Quem acaba de sair de uma faculdade, além da
desvantagem de não ter experiência profissional, encontra um mercado com
poucos postos de trabalho, em função do baixo dinamismo da economia. É o
que afirma Paula Montagner, gerente de análise da Fundação Seade (Sistema
Estadual de Análise de Dados). Segundo ela, nos últimos quatro anos, a
taxa de crescimento máxima da economia foi de 2%, muito aquém do necessário
para absorver a demanda.
Somente no Estado de São Paulo, dados do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais relativos a 2001 mostram que formaram-se 9.585
engenheiros, nas diversas modalidades. Para Paula, enquanto não houver
crescimento econômico, aumentará o número desses jovens que não vão
exercer plenamente a sua profissão, sendo incorporados em outras
atividades.
O Programa Primeiro Emprego propõe-se a facilitar a entrada do recém-formado
no mercado. Em formulação, esse deve ser anunciado pelo Governo Federal até
a primeira semana de maio. Conforme a assessoria de comunicação do Ministério
do Trabalho, há possibilidade de colocar jovens engenheiros inclusive em órgãos
do Governo. Contudo, a faixa etária contemplada, entre 16 e 24 anos, acaba
por limitar o acesso desses ao programa.
Empreendedorismo
Essa é uma alternativa ao recém-formado. Atento a
tal realidade, o SEESP coloca à disposição dos seus representados o PEE
(Programa Engenheiro Empreendedor), que oferece cursos e palestras em
parceria com diversos órgãos. O objetivo, segundo seu coordenador, Esdras
Magalhães dos Santos Filho, é resgatar no indivíduo seu potencial
criativo e desenvolver nele as características de ser empreendedor. Na sua
concepção, o sucesso está em não ficar restrito à busca do trabalho com
carteira assinada, mas ir atrás do próprio negócio. “A dinâmica
instalada há pelo menos dez anos é da produção sem emprego”, constata.
Ciente disso, a Escola Politécnica da USP propicia aos seus alunos capacitação
ao empreendedorismo, por meio de diversas atividades extracurriculares. Para
Shigueharu Matai, coordenador de estágios da Epusp, esse é um dos
diferenciais da instituição – que conta com o setor de estágios, catálogo
de formandos com o minicurrículo de cada um, acessível às maiores
empresas do País, e banco de trainees.
Ainda com a pretensão de encurtar o percurso dos recém-formados da Poli
rumo ao mercado de trabalho, a AEP (Associação dos Engenheiros Politécnicos)
desenvolveu um plano de mapeamento de competências, em parceria com a Alba
Consultoria. Segundo Eduardo Pinheiro, coordenador do projeto Polimapcom, a
iniciativa é inédita em universidades no Brasil e foi feita pela primeira
vez em 2002, abrangendo um universo de 500 formandos. “A idéia foi
apresentar o perfil do aluno de modo que ele pudesse reconhecer quais os
seus pontos fortes e identificar as oportunidades em que pode ser
bem-sucedido.”
Apoio
à carreira
A FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) também auxilia seus formandos
nessa busca. Conforme o responsável pelo setor de estágios e empregos,
professor-doutor Alessandro La Neve, a escola tem parcerias com empresas no
desenvolvimento de projetos específicos. “Assim, além do estágio
curricular, o aluno tem a oportunidade de fazer outro já identificando áreas
de interesse.” Aos recém-formados, a FEI abre a possibilidade de
divulgarem gratuitamente, por seu intermédio, seus microcurrículos às
companhias.
O SEESP faz a sua parte. Segundo seu presidente, Murilo Celso de Campos
Pinheiro, através do Setor de Apoio à Carreira, a entidade oferece serviços
como análise e reelaboração de currículos, informações e orientações
sobre processo seletivo. Além disso, coloca à disposição dos
profissionais a Bolsa de Empregos, em parceria com a Secretaria de Relações
do Trabalho, que faz a intermediação entre o candidato e as vagas.
Entre os que conseguiram seu primeiro emprego formal na área através desse
serviço está a engenheira civil Cristina Gonçalves de Campos. Graduada em
2001 pela Fesp (Faculdade de Engenharia de São Paulo), ela trabalha desde o
início de março com manutenção de pronto-socorros e hospitais do Tatuapé.
“Mandei vários currículos pelo jornal e não tive resposta. Já o
encaminhamento da Bolsa para a entrevista foi rápido, porque me encaixei na
vaga, pois havia feito estágio nesse segmento.” Seu conselho aos recém-formados
é que se adequem às oportunidades que aparecerem.
Caminho
das pedras
O Setor de Apoio à Carreira faz a mesma recomendação e dá outras dicas.
Entre elas, descobrir os campos de atuação e especializações para a sua
modalidade, fazer cursos e estágios onde possa aplicar seus conhecimentos
teóricos, divulgar seu currículo, informar-se sobre programas trainee
e sindicalizar-se para fortalecer sua categoria e, conseqüentemente, serviços
como esse.
Enquanto batalha o primeiro emprego, o engenheiro civil Leonardo da Silva
Ignacio, formado em 2002 pela Unip (Universidade Paulista), põe em prática
algumas dessas sugestões. “Mando currículos todos os dias, também busco
vaga pela Internet e na Bolsa de Empregos do SEESP. Além disso, estou me
preparando, fazendo cursos de especialização, como o que comecei agora, de
engenharia de projetos, pela USP”, confirma.
Ricardo Augusto Savoine concluiu seu curso na modalidade civil também em
2002, pela Unilins (Universidade de Lins), e é outro que disponibilizou seu
currículo na Bolsa de Empregos do SEESP e tem lutado por uma vaga
semanalmente.
Na
visão de Kamal Mattar, presidente da AEP, as maiores oportunidades estão
na área financeira. Diferentemente de quando ele se formou na Poli, há 48
anos, quando havia muito mais empregos em áreas tradicionais da engenharia,
como construção civil.
|