| 
     Crime organizado, vergonha nacional  | 
|
| 
     Até certo tempo atrás, no Brasil,
    a idéia de máfia estava associada mais aos livros de Mario Puzo ou aos
    filmes de Francis Ford Coppola e Martin Scorseze que à realidade.
    Infelizmente, hoje a expressão nos remete a fatos que estão se tornando tão
    corriqueiros quanto assustadores. Diferentemente do que ocorre na ficção,
    o crime organizado, que se transformou numa chaga para a sociedade, nada tem
    do requinte e sofisticação de Don Corleone. Evidentemente, há a facção do
    colarinho branco, à qual os brasileiros já estão acostumados. Os exemplos
    são muitos. Um senador da República foi pilhado fraudando, criminosamente,
    votações e não perdeu seus direitos políticos. Reelegeu-se, envolveu-se
    com escutas telefônicas e deve sair limpo como na vez anterior.  Um proprietário de 250 postos de gasolina e de diversas
    empresas em paraísos fiscais é acusado de crime contra a ordem tributária
    nacional; deve ao fisco R$ 15 milhões desde 1977 e tudo leva a crer que um
    bom advogado, mesmo pago com dinheiro vivo, produto de fraudes, fará com
    que tudo termine bem. Um juiz, dois desembargadores e um presidente de
    Assembléia Legislativa mancomunam-se com o crime.  Mais recentemente, contudo,
    passamos a conviver com um outro aspecto da falência das instituições
    essenciais à democracia. Traficantes dos morros do Rio de Janeiro enfrentam
    a polícia, destroem ônibus, fecham o comércio e escolas, aterrorizam a
    população e desafiam as autoridades constituídas. Mesmo estando atrás
    das grades, esses chefões continuam atentando contra a segurança e a lei. Sem outra perspectiva de vida,
    rebanhos de jovens alistam-se no exército do tráfico, em que recebem ótimo
    soldo, armas, treinamento, assistência médica para a família e plano de
    carreira de traficante, garantido pelo patrão. 
    Na lógica da violência e da impunidade, matar passa a ser uma
    atividade remunerada como outra qualquer. Não importa quem: juiz, delegado,
    polícia ou mero cidadão. No final de 2002, entrou para a triste estatística
    das vítimas da escalada da criminalidade o engenheiro Edson Mega de
    Miranda, dirigente do SEESP em Jacareí. Até o presente, o caso não foi
    solucionado e não se sabe porque e por quem ele foi assassinado. Como esse,
    há casos aos milhares no País.  Está mais do que claro que algo
    precisa ser feito urgentemente. É necessário que os atuais governantes, de
    todas as instâncias, assumam a tarefa não só como seu dever, mas como uma
    missão. Não é mais possível ignorar a magnitude do problema. Enquanto
    assistimos horrorizados ao flagelo do povo iraquiano, vitimado por uma invasão
    ilegal e injusta, estamos, nós mesmos, brasileiros, sendo abatidos em nossa
    guerra cotidiana, que já dura décadas. É hora de enfrentarmos o inimigo,
    em estrita obediência ao Estado de Direito, mas sem nos acovardar.  Eng. Murilo Celso de Campos
    Pinheiro  | 
|