IV Cetic

Categoria discute organização sindical, reforma tributária e ciência & tecnologia

Durante os dias 15, 16 e 17 de agosto, aproximadamente 200 engenheiros dedicaram-se a uma pauta tão ampla quanto densa. Eles se reuniram para o IV Cetic (Congresso Estadual Trabalho-Integração-Compromisso), realizado em Águas de Lindóia, e trataram de temas considerados fundamentais para a categoria.

O primeiro deles foi “O Fórum Nacional do Trabalho e as Reformas Trabalhista e Sindical”. Abrindo o debate, o consultor sindical do SEESP, João Guilherme Vargas Netto, traçou o quadro em que se dão as discussões no FNT. Como aspecto positivo, ele destacou o fato de essas questões estarem sendo discutidas não por uma comissão de notáveis, mas por um fórum tripartite – trabalhadores, empresários e Estado – em igualdade de representações. Entre plenária, comissão de sistematização e grupos de trabalho, informou, são cerca de 450 pessoas encarregadas de propor o modelo para o sindicalismo e legislação trabalhista brasileiros.

Segundo Vargas Netto, nas discussões do FNT devem ser superados dois extremos equivocados: aquele que diz que tudo o que existe está errado e deve ser demolido e reconstruído e o que acredita não ser necessário mudar nada. “Entre esses dois, está se fortalecendo a idéia da legitimidade. Essa entidade, por exemplo, que é a maior de engenheiros do mundo, não se adaptará à reforma sindical, tem legitimidade para exigir que a reforma se adapte a ela.”

O negativo, na sua visão, foi a montagem do fórum, que, na parcela que cabe aos trabalhadores, deixou a desejar em qualificação. “Temos que fazer no funcionamento o que não conseguimos na sua composição”, advertiu.


Ameaças ou desafios?
O ex-presidente do SEESP, Allen Habert, lembrou que o FNT é uma grande oportunidade para que os engenheiros demonstrem a relevância de sua organização à sociedade. “A nossa categoria é uma das mais importantes do mundo no sentido de criação de frentes de trabalho. Somos um movimento pró-ativo do desenvolvimento social e econômico”, salientou. A tese corroborou a palestra apresentada pelo engenheiro Geraldo Domingues, que demonstrou a importância da representação das categorias diferenciadas para os profissionais que congregam e também para o conjunto do movimento dos trabalhadores.

Para o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, o fundamental será a participação coesa. “Temos que estar inseridos nessa discussão, para fazer valer os nossos legítimos direitos.”

Mais pessimista, o presidente da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), Jorge Gomes, qualificou o fórum como “chapa-branca”. “Nossa expectativa com a eleição de Lula era de fortalecimento do movimento sindical, mas nada sinaliza nessa direção. Pelo contrário, as propostas são todas de fragilização, pulverização, fim da contribuição e da representação de categoria. Isso vai varrer nossos sindicatos do mapa”, disparou.

Ainda no âmbito da organização, Gomes apresentou a proposta de criação da Central Nacional de Profissionais para congregar categorias de níveis médio e universitário, que somam no País mais de 7 milhões de trabalhadores. “Apenas 13% dos sindicatos de profissionais liberais estão ligados a alguma das já existentes. E a razão é a falta de espaço para atuação”, avaliou.

Conforme ele, já existe uma comissão provisória composta de sete federações, que está discutindo um estatuto para a nova entidade, cuja sede deve ser em São Paulo.


Dose para leão
A discussão sobre o sistema tributário brasileiro ficou por conta do secretário Municipal das Finanças de São Bernardo do Campo, Marcos Cintra, autor da proposta do imposto único. O economista traçou um quadro da situação atual e fez uma análise da proposta de reforma feita pelo Governo. Para ele, o brasileiro, hoje, arca com uma carga tributária elevada – que, este ano, pode chegar a 40% do PIB (Produto Interno Bruto) –, não conta com serviços públicos eficientes em contrapartida e ainda sustenta um sistema complexo e burocratizado – as normas somam 55 mil artigos. Isso, afirmou Cintra, gera como resultado a sonegação, absolutamente corriqueira no País.

As grandes vítimas dessa realidade são os trabalhadores assalariados, taxados na fonte e responsáveis por 54% do imposto recolhido, embora sua renda represente apenas 35% do PIB. “O Brasil tem a maior carga tributária sobre salário bruto.”

Para corrigir essa distorção, defende o economista, deveria ser ampliada a base de contribuição, porque “se todos pagam, todos pagam menos” e não é possível no curto prazo reduzir a receita do Governo. Para tanto, é preciso combater a sonegação. O problema, avalia ele, é que a reforma não resolve qualquer dos problemas apresentados. “Não reduz custo, evasão ou burocracia. Basicamente, é uma discussão sobre quem ficará com a maior parte do bolo.”


Sociedade do conhecimento
Uma boa nova apresentada durante o IV Cetic foi a reestruturação do Conselho Tecnológico do SEESP. Segundo o vice-presidente do Sindicato, Carlos Alberto Guimarães Garcez, uma das idéias é estabelecer parcerias com instituições ligadas à área e participar das discussões sobre política de ciência e tecnologia. O ex-presidente da entidade, Rutênio Gurgel Bastos, envolvido nesse esforço, lembrou que é o momento de revitalizar e capilarizar pelo Interior do Estado o órgão, criado no SEESP em 1990.

Convidado especial, o presidente da Abradic (Associação Brasileira de Divulgação Científica), Crodowaldo Pavan,que também já dirigiu a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), do alto de seus 84 anos, entusiasmou a platéia. “Está uma calmaria na sociedade científica. Precisamos cutucá-la e levá-la à ação. O Brasil é potencialmente um país fabuloso, mas está acomodado. Estou satisfeito de encontrar um grupo como esse, que está disposto a trabalhar e fazer alguma coisa.”


O lugar da engenharia
Ao fim da jornada de trabalhos e debates, os participantes aprovaram por aclamação três documentos. A “Carta de Águas de Lindóia” defende que os debates quanto à legislação trabalhista e à organização sindical se dêem de maneira justa e democrática, preservando os direitos das categorias diferenciadas (
veja editorial).

A moção para “Transporte, trânsito e mobilidade urbana” afirma a necessidade de se investir nessa área estratégica para viabilizar a retomada do desenvolvimento. Para tanto, o texto propõe que sejam criados fundos para a infra-estrutura, cuja aplicação deve ter acompanhamento efetivo da sociedade. 

O terceiro tema tratado foi “Saneamento ambiental”, considerado imprescindível na garantia da saúde pública. “Urge a implementação de uma política estadual, por intermédio da gestão pública de qualidade, com a participação e o controle pela sociedade civil.” O documento também rechaça qualquer proposta de privatização no setor.

Organização e fortalecimento

Parte importante do IV Cetic (Congresso Estadual Trabalho–Integração–Compromisso) foi dedicada a um balanço da atuação do SEESP, em nível estadual e regional. Para isso, o presidente da entidade, Murilo Celso de Campos Pinheiro, fez uma apresentação destacando as ações e atividades. Entre essas, estão diversos eventos técnicos e sobre políticas públicas, incluindo a participação no Fórum Social Mundial. Fundamental também foi a ação sindical, que inclui acordos, convenções e dissídios coletivos que abrangem mais de 100 mil engenheiros.

No campo dos benefícios, o destaque foi o SEESPrev, fundo de pensão dos engenheiros, lançado oficialmente em 1º de julho último (www.seesp.org.br/beneficios/seesprev.htm). Com pouco mais de um mês de vigência, cerca de 2 mil profissionais já demonstraram interesse em aderir ao plano.

As atividades regionais foram apresentadas por dirigentes das delegacias sindicais de Franca, Baixada Santista, Jacareí, Barretos, Lins, Piracicaba, Rio Claro, Campinas, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Ribeirão Preto, Grande ABC e Botucatu.

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