Comunicação SEESP*
A audiência pública realizada na Câmara Municipal de São José dos Campos nesta segunda-feira (20/8), organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos da cidade e o Ministério Público do Trabalho, colocou em debate o prejuízo que pode significar a venda da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) para a americana Boeing.
Rafael de Araújo Gomes, da Procuradoria do Trabalho Municipal de Araraquara, lembrou no ensejo que há muita desinformação sobre o assunto. Ele demonstrou que o modelo de negociação em curso não é um joint venture - acordo entre duas ou mais empresas que estabelece alianças estratégicas, com um objetivo comercial comum, por tempo determinado -, como vem sendo divulgado. “Isso não corresponde à realidade”, afirmou e, lendo o comunicado das companhias aos investidores, continuou: “A Boeing terá o controle operacional de gestão da nova empresa, que responderá diretamente ao CEO, seu presidente mundial.” “Se tiver uma condução errada de algo, quem é da Embraer não poderá fazer nada”, ressaltou Maria Célia Ribeiro Sapucahy, diretora do SEESP, presente à audiência.
Nesse sentido, os especialistas Marcos Barbieri, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Roberto Bernardes, da Universidade de São Paulo (USP), colocaram em debate a grande possibilidade de a tecnologia e atividade econômica geradas pela empresa brasileira migrarem do País. Para Sapucahy, é uma perda imensurável. “As tecnologias desenvolvidas para uma aeronave se transformam em tecnologia para diversas outras áreas e processos. Além de ser uma questão de soberania”, apontou a engenheira.
“Todos os países que possuem empresas desse porte não abrem mão delas, pois são geradoras de ciência e tecnologia”, argumentou a vice-presidente da Delegacia Sindical do SEESP em São José dos Campos, Rozana Nogueira. Ela enfatizou que a venda pode agravar a situação de desemprego nacional. Além disso, “valores de tributos e salários podem sair de circulação da economia”. “Se isso já é ruim para o Brasil, para a cidade e região será um tsunami”, alertou Nogueira.
Sem crise
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região e trabalhador da Embraer, Hebert Claros, ressaltou que, ao contrário que muitos pensam, a empresa não está em crise.
“Ontem (dia 19/8), a Embraer completou 49 anos e vive um de seus melhores momentos, como já disse o próprio presidente da empresa. Então, por que estão querendo vendê-la? Por um único motivo: para atender aos interesses dos donos da Embraer. Mais de 70% das ações são de estrangeiros. A empresa está sendo vendida para atender bancos americanos”, afirmou.
Herbert também trouxe para a audiência uma informação divulgada pela imprensa norte-americana. Em entrevista, o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, afirmou que a empresa brasileira poderá contribuir para o fornecimento de trens de pouso e interiores de um novo avião planejado pela Boeing, o MMA. Na visão do sindicato dos metalúrgicos da região, a Embraer vai se resumir a uma fabricante de peças.
>>> A audiência foi transmitida online na fanpage do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e pode ser conferida aqui.
>>> Leia também a matéria de capa do Jornal do Engenheiro, edição agosto, sobre a necessidade de barrar a venda da Embraer.
*Com informações do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região.
e a tecnologia. em todas as áreas.Não fabricamos, apenas montamos veículos automotores, exportamos café e importamos café em pó, deixando o valor agregado no exterior. E um setor que nos coloca num ponto importante, a tecnologia da aeronáutica caminha para a internacionaliz ação, com o controle de uma empresa estrangeira. Até quando ficaremos assim, dependendo de decisões de interesses econômicos que deixam de lado os interesses brasileiros?