Opinião

Imposto salgado

Os impostos agridem a parte mais sensível do ser humano, o bolso. Isso no mundo todo e particularmente no Brasil, onde as manchetes dos jornais do início de junho nos atordoaram com a informação de que os tributos haviam atingido 41,23% do PIB no primeiro trimestre do ano.

Mesmo que tal porcentagem possa ser “ajustada” para mais ou menos (desde que se leve em conta a informalidade e a sonegação) o que ela revela é aterrorizante. Os brasileiros que pagam impostos o fazem demasiadamente.

O sistema é injusto e complicado. Os impostos indiretos, que pesam mais para os mais pobres, abocanham 18% da renda dos indivíduos. O Imposto de Renda grava na fonte os trabalhadores e poupa os bancos. As legislações são prolixas e tumultuadas, fazendo surgir uma verdadeira indústria de “elisão fiscal”.

Além disso, as continuadas políticas neoliberais de Estado mínimo deterioraram a capacidade do serviço público estatal e tiranizaram os caixas dos governos com o pagamento de juros das dívidas. Imposto, no Brasil, está sendo cada vez mais a pura e simples transferência de renda do cidadão para o sistema financeiro e cada vez menos tem a contrapartida de serviços públicos de qualidade.

Durante o ano passado, com o PIB quase parado, os rendimentos dos brasileiros caíram 15%, os impostos subiram para a porcentagem que nos assustou e o lucro da banca e do sistema financeiro teve crescimento exponencial.

É também sob esse prisma que se deve entender o alcance da Lei 10.684, de 30 de maio de 2003 (conversão da Medida Provisória 107, de 10 de fevereiro de 2003), chamada de Refis II. Ela reorganiza os débitos fiscais e seu parcelamento, amplia os casos possíveis de adesão ao Simples e aumenta a porcentagem de presunção do lucro para 32% das receitas decorrentes da prestação de serviços das empresas tributadas pelo lucro presumido. Segundo os cálculos de Artur Quaresma Filho, presidente do Sinduscon-SP, tal medida “fez aumentar a carga das empresas de 16,5% para cerca de 20% do faturamento” (Jornal da Tarde, 3/6/2003).

Parece pouco, mas não é desprezível.

A Reforma Tributária deveria levar em conta esses fatos, bem como o desleal congelamento das alíquotas do IR, que está passando batido nas discussões.

 

João Guilherme Vargas Netto
Assessor sindical do SEESP

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