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    próximo dia 27, os brasileiros, entre eles cerca de 416 mil engenheiros,
    voltam às urnas para dizer, definitivamente, qual projeto desejam ver
    implantado no País. Em entrevista por e-mail ao Jornal do
    Engenheiro, os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra falam
    sobre seus planos para a área de Ciência & Tecnologia, como criar
    empregos para a categoria e o papel que reservam ao movimento sindical.
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     Coligação:  
    Lula Presidente (PT/PCdoB/PL/PMN/PCB)
    
     
    Vice: 
    José Alencar (PL)
    
     
    Votação
    no primeiro turno: 39.443.765 (46,4%)
    
     
    Site: 
    www.lula.org.br
    
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     JE: O
    que está previsto para a área de Ciência & Tecnologia em seu
    governo?
    
     
    Lula: Há uma necessidade
    evidente de se ter uma política industrial, de desenvolvimento, articulada
    com a de ciência e tecnologia. Mas esse setor não se restringe à questão
    da produção e da produtividade econômicas, como querem os neoliberais. É
    importante uma articulação da política de ciência e tecnologia com a
    questão educacional mais ampla, em todos os níveis, já que cultura, ciência
    e educação caminham juntas. Realmente falta uma política de ciência e
    tecnologia mais moderna, desenvolvida. Centros de excelência como o ITA
    (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e o Inpe (Instituto Nacional de
    Pesquisas Espaciais) também têm que ser valorizados. São institutos que
    possuem técnicos da mais alta competência, que são muito competitivos no
    mercado internacional. Acho que devemos dar suporte a eles, porque hoje em
    dia a capacidade humana e a qualificação tecnológica são as maiores
    riquezas que um país pode ter. Sem esses técnicos nós não podemos nem
    absorver as inovações tecnológicas, nem adaptá-las às nossas
    necessidades específicas.
    
     
     
    JE: No seu programa de governo, consta a
    criação de milhões de empregos. Entre esses, estão previstos novos
    postos para os engenheiros? Como eles serão gerados, em que setores?
    
     
    Lula:
    Em primeiro lugar, quero dizer que criar empregos será a minha obsessão
    nos próximos quatro anos. Assumi esse compromisso ao lançar em Brasília o
    nosso programa de governo, juntamente com o primeiro caderno temático
    “Mais e Melhores Empregos 2002”. 
    
     
     
    O Brasil
    precisa de pelo menos o dobro de crescimento para gerar os empregos e a
    renda necessários tanto à classe média quanto às camadas populares. O País
    tem que criar 10 milhões de empregos. Vamos estimular a geração de
    empregos em vários setores da economia. Na agricultura, uma reforma agrária
    negociada e pacífica e uma política de fortalecimento da agricultura
    familiar vão melhorar muito as condições de vida da população rural.
    Também vamos incentivar a habitação popular e investir na construção
    civil, setor que poderá gerar cerca de 3,5 milhões de empregos diretos e
    2,2 milhões de empregos indiretos. Outro ponto importante é recuperar a
    infra-estrutura nas áreas de transportes, portos, energia elétrica e
    saneamento básico e os investimentos públicos nesses setores, aliados ao
    estímulo de investimentos privados, contribuirão de modo decisivo para o
    crescimento da economia e geração de empregos. As pequenas empresas são
    as que mais geram empregos no Brasil e no nosso governo terão uma atenção
    especial.  
     
    Vamos estimular novas iniciativas, abrindo linhas de crédito acessíveis a
    quem tiver vontade de investir. E, por último, não poderia deixar de citar
    o enorme potencial para a ampliação da indústria turística em nosso país
    e a geração de emprego e renda nesse setor.
    
     
     
    JE: Que papel será
    reservado ao movimento sindical em seu governo? 
    Lula: Rever a atual estrutura
    sindical é uma das prioridades do projeto de Reforma Trabalhista que
    defendemos. Não é possível transformar as relações de trabalho sem
    liberdade sindical. Mais do que estabelecer uma legislação sobre direitos
    mínimos, o equilíbrio nas relações de trabalho requer sindicatos livres,
    autônomos, representativos e independentes, tanto de empregadores quanto de
    trabalhadores. Estamos propondo, para o nosso primeiro ano de governo, a
    criação de um Fórum Nacional do Trabalho, que ficará responsável por
    propor alterações na CLT. Queremos com isso melhorar a qualidade do
    emprego e promover um processo de formalização do trabalho.
    
     
     
    JE: Que encaminhamento será dado à
    proposta de flexibilização das relações de trabalho, prevista na alteração
    da CLT, hoje em discussão no Congresso Nacional?
    
     
    Lula:
    Defendemos mudanças na CLT, mas não uma reforma como essa que o Governo
    quer impor. Precisamos da constituição de um código mínimo de trabalho,
    que garanta os direitos fundamentais, a partir do qual cada categoria possa
    conquistar maiores benefícios. Um governo democrático e popular vai
    discutir as reformas das leis trabalhistas nos primeiros seis meses de
    mandato.
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     Coligação:  
    Grande Aliança (PSDB/PMDB)
    
     
    Vice:  
    Rita Camata (PMDB)
    
     
    Votação
    no primeiro turno: 19.700.395 (23,2%)
    
     
    Site:  
    www.joseserra.org.br
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     JE: O que está
    previsto para a área de Ciência & Tecnologia em seu governo?
    
     
    Serra: Uma questão central é
    a interação universidade-empresa. Foi criado pelo atual Governo o Fundo de
    Interação Universidade-Empresa para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
    muito mais conhecido como Fundo Verde-Amarelo, o qual também permite
    incentivar diretamente o capital de risco.
    
     
     
    Para avançar nessa área, é preciso superar os gargalos institucionais que
    ainda dificultam a consolidação de um sistema nacional de inovação e
    limitam a ação governamental no fortalecimento das interfaces entre setor
    público e setor privado. A Lei da Inovação, a ser examinada pelo
    Congresso Nacional, foca a sua atenção nas mudanças institucionais
    importantes, no sentido de maior agilidade e flexibilidade das instituições
    de pesquisa públicas, abrindo novas oportunidades de cooperação com o
    setor privado. 
    
     
     
    A Lei da Inovação permitirá ir além, inclusive em termos de novos
    arranjos institucionais. Os fundos setoriais, assim como a MP 66 de
    Incentivos Fiscais, de modo geral ampliam o leque de instrumentos que poderão
    ser utilizados. Mas já há exemplos concretos a seguir. Um é o Projeto
    Genolyptus, lançado em 2001. São 12 empresas, sete universidades e três
    centros da Embrapa. É uma rede que seria impossível de ser feita apenas
    com um ou outro ator. É uma das maiores redes de pesquisa sobre eucalipto
    no mundo. Ela pressupõe mobilizar toda a competência existente –
    universidades, empresas e institutos de pesquisa – para aumentar a
    competitividade da indústria. 
     
    O avanço no desenvolvimento científico e tecnológico deve se fazer também
    a partir de projetos mobilizadores e estratégicos.
    
     
     
    O Proálcool é um exemplo do passado de mobilização público-privada
    semelhante. Novos exemplos são: a fruticultura irrigada; a pecuária de
    corte; a introdução de algodão colorido e/ou transgênico; a introdução
    de novos materiais na siderurgia e no setor automotivo; a produção de
    vacinas.
    
     
     
    JE: Entre os milhões de empregos
    previstos em seu programa de governo, há novos postos para os engenheiros? 
    Serra: Vamos trabalhar tendo
    como meta criar 8 milhões de empregos. Naturalmente, não temos no programa
    de governo previsões detalhadas ou específicas sobre quantos desses novos
    postos serão para engenheiros. Mas a retomada do crescimento econômico
    como um todo e os setores que vamos priorizar, na produção e no emprego,
    apontam para um aumento da demanda por esses profissionais. Vamos investir
    na agricultura irrigada e na consolidação dos assentamentos da reforma agrária,
    por exemplo, para criar 3 milhões de empregos na agropecuária. Elegemos
    também como prioritário o setor da construção civil, pela sua enorme
    capacidade de absorção de mão-de-obra. O setor de turismo será
    dinamizado, o que inclui a implantação de novos pólos e de
    infra-estrutura hoteleira e de transportes. Além disso, vamos acelerar a
    construção e a duplicação de rodovias, a integração da malha ferroviária,
    a melhoria dos portos e a implantação de hidrovias. A dinamização desses
    setores, obviamente, exige o concurso dos profissionais de engenharia.
    
     
     
    Na área de engenharia industrial e de produção, o mercado de trabalho
    certamente também será expandido pela prioridade que daremos às exportações
    e à substituição de importações. Essa orientação implica a busca de
    maior competitividade na indústria e nos serviços. 
     
    JE: Que papel será reservado ao
    movimento sindical em seu governo? 
    Serra: Os sindicatos terão um
    papel relevante, seguramente. Defendo mudanças na legislação trabalhista
    para fortalecer o poder de negociação e a autonomia dos sindicatos e
    ampliar os contratos coletivos de trabalho. Além disso, considero que
    devemos utilizar mais os sindicatos como elos de ligação entre o
    trabalhador e o empregador. Eles devem assumir papel importante na divulgação
    de oportunidades de trabalho, organizar e manter bancos de dados sobre
    profissionais de diversas categorias e atuar decididamente na seleção,
    recrutamento e avaliação de trabalhadores para cursos de treinamento e
    reciclagem de mão-de-obra.
    
     
     
    JE: Que encaminhamento será dado à
    proposta de flexibilização das relações de trabalho, prevista na alteração
    da CLT, hoje em discussão no Congresso Nacional?
    
     
    Serra:
    As alterações da CLT, no meu entender, devem manter intocados os direitos
    básicos dos trabalhadores e não mexer também nas normas referentes às
    condições de segurança e salubridade do ambiente de trabalho. O que
    devemos alterar: as disposições sobre os contratos coletivos de trabalho e
    sobre a autonomia e o poder de negociação dos sindicatos das categorias.
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