Um
engenheiro e suas relíquias automotivas |
Aos
73 anos, Francisco Olavo Guimarães Peret, engenheiro civil graduado pela
Universidade Estadual do Paraná em 1954, dedica boa parte de seu tempo a
uma paixão fundamental: carros antigos. Ele é um ex-colecionador, que há
cerca de um ano e meio doou a um amigo o último de seus três automóveis
ingleses, um Armstrong Seddeley, modelo Station Coupé, 1946 – além
desse, teve ainda dois Riley, anos 1948 e 1952. “É gostoso ter um automóvel
desses, mas é preciso paciência, pois eles têm defeitos incríveis. Como
não entendo nada de mecânica, ficava difícil mantê-los e resolvi repassá-los.”
Apesar do acervo pouco numeroso, Peret era considerado um verdadeiro
colecionador, aquele que encontrava tais antigüidades, em geral em condições
precárias, e as fazia voltarem ao que eram quando estrearam nas ruas. O
interesse por carros começou ainda na infância, admirando e guiando os do
avô, um Chevrolet 1938 e um
Ford 1929. Na década de 60, comprou
o primeiro Riley. O Armstrong Seddeley foi descoberto num anúncio e buscado
no Rio de Janeiro, em Jacarepaguá. “Depois da guerra, as fábricas
mudavam um ou outro detalhe nos modelos, esse foi provavelmente o único
carro inteiramente novo em 1946”, conta entusiasmado. Trata-se de uma
caminhonete cabine dupla, da qual foram feitos 958 exemplares. Esse,
especificamente, foi vendido a uma australiana, de lá foi parar na África
e, de alguma maneira, chegou ao Brasil. A informação veio do clube dos
proprietários do Armstrong, do qual Peret é sócio, assim como do
equivalente do Riley. Formando
um mercado desenvolvido mais no exterior do que no Brasil, os automóveis
antigos têm preços bastante díspares. “Os meus, por exemplo, que eram
simples, não valem mais que R$ 1.000,00. Já um Jaguar, Rolls-Royce ou
Bentley podem custar até 200 mil libras”, explica o engenheiro. Um dos
mais caros é a Bugatti Royale, que chegou a ser negociada por US$ 5 milhões.
Foram fabricadas apenas seis, hoje atração principal nas exposições. A
coleção completa foi reunida por duas vezes, uma na Califórnia e outra em
Paris. Na segunda, em 1990, Peret esteve presente. “Isso foi memorável”,
assegura. Outro
programa fundamental para um amante dessas relíquias é o Museu Nacional do
Automóvel, em Mulhouse, na França, em que há cerca de 500 automóveis,
inclusive duas das Bugatti Royale (as demais estão no Japão e nos Estados
Unidos). Além do acervo magnífico, um atrativo a mais é a história do
lugar formado a partir da antiga coleção dos irmãos Schlumpf, mantida
para deleite próprio e que só era visitada por convidados. Apesar da
escassa freqüência, o local exibia o máximo do requinte e contava com
hotel, restaurante e até marca de champanhe próprios.
Para
com os carros a partir da década de 60, quando não são mais considerados
antigos, Peret guarda pouco apreço: “Os automóveis atuais são todos
iguais, não têm personalidade.” |