Planejamento

Em pauta, debate sobre a reforma urbana brasileira

O tema será objeto de um amplo processo de discussão que culminará na Conferência Nacional  das Cidades, programada para o período de 23 a 26 de outubro, em Brasília. Participarão gestores públicos, movimentos populares, sindicatos de trabalhadores, organizações não-governamentais, empresas e concessionários de serviços públicos.

A idéia, segundo Iria Charão, coordenadora de Relações Comunitárias do Ministério das Cidades e da iniciativa, é propor soluções aos problemas – que incluem habitação, saneamento, urbanização, transporte e mobilidade – e avaliar os programas existentes. Além disso, será eleito o Conselho Nacional das Cidades, formado pelos mesmos atores sociais, com a função de propor diretrizes e prioridades à política nacional de desenvolvimento urbano.

Centenas de encontros locais, regionais e estaduais (leia abaixo sobre a programação paulista) precederão o evento nacional. “Todos os estados e o Distrito Federal manifestaram sua adesão. Muitos municípios já convocaram suas conferências, outros as estão preparando. Certamente serão mais de 10%, o que significa pelo menos 550 encontros”, informou Iria.

Essas discussões devem guiar-se por um texto base elaborado pelo Ministério, que propugna como missão “garantir o direito à cidade, promovendo a universalização do acesso à terra urbanizada, à moradia digna, à água potável e ao meio ambiente saudável e assegurar o trânsito e a mobilidade urbana com segurança, por meio da gestão participativa”.

 

Em meio ao caos

O cenário apresentado pelas secretarias nacionais que compõem o Ministério das Cidades dá uma idéia dos graves problemas dos quais a conferência tratará. Existem 60 milhões de brasileiros que não contam com coleta de esgoto e cerca de 15 milhões sem água encanada. Outros 16 milhões não dispõem de coleta de lixo. Mais um nó diz respeito ao transporte público e ao trânsito.  O prejuízo anual com os congestionamentos está estimado em R$ 500 milhões. Com os acidentes de trânsito, a cifra, de acordo com Iria Charão, chega aos R$ 10 bilhões por ano. As vidas perdidas dessa maneira, em 2001, ultrapassaram as 20 mil, em mais de 300 mil ocorrências.

O déficit habitacional do País, apurado no ano 2000, é de 6,6 milhões. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em quase 100% dos municípios com mais 500 mil habitantes existem assentamentos irregulares; em menor escala, o fenômeno também está presente nas pequenas e médias cidades. “As localidades com até 20 mil habitantes representam 72,96% dos municípios, onde estão os menores índices de desenvolvimento econômico e social e um acúmulo contínuo de carências sociais. As regiões metropolitanas, por sua vez, concentram 80% da população brasileira e precariedades de larga escala”, informa a Secretaria de Programas Urbanos.  

SEESP integra Comissão Preparatória Estadual

No Estado de São Paulo, a coordenação desse processo de discussão está a cargo do presidente da Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A.), Marcos Camargo Campagnone, que atua como representante do secretário de Planejamento, Andréa Calabi. Para definir os rumos do evento paulista e as regras para escolha dos delegados que irão à Conferência Nacional, foi instituída a Comissão Preparatória Estadual, eleita em 26 de junho último.

Em 15 de julho tomariam posse seus 54 membros, representantes dos vários segmentos que integram a discussão da reforma urbana – o SEESP compõe esse fórum, representado pelo diretor Laerte Mathias de Oliveira. Na sua avaliação, “é fundamental que haja envolvimento dos agentes sociais para que essa grande oportunidade não seja desperdiçada”. Ele ressaltou também que a contribuição do SEESP será significativa, tendo em vista a experiência acumulada pela entidade na discussão das questões ligadas ao desenvolvimento urbano.

Lembrando que as decisões relativas à conferência serão da comissão preparatória, Campagnone imagina que o ideal seria organizar um evento com duração de dois dias, a ser realizado na última semana de setembro. Ele defende ainda que as discussões se pautem pela “intersetorialidade”, para evitar que cada um dos temas seja tratado de forma isolada.

Metrópoles - Além dos eventos locais, a  Emplasa está estimulando encontros nas regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista. “Caso contrário, as questões desse âmbito poderiam ficar relegadas a segundo plano ou mesmo esquecidas e há problemas que não se restringem a um município, como violência, poluição e transporte”, pondera Campagnone.

Segundo ele, a oportunidade servirá para se colher subsídios “a um processo de planejamento metropolitano” que terá início nos próximos meses. Conforme informou, a proposta é fazer o levantamento dos programas existentes em cada área do Estado – saneamento, habitação etc – e nos municípios de acordo com seus planos diretores. “Vamos compatibilizar a visão setorial com a territorial e, a partir desse conhecimento, provocar uma mobilização democrática para elaborar um plano com um horizonte de 10 a 20 anos. O objetivo é construir a razão coletiva acerca da metrópole que queremos, procurar consenso entre os agentes sociais e sonhar um pouco, imaginar o padrão de desenvolvimento que desejamos”. Além disso, devem ser estabelecidas metas e indicadores de desempenho, que permitam sua reavaliação anual.

Desenhado o plano, a mágica para fazer com que não se desvie dos trilhos, ao sabor de programas partidários ou compromissos eleitoreiros, de acordo com Campagnone, é “o pacto social”. “A partir disso, o projeto deixa de pertencer à agremiação que venceu a eleição”, aposta.

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