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       “Tio
      Sam”, dois pesos e duas medidas  | 
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     A
    política americana de salvaguardas do aço, anunciada recentemente pelo
    presidente George W. Bush, visando proteger a indústria americana do aço
    contra a competição estrangeira, foi recebida como um duro golpe nas
    pretensões dos países exportadores de aço. Tarifas variáveis de 8% a 30%
    representam barreiras comerciais e um encarecimento da tonelada de aço
    exportada, tornando inviável qualquer competição no mercado americano.
    Foram poupados desses encargos tarifários Canadá e México, parceiros dos
    EUA no Nafta (Acordo de Livre Comércio para a América do Norte), além de
    Argentina, Tailândia, Turquia e alguns países pobres. Essas barreiras tarifárias prejudicam sobremaneira o Brasil,
    União Européia, Japão, China, Rússia e Coréia do Sul, que
    historicamente exportam para os EUA. Alguns desses países, entre eles o
    Brasil, devem recorrer junto à OMC (Organização Mundial do Comércio)
    contra a decisão  contraditória
    de “mercado americano restrito para o aço”, o que não combina com a
    Alca (Área de Livre Comércio das Américas), pregada e imposta à América
    Latina como solução para o comércio global. No Brasil, a reação foi de
    total perplexidade, pois os EUA tiraram a máscara de defensores do livre
    comércio mundial. As tarifas hipócritas de Bush, protetoras do aço made
    in USA, tiveram um único objetivo: salvar da falência antigas siderúrgicas
    e indústrias americanas da Pensilvânia e Ohio, que garantiram sua eleição
    para a presidência. As siderúrgicas brasileiras que, nos últimos anos,
    investiram pesado na expansão do aço brasileiro para exportação ficaram
    preocupadas com uma possível redução no faturamento nos próximos anos e
    muito pouco podem fazer para reverter a decisão do Tio Sam. Além de se
    manter praticamente a mesma cota do ano passado – 2,5 mil toneladas –,
    os EUA impuseram taxas insuportáveis à exportação do aço brasileiro.
    Infelizmente, o mundo econômico é excessivamente dependente da economia
    americana e nem Europa e Japão conseguem minimizar as conseqüências, pois
    quem fala mais alto é o dólar. Apesar de o aço brasileiro ser considerado
    de primeira qualidade no mercado mundial e ser produzido pela engenharia
    nacional a custo menor que o dos americanos, não é isso que vale mais.
    Esse tema, que tem tudo a ver com o comércio exterior, remete-nos a uma
    reflexão sobre a possibilidade de inserção do Brasil na Alca, assunto que
    o SEESP já discutiu em Brasília, em seminário promovido pela Câmara dos
    Deputados. Diante de um cenário contraditório, no qual os EUA 
    propugnam pela criação da Alca e, simultaneamente, criam barreiras
    e salvaguardas alfandegárias, dificultando a entrada do aço estrangeiro no
    mercado americano, fica a dúvida cruel para os engenheiros brasileiros
    sobre o que significa área de livre comércio para o Governo dos EUA. Livre
    para quem? Só para eles? Eng.
    Murilo Celso de Campos Pinheiro  |