O primeiro tema abordado na manhã desta quinta-feira (18), no IV EcoSP (Encontro de Meio Ambiente de São Paulo), foi o projeto “Veículo Elétrico” da Usina Hidrelétrica de Itaipu em parceria com a empresa suíça KWO.
Conforme Marcio Massakiti Kubo, membro da coordenação-geral brasileira do projeto, o objetivo é contribuir com o desenvolvimento de tecnologia de veículos movidos a eletricidade que sejam técnica e economicamente viáveis promovendo o uso racional e eficiente da energia, bem como a preservação do meio ambiente.
O projeto teve início em 2006 e hoje possui parceria com diversas empresas do setor elétrico e da iniciativa privada.
O modelo utilizado foi o Pálio Weekend, da Fiat, que acomodou perfeitamente o sistema e a bateria. Com foco no uso urbano, o carro possui uma autonomia de 120 quilômetros, velocidade máxima de 130 km e uma bateria de sódio com tempo de recarga de oito horas. Além de não poluir, o veículo elétrico é silencioso e pode ser abastecido em casa. “As baterias são praticamente 100% recicláveis. Os metais são facilmente utilizados na indústria, a matéria-prima é abundante no planeta e não possui efeito memória, isto é, não vicia”, explicou Kubo.
Outra novidade é que um projeto paralelo da Itaipu utiliza painéis solares para abastecer as baterias.
De acordo com o palestrante, estudos mostram que o carro elétrico representará um impacto mínimo para o consumo de energia. “Considerando a tecnologia atual em que em média o motorista brasileiro não roda mais do que 60 km por dia, o veículo elétrico consumiria apenas 10 kWh / dia hora por dia”, citou Kubo.
Segundo ele, o projeto avançou tanto que para atender a demanda do setor rural, a Itaipu em parceria com a empresa Iveco, fabricaram o primeiro protótipo de caminhão elétrico em 2009 e de mini-ônibus em 2010. “A ideia é incentivar a capacitação profissional, pesquisa e desenvolvimento e principalmente a inovação tecnológica, aspecto estratégico para o futuro do sustentável do Brasil”, mencionou Kubo.
Para finalizar, ele falou da necessidade de postos de abastecimento para recargas rápidas e mencionou a tecnologia Smart Grid, um conceito que envolve três tipos de conhecimento, sistema de potência e de comunicação e tecnologia da informação. “Com essa inovação o veículo elétrico deixa de ser um elemento passivo e passa a interagir com a rede elétrica.”
Poluição
Falando sobre os benefícios ambientais da inspeção veicular, Marcos Brandão, diretor de operações da Controlar Inspeção Veicular de São Paulo, afirmou que o procedimento contribui para a melhoria da qualidade do ar, redução dos problemas de saúde, conscientização do uso racional do automóvel, cultura de manutenção preventiva e regularização da frota. “São Paulo é a quinta metrópole mais poluída do mundo e 97% de todo monóxido de carbono emitido vem do escapamento de veículos. Daí a importância de realizar a inspeção ambiental veicular”, destacou.
Seguindo as normas do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), outra vantagem do procedimento é a redução dos ruídos emitidos pelos veículos desregulados. “Apenas 24% dos motoristas tem o hábito de fazer revisão nas oficinas. Por outro lado, 54% dos condutores só procuram as oficinas após serem reprovados”, citou Brandão.
Outro dado alarmante é que a poluição mata 20 pessoas por dia em São Paulo e a expectativa de vida dos paulistanos é reduzida em um ano e meio. A inspeção segue as normas do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). “O ar de São Paulo é três vezes mais poluído que o permitido pela OMS (Organização Mundial da Saúde)”, disse.
Para ele, é fundamental mudar a cultura. “Temos que dar importância a manutenção do veículo só assim vamos diminuir a poluição. A experiência internacional mostra que em cinco anos de inspeção é possível reduzir 40% da emissão de gases poluentes”, concluiu.
Ainda sobre o tema, Paulo Hilário Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP (Universidade de São Paulo), falou dos problemas de saúde provenientes da poluição atmosférica.
Conforme relatou, os gases originários da queima de combustíveis derivados do petróleo são considerados os mais danosos a saúde. “Pagamos uma fortuna para manter um carro e não ganhamos nada com mobilidade, que hoje é pior que no século XVII. Infelizmente temos que viver com o dano da poluição a saúde face as necessidades que temos hoje”, criticou Hilário.
Segundo o palestrante, a porcentagem de mortes atribuídas ao excesso de poluição do ar em São Paulo é 11%. E que em dias de alta contaminação do ar, o risco de morte por doenças respiratórias e cardiovasculares é maior e atinge principalmente crianças e idosos.
Outro fator determinante nesse cenário é a condição socioeconômica. Conforme explicou Hilário, os pobres convivem mais perto com principais agentes causadores da poluição como terminais de transporte urbano, avenidas onde circulam mais veículos, queima de lixo a céu aberto, casas com padrão construtivo mais permeáveis a poluição, além de passar mais tempo no tráfego para chegar ao local de trabalho. “Em São Paulo, o risco de morte de idosos que moram no bairro Cerqueira César é de 2%, contra 12% dos que moram em São Miguel Paulista”, destacou.
Para ele, ninguém se impressiona mais com pilhas de corpos e o único jeito de sensibilizar as autoridades para a implementação de políticas públicas é calcular custos. “É preciso criar um mecanismo de incentivo macroeconômico para diminuir a emissão e o número de mortes. Trilho ou pneu, transporte coletivo ou individual, gasolina, etanol, diesel, gás ou eletricidade, cada decisão envolve interesses econômicos gigantescos que necessitam de gestão”, concluiu.