Alcântara Crônica
de um desastre anunciado |
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Impossível
escapar da referência à obra de Gabriel García Márquez ao pensar na
explosão do VLS (Veículo Lançador de Satélites), tragédia que matou 21
pessoas – entre as quais 11 engenheiros –
em 22 de agosto último, no Centro de Lançamento de Alcântara, no
Maranhão. Tal
como o personagem do Nobel de literatura, cuja morte iminente era do
conhecimento de todos, o Programa Espacial Brasileiro dava sinais claros de
que não ia bem. Após o acidente, as mazelas, sentidas principalmente pelos
técnicos, vieram à tona. Salários que não ultrapassavam os R$ 2.000,00,
processos contra a União para assegurar o adicional de periculosidade,
expedientes reduzidos para poupar energia e revezamento para garantir a
limpeza dos banheiros, conforme contou à imprensa a mãe de uma das vítimas. O
motivo da explosão será, espera-se, identificado pela comissão
encarregada de investigar o caso. No entanto, a grave falta de verbas já é
reconhecida como o mal por trás de qualquer falha específica. O orçamento
deixado pelo Governo passado previa parcos R$ 30 milhões para 2003. No início
de setembro, o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, anunciou
que o programa precisa de R$ 130 milhões para ser retomado. Ainda bastante
distante dos US$ 1,3 bilhão que a Índia, por exemplo, destina ao seu, mas
um alento. Gerente do VLS entre 1980 e 1992, o engenheiro Jayme Boscov, hoje aposentado, falou ao Jornal do Engenheiro sobre os problemas que afetam o setor desde os anos 80.
Jornal
do Engenheiro: O que houve com o programa espacial brasileiro?
Também
não superamos a fase artesanal, muita coisa depende da pessoa que está
fazendo e não de um procedimento, que foi exaustivamente comprovado e onde
nada se faz sem a documentação técnica.
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Vantagem
estratégica |
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Sem
os bilhões de dólares dos países desenvolvidos, o Brasil tem ao menos um
grande coringa na corrida ao espaço: o Centro de Lançamento de Alcântara,
cuja localização, a 20o do Equador, é a melhor do Planeta. O
lugar foi escolhido pessoalmente pelo Brigadeiro Hugo Piva, que comandou o
programa espacial até 1987, quando se reformou. “Isso é um fator
privilegiado porque os grandes satélites são geoestacionários, ou seja,
giram com a mesma velocidade de rotação da Terra. Eles têm que ficar em
cima do Equador. A base sendo ali, o caminho será mais curto”, explica.
Isso dá uma economia de combustível de 27% em relação ao lançamento
feito de Cabo Canaveral, na Flórida, daí o interesse de russos, ucranianos
e estadunidenses em Alcântara. Piva
ressalta que alugar a base para estrangeiros é muito interessante ao
Brasil, não só pelo dinheiro, como pela cooperação internacional,
fundamental nessa área. A operação da base, contudo, lembra ele, não está
imune aos males do programa como um todo e carece de verbas. |
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