Transporte pode ter verba da União em 2003

A destinação de recursos provenientes da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) ao transporte público urbano metropolitano pode se tornar realidade já a partir de 2003. Está prevista a votação do Projeto de Lei 6.770/02  na Câmara dos Deputados ainda neste ano. Esse regulamenta a Cide – instituída em dezembro de 2001 e cobrada sobre combustíveis desde o início de 2002 – e determina a criação do FNIT (Fundo Nacional de Infra-Estrutura de Transportes). Com isso, designa no mínimo 25% de seus recursos ao setor.

O compromisso de colocá-lo em votação tão logo fosse desobstruída a pauta foi firmado pelo presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), durante encontro com representantes do GAT (Grupo de Ação Pró-Transporte), formado por diversas entidades, no início de novembro. Ele acrescenta: “Temos vários projetos importantes prontos para ser votados, mas entendi que o novo governo deveria indicar quais eram as suas prioridades. Não temos a pretensão de colocar uma agenda extensa num prazo muito curto, duas ou três semanas no máximo. Precisamos focar em projetos que permitam ao Presidente Lula assumir o governo com mais tranqüilidade, como a aprovação do Orçamento de 2003. Está nesse rol de projetos indicados pelo líder do PT a aprovação da Cide. Essa é uma matéria de interesse de todos.” Quanto ao PL 6.770/02 ser votado no Senado ainda neste ano, caso aprovado na Câmara, Aécio Neves afirma ser possível. “É preciso, no entanto, que haja consenso das lideranças, nas duas casas.”


Mobilização
O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, alerta: “Precisamos lutar, pois a vitória não será tranqüila. É necessário realizar um trabalho junto aos deputados, porque alguns deles priorizam a questão rodoviária e não enxergam a importância do transporte público nas regiões metropolitanas para o Brasil.” Laerte Conceição Mathias de Oliveira, diretor do SEESP e membro do GAT, ressalta: “O grupo continua atuando para garantir o mínimo de 25% de recursos do FNIT à área de transporte urbano.”

Apesar de cientes de que será necessário empenho para assegurar tal verba, as entidades do segmento estão otimistas. A tendência é que parlamentares de diversos partidos e localidades posicionem-se favoravelmente. Existe orientação do Governo do Estado de São Paulo para que sua bancada vote pela aprovação do Projeto de Lei 6.770/02. “Como as outras unidades da Federação, Minas Gerais tem todo o interesse na aprovação da proposta”, garante ainda Aécio Neves, eleito para administrar nos próximos quatro anos aquele estado. Além disso, a proposta conta com o apoio da Frente Nacional de Prefeitos e dos fóruns nacionais de secretários estaduais, municipais e metropolitanos de transporte, que comprometeram-se a envolver os governadores e suas bancadas federais na questão.


Programa de governo
A expectativa positiva é alimentada também por estar inserido o assunto no programa de governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. O caderno temático “Transportes: Desenvolvimento e Mobilidade para o Brasil” diz textualmente que a política federal de verbas ao setor terá como eixo a garantia de recursos da Cide aos transportes públicos.

O secretário Fernandes salienta os benefícios de tal destinação: “Com a regulamentação da Cide, a previsão é que seja possível a arrecadação de R$ 8 bilhões por ano, dos quais R$ 2 bilhões poderão ser aplicados em transportes urbanos, contribuindo para a solução do grave problema de mobilidade nas nossas cidades, principalmente nas regiões metropolitanas.”

A perspectiva é de investimento à expansão e melhoria do transporte público. Em São Paulo, o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, lembrou ser bandeira da entidade o incremento e aperfeiçoamento do sistema metroferroviário à solução da crise.

Para obter a verba, os estados e municípios terão que fazer a sua parte. Conforme o programa de governo do Lula, deve-se condicionar o acesso a esses recursos à constituição por parte deles de “fundos com recursos próprios” e à elaboração de “programas de redução do uso dos automóveis; ao incremento dos modos não-motorizados e coletivos, à adequação do sistema de transporte ao acesso universal e à garantia de controle social”.

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