Opinião

Mulher, ciência e tecnologia

* Maria Conceição da Costa, Ros Mari Zenha e Maria Teresa Citeli

A luta pela eqüidade de gênero, entendida como respeito à diferença e busca do direito à igualdade entre homens e mulheres, ganha impulso nos anos 60 e se globaliza na década de 90, com as conferências internacionais da ONU sobre o tema. As reuniões regionais preparatórias para a conferência mundial de Budapeste (1999) fizeram um mapeamento da participação das mulheres nas áreas de ciência, tecnologia e engenharia.

O estudo demonstrou que as oportunidades de acesso ao trabalho e de ascensão a posições mais graduadas eram desiguais, inclusive nos países desenvolvidos, e que a educação familiar e escolar cumpria um papel importante na formação do preconceito em relação às mulheres cientistas. Como explicita a Dra. Eva Blay, do Nemge/USP (Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero), a condição de gênero encontra na universidade e nos centros de investigação tecnológica um cenário sofisticado para divisão sexual entre as carreiras. Os cursos universitários predominantemente freqüentados pelas mulheres, na entrada do terceiro milênio, são ainda correspondentes à divisão sexual do trabalho nas atividades domésticas. Assim, elas se dedicam às áreas do cuidar, do ensinar e da manutenção da família (enfermagem, nutrição, farmácia, educação veterinária, saúde pública, psicologia e odontologia).

No entanto, há claros sinais de mudanças. De acordo com dados do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), entre pesquisadores com idade até 24 anos, 57,5% são mulheres. O número é bastante diferente do apresentado pelo grupo de cientistas com mais de 65 anos, que tem apenas 30,5% de representantes do sexo feminino.  

Para estimular essa tendência , desde 2002 um grupo de mulheres do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) vem realizando algumas ações, sintetizadas em um CD-ROM intitulado “Comunidade de Prática Mulher, Ciência e Tecnologia”, lançado no dia 12 de março, no âmbito da programação da III Semana da Mulher no IPT.  Destaque-se o lançamento, no Brasil, em 2002, da Cátedra Regional Unesco Mulher, Ciência e Tecnologia e a disciplina “Ciência e Tecnologia têm Masculino e Feminino”, ministrada por pesquisadoras do IPT no curso “Educar para a Sociedade da Informação”, destinado a professores dos ensinos fundamental e médio, público e privado do Estado de São Paulo, em parceria com a Cidade do Conhecimento do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Neste ano, ocorrerá a Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em Brasília, precedida de conferências municipais e estaduais. Será um momento oportuno para se debater as políticas específicas que visem a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher e destacar a necessidade da incorporação da perspectiva de gênero nas políticas e programas, que devem ser horizontais e transtemáticos, incluindo-se ciência e tecnologia.

 

* Prof. Dra. Maria Conceição da Costa: Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)

* Msc Ros Mari Zenha: Pesquisadora do IPT e coordenadora executiva do Espaço Tecnologia do Instituto do Legislativo Paulista da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo

* Maria Teresa Citeli: Socióloga, Fundação Carlos Chagas.

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