Décadas dedicadas ao estudo das plantas medicinais

A fitoterapia remonta à época em que o homem percebeu que poderia se servir da natureza. A literatura conhecida a seu respeito data de pelo menos 300 anos. Desde então, procura-se entender e catalogar o poder curativo das plantas.

Esses medicamentos, que entraram em voga mais recentemente, já foram reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde, que já nos anos 70 recomendou sua utilização. Porém, bem antes que o tema entrasse na moda, o agrônomo e professor emérito da Esalq (Escola de Agronomia Luiz de Queiroz), Walter Acorsi, dedicava-se a estudar as plantas. Completando 90 anos em outubro próximo, ele passou os últimos 20 pesquisando o assunto e recomendando tratamentos às pessoas que o procuram no seu laboratório de plantas medicinais, construído pela faculdade quando se aposentou em 1982. Os atendimentos são gratuitos e os interessados devem levar o diagnóstico já feito pelo médico.

Diante da infinidade de ervas, limitou-se a cerca de 30, com as quais, afirma, consegue os tratamentos necessários à saúde humana. Segundo ele, “a planta, à luz da fitoterapia, é um conjunto de laboratórios fitoquímicos, que elaboram ou sintetizam compostos orgânicos complexos, chamados princípios ou substâncias ativas”. Cada um desses, ensina, tem propriedades farmacológicas bem determinadas: são calmantes, excitantes, cicatrizantes, diuréticos ou os famosos  afrodisíacos.  “A soma de todas essas ações dá a saúde ao paciente”, afirma.


Câncer
Acorsi conheceu há cerca de 30 anos o ipê roxo ou pau d’arco, como é chamado na Bahia. O chá feito da casca, conta, já teve resultados positivos no tratamento de câncer. Para a doença, hoje ele recomenda também tratamentos à base de confrei, babosa e espinheira santa. “Os princípios ativos combatem a dor, a infecção e os tumores”, afirma.

Acorsi acredita no futuro da fitoterapia, que está se expandindo. “Trata-se de ciência, não de especulação. A babosa, por exemplo, já se sabe, tem 56 aplicações terapêuticas, entre elas à esclerose múltipla, além do câncer.” Para ele, o papel do cientista, que deve se servir da cultura popular, é complementar esse conhecimento prático, demonstrando como o medicamento funciona. “Quando o homem conhecer botanicamente todas as plantas do mundo, assim como seus princípios ativos, não haverá uma doença que não tenha cura”, aposta.


Conhecimento
Vantagem valiosa dos fitoterápicos, segundo Acorsi, é a ausência de contra-indicações e efeitos colaterais. Isso, ressalva ele, desde que se usem as medicinais, não as tóxicas.

Também fundamental para a correta utilização das plantas é conhecer a influência do ambiente ecológico em que é cultivada. Aí entra o papel do engenheiro agrônomo, que é o profissional apto a identificar solo, clima, temperatura, altitude, luminosidade, horário da colheita, secagem e tudo que interfere na vegetação. “É preciso saber como esses fatores vão influenciar a ação fitoterápica e quais as melhores condições para cada espécie”, informa Acorsi.

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