rio de Janeiro, a CEG e a CEG-Rio, controladas pela multinacional. Para o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo, que representa uma categoria de profissionais culturalmente envolvida com a dedicação ao trabalho e o respeito ao patrimônio alheio, ficam duas lições. Em primeiro lugar, oportunistas e corruptos existem em toda parte , não só no Brasil, como chegou a insinuar o secretário do Tesouro Americano, Paul O’Neill, ao tentar justificar algumas dificuldades da economia nacional. Em segundo, tem-se que o sucesso empresarial de qualquer instituição, grande ou pequena, multinacional ou tupiniquim, não combina com a promiscuidade gerencial,  só acontece com competência, transparência, dedicação e muito trabalho.

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente do SEESP

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