Engenharia
nacional, dos primórdios aos dias atuais |
A
partir desta edição, o Jornal do
Engenheiro se propõe a contar a história da engenharia no Brasil,
obviamente sem o devido aprofundamento, dadas as suas limitações, em
especial no que se refere a espaço. Para inaugurar essa seção com chave
de ouro, entrevistou o professor Milton Vargas (leia quadro), que narra os
primórdios da profissão no País. Segundo seu relato, durante o período
colonial, as técnicas utilizadas eram medievais e empíricas. “As obras
foram feitas à base de aprendizado prático, a partir de mestres, padres
construtores ou engenheiros militares portugueses, geralmente não versados
em teorias científicas.” Conforme Vargas, somente no século XIX, com a
transformação dos engenhos movidos a rodas d’água em usinas a vapor,
pode-se afirmar que houve uma contribuição tecnológica na indústria do açúcar,
mas ainda assim incorporada apenas a equipamentos importados. De
acordo com o professor, data do início daquele século a chegada ao Brasil
da ciência moderna, criada no século XVII na Europa. A engenharia era
ainda bastante ligada aos militares e a formação, instituída aqui pelo
Marquês de Pombal como parte da reorganização do exército português,
possivelmente precária. Apesar disso, os engenheiros militares são autores
de grandes obras.
Esse
surgimento acompanha, conforme o professor, a evolução das construções
de edifícios e pontes no País, em concreto armado, já no início do século
XX, o que vem a exigir não apenas cálculos matemáticos, como controle
tecnológico. Tal incremento, que ganhou vulto com a industrialização,
estende-se até a 2ª Guerra Mundial. “E em 1938 o IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas) desenvolveu, com a orientação do engenheiro Odair
Grillo, que tinha vindo dos Estados Unidos, um equipamento de sondagens
adaptado para investigação de solos e fundações em engenharia civil. A
primeira grande obra em que se empregou intensivamente mecânica dos solos
foi a construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, em 1940, com a
orientação do IPT.” Antes,
no Império e na República Velha, as construções e projetos de estradas
de ferro e de portos – como os de Santos e do Rio de Janeiro –, necessários
com a exportação de café, foram a principal atividade da engenharia
brasileira. “E aproximadamente em 1920 teve início a construção de
estradas de rodagem.”
Esse
período foi coroado com uma obra máxima da engenharia brasileira: a
construção da cidade de Brasília, durante o Governo Kubitschek
(1951-1961). Segundo Vargas, essa contribuiu ao incremento da rede de
rodovias federais pavimentadas, o que modificou a geografia de transportes
do País. “Porém, a integração nacional só se reforçou
consideravelmente quando estabeleceu-se aqui uma rede de telecomunicações
totalmente brasileira.” A
ampla infra-estrutura no País propiciou desenvolvimento industrial e agrícola
nos anos 70. “Tal época é das grandes conquistas tecnológicas, como a
descoberta pela Petrobrás da Bacia de Campos e a exploração do petróleo
em águas profundas, e das gigantescas realizações no campo da
hidreletricidade, de Itaipu e Tucuruí. Mas é também a dos grandes
fracassos da energia nuclear e da indústria de armamentos.” Apesar disso
e das crises que afetam a engenharia nacional, seu enorme potencial é, para
Vargas, a herança deixada por quase 200 anos de história. |
Quem
é Milton Vargas |
Engenheiro
civil e eletricista, aos 88 anos é profissional atuante. Sócio na empresa
Themag Engenharia, é professor catedrático aposentado da Escola Politécnica
da USP e emérito na instituição. Participa do Centro Interunidade de História
da Ciência da USP, é membro fundador do Instituto Brasileiro de Filosofia
e pertence à Academia Paulista de Letras. |