Crise
do emprego é herança neoliberal |
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O próximo presidente do Brasil terá o enorme desafio de
enfrentar a “mais grave crise do emprego da história do Brasil
republicano”. O cenário preocupante é apresentado pelo economista e
secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São
Paulo, Márcio Pochmann, como herança da política neoliberal nefasta
iniciada no Governo Collor e intensificada nos últimos oito anos. Um dos autores do livro “Era FHC, a regressão do
trabalho” – também escrito pelo jornalista Altamiro Borges, publicado
pelo CES (Centro de Estudos Sindicais) e lançado no SEESP no dia 30 de
agosto –, Pochmann alerta que “em janeiro do ano que vem, na posse do
futuro presidente, o Brasil possivelmente terá em torno de 12,5 milhões de
desempregados”. Com a agravante que, conforme ele, nos próximos quatro
anos, estarão ingressando no mercado de trabalho 6 milhões de pessoas.
“Isso significa que, para entregar o País com cerca de 2 milhões de
desempregados, o mesmo número de 1989, último ano do Governo Sarney, será
preciso gerar em torno de 16,5 milhões de postos de trabalho. Nem nos anos
70 se criaram tantos.” Na sua visão, tal panorama implica que estudiosos,
sindicatos, aqueles que estão preocupados com a questão reflitam que
apenas o crescimento econômico não será suficiente para resolver o
problema do desemprego. “Não vejo outra possibilidade senão a transformação
substancial das políticas voltadas para o trabalho, o que exige nova regulação.” Diante de tamanha desvalorização, de acordo com o secretário,
não há segmento social imune ao desemprego. “Inclusive esse tem crescido
mais entre os de maior escolaridade e está concentrado sobre jovens e
pessoas com 40 anos ou mais de idade. Na cidade de São Paulo, por exemplo,
temos mais desempregados de nível universitário do que analfabetos.” Os
engenheiros não foram poupados. Ao contrário, foram violentamente
atingidos pelas medidas governamentais de abertura comercial, flexibilização
e as privatizações que eliminaram milhares de postos de trabalho. Segundo o secretário, como conseqüência do forte desemprego
e a ausência de rede de proteção social adequada no País, houve o
incremento do trabalho informal e até do crime organizado. Sustentáculo
político O secretário demonstra ainda que, em decorrência dessa
vulnerabilidade e cabendo elevar os rendimentos via negociação coletiva,
com a desindexação salarial promovida pelo Governo FHC, houve piora na
distribuição de renda e aumento da desigualdade social. Dessa forma,
comprova a falácia dos argumentos usados para justificar a implementação
do modelo econômico neoliberal, um deles de que serviria para reverter o
processo de concentração de renda. No contexto atual, a qualificação se mostra insuficiente.
Conforme escreve Pochmann, “em primeiro lugar porque a natureza do
desemprego assenta-se no fato de o capitalismo brasileiro viver a sua maior
crise. E em segundo porque não há perspectivas positivas de que o País
volte a dinamizar suas forças produtivas de forma sustentada no tempo”.
Ele continua: “Há uma armadilha em curso que impede o Brasil de crescer,
ainda que necessite, pois não tem capacidade, na atual conjuntura, de
dispor de crédito interno, dependendo dos recursos externos, que exigem
altas taxas de juros e inviabilizam a onda de investimentos produtivos.”
Para Altamiro Borges, portanto, não há alternativa de valorização do
trabalho sem se modificar o atual modelo econômico. “Ou se rompe com essa
vulnerabilidade e dependência externa, com essa lógica do mercado
financeiro, ou não será possível gerar crescimento com distribuição de
renda no Brasil.” |
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