O salão da Paróquia São José Operário, na Vila Itaim, zona leste da capital paulista, estava cheio na manhã de sábado (6/8). Os moradores locais estavam curiosos para saber quem eram aquelas pessoas que se apresentavam a elas com um projeto para o bairro. O lugar foi escolhido para o lançamento da publicação do Projeto Cresce Brasil Itaim Paulista justamente para aproximar população e integrantes do Núcleo Jovem Engenheiro, idealizador do projeto. Com tiragem de mil exemplares, a publicação foi distribuída aos presentes e membros de associações de bairro local para formalizar a participação e início da atuação do Núcleo Jovem Engenheiro no local.
Foto: Beatriz Arruda/Imprensa SEESP
Salão da Paróquia São José Operário durante lançamento do Cresce Brasil Itaim Paulista
A dona de casa Marcia de Fátima Pereira, moradora do Jardim Romano há 25 anos, era uma dessas pessoas. Ela contou que está no movimento por moradia há mais de 20 anos e integra o Conselho Participativo e o Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Tietê. Além disso, juntamente com vizinhos, ajudou a criar a Associação dos Moradores do Jardim Romano (Ajamar). Marcia Pereira sofreu na pele o problema das enchentes que assolam a região, principalmente nos anos de 1988, 1996 e 1997, quando teve sua casa inundada. “Em 1988, quando comprei o terreno para construir, foi um dos momentos mais difíceis, quando descobrimos que o lugar inundava e vimos nossa casa com um metro de água. Ali foi uma situação que a gente chorou”, recordou.
Atualmente, ela o marido e o filho conseguiram elevar o nível da casa e, com a construção de um dique no bairro, não sofrem mais com as enchentes. “Hoje temos agua , esgoto, asfalto, energia elétrica, tudo regularizado”, contou. Mas, para ela, a luta só termina quando todos estiverem a salvo. “A principal reivindicação do Jardim Romano é a regularização fundiária. Já saíram 1.119 encaminhamentos para legalização fundiária e tem sete na espera. Outra conquista foi manter mais famílias no bairro. Existia um plano do governo de retirar 850 famílias do Jardim Romano. No entanto, após pressão nossa, o número reduziu para 350”, contou Marcia Pereira, logo após a cerimônia de lançamento do projeto, enfatizando a importância dessa nova força que vem se somar à luta pela melhoria da qualidade de vida no extremo leste da cidade.
Ela reconheceu que não sabia o que seria dito naquela manhã, mas que, ao tomar conhecimento, gostou do que viu. “O bairro tem muitas organizações de moradores. Viemos para entender melhor e ficamos surpresos com a disponibilidade desses jovens. Afinal, uma andorinha só não faz verão, mas juntos, com mais gente se somando, somos mais fortes. Os jovens são o nosso futuro”, exclamou.
A comunicação e a confiança foram aspectos enfatizados pelo professor Marcelo Barroso, do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), que compôs a mesa do evento. “É importante que a gente possa estabelecer cada vez mais essa confiança. A população precisa construir junto essas soluções e para isso é preciso que as partes confiem umas nas outras. Projetos e soluções técnicas têm muitos, mas é preciso estabelecer e manter essa relação de confiança para viabilizar e implantar as propostas. Por isso, é importante ampliar a comunicação entre os envolvidos”, destacou.
Quem também fez parte da mesa foi o presidente do SEESP, Murilo Pinheiro, que ficou impressionado com o engajamento dos jovens e o nível de interesse da população na iniciativa. Para ele, são ações como essa que contribuem para a construção de uma nova cultura na política.
“Estamos depositando nossa esperança e confiança nesses jovens. Acreditamos que é possível envolver os jovens na politica brasileira na busca de um conjunto de soluções para questões sociais. É preciso criar uma nova cultura na política, mais inclusiva, com projetos como esse, empregando nossa inteligência”, afirmou Pinheiro, lembrando que as soluções encontradas não requerem muitos recursos financeiros. “As propostas de resoluções nem são tão caras assim, como pensávamos. Na verdade, ela é cara no sentido da realização, no sentido de estar disponível para as questões da coletividade”, completou.
Pinheiro lembrou, ainda, que o lançamento desse projeto é um marco para o Núcleo Jovem de atuação conjunta também em outras regiões: “Mas, primeiramente, temos que construir tijolo por tijolo. Temos que obter um resultado positivo no Itaim, contribuindo efetivamente para o bairro”. Outro ponto destacado pelo presidente do SEESP foi a importância de saber qual o papel das organizações da sociedade e do poder público. “Nós não somos parte de um órgão da prefeitura, ou do estado, que vem discutir questões de responsabilidade do poder publico. Estamos como órgão voluntário. Viemos para nos aproximar de vocês, através do Núcleo Jovem, para discutir saídas técnicas sobre as questões das enchentes", frisou.
Pinheiro também deixou claro que não há intenção política partidária. “Não há participação nossa em qualquer governo, não existe intenção partidária dentro do nosso sindicato, que discute questões da comunidade, da engenharia , da tecnologia, contribuindo para uma cidade melhor. Por isso conte com nossa cidade para um Brasil melhor, uma cidade melhor, um bairro melhor”, concluiu.
Já a coordenadora do Núcleo Jovem, Marcellie Dessimoni, contou as soluções apontadas para o local, após as diversas etapas que passaram os voluntários. "Primeiro estivemos aqui conversando com vocês. Depois, estudamos o bairro sob a perspectiva da engenharia. Identificamos os projetos de engenharia que estão sendo realizados por órgãos públicos – do Estado e da Prefeitura. Então percebemos que a necessidade dos moradores não era a realização de um projeto de engenharia. que já existe. Mas, diante do tempo que o projeto levará, cerca de 10 anos, pensamos: e até lá, a população vai continuar sofrendo?", indagou Dessimoni aos presentes.
Em seguida, anunciou algumas das propostas como a criação de um aplicativo para melhorar a comunicação dos moradores com os órgãos públicos e entre si. "Sentimos a necessidade de vocês estarem conectados quando as ruas começam a inundar. Daí chegamos a proposta de desenvolver uma aplicativo para o celular que vocês possam acionar diretamente a defesa civil, subprefeitura, com avisos sobre chuvas e possíveis enchentes. Não é uma solução, mas vai minimizar o sofrimento. Além da comunicação, sentimos falta de uma atuação educacional para conscientizar crianças e jovens a partir de cartilhas educativas e feiras com a vinda de especialistas, debatendo a destinação correta dos resíduos, por exemplo", disse a coordenadora, que é engenheira ambiental.
A criação de mais ecopontos na região também consta no conjunto de propostas. De acordo com levantamento realizado pelos jovens, existe somente um ecoponto na região que, segundo com dados da Subprefeitura do distrito de Itaim Paulista – extraídos do Censo 2000 do IBGE - , a compreende uma área de 21,7 quilômetros quadrados, com uma população 359 mil e 215 habitantes – incluindo o distrito de Vila Curuçá.
Também estiveram presentes na mesa os diretores do SEESP Celso Renato de Souza - também integrante do Núcleo - e Edilson Reis; e Santiago Gonçalves, estudante de Engenharia Civil, integrante do Núcleo.
"O Projeto Cresce Brasil é uma iniciativa da Federação nacional dos Engenheiros, a FNE, e sempre com foco em propostas estruturantes para o país, na área da engenharia. A iniciativa dos jovens é a primeira vez que leva o Cresce Brasil para um bairro específico. Será uma grande experiência", comentou Edilson Reis.
Deborah Moreira
Imprensa SEESP
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