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23/02/2016

Os riscos da construção de hidrelétricas ao redor do mundo

No início de janeiro, a renomada revista norte-americana Science, que publica as descobertas e os avanços científicos mais importantes ao redor do mundo, divulgou pesquisa realizada por Miguel Petrere Júnior, professor visitante da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que atua no Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Uso de Recursos Renováveis (PPGPUR) do Campus Sorocaba.

O estudo desenvolvido em parceria com cientistas dos Estados Unidos, Alemanha, Canadá e Camboja aponta que as três bacias hidrográficas mais ricas em biodiversidade no planeta estão ameaçadas por um mesmo perigo: a construção de usinas hidrelétricas. A pesquisa identificou nas bacias do Rio Mekong (Ásia), do Rio Congo (África) e do Rio Amazonas (América do Sul) uma perda significativa da biodiversidade da ictiofauna (conjunto das espécies de peixes de determinada região), decorrente da construção de grandes represas.

De acordo com Petrere Júnior, “um terço das espécies de peixes que habitam os rios dessas bacias poderão ser biologicamente extintas ao não se adaptarem aos novos habitats criados pela construção dos reservatórios”. Além disso, “a usina de Belo Monte - que está sendo erguida em Altamira, no Pará - pode estabelecer um recorde mundial de perda de biodiversidade, porque há um número excepcional de espécies que só vive ali”, afirma o pesquisador da instituição de ensino.

Atualmente, já se estima que 25% das espécies de peixes de água doce do mundo foram extintas como resultado da poluição, do desmatamento ciliar, da canalização e da construção de diques, açudes e grandes reservatórios, com consequências negativas para o equilíbrio ambiental e alterando o modo de vida de populações tradicionais que têm que ser realocadas com alto custo social e econômico. E esse cenário tende a se agravar, tendo em vista que ao menos 450 barragens ainda devem ser construídas nas usinas das três bacias estudadas.

Para o professor visitante da universidade, apesar da energia elétrica de origem hídrica ser considerada “limpa” e sustentável, os meios para gerá-la, com a construção das usinas hidrelétricas e seus grandes reservatórios, trazem – como revelou a pesquisa - incontestáveis perigos para o ecossistema. “É claro que o desenvolvimento econômico e o conforto que ele traz dependem de energia elétrica abundante, mas as políticas públicas adotadas para sua geração precisam ser revistas e discutidas pela sociedade”, pondera Petrere Júnior.

Nessa direção, de acordo com o grupo de cientistas autores do estudo, faltam protocolos para orientar a construção de hidrelétricas em regiões tropicais ricas em biodiversidade. Para o grupo, as instituições que financiam a construção de hidroelétricas devem exigir estudos científicos que mostrem o impacto da obra na biodiversidade e nas mudanças climáticas.

Destaque internacional
Segundo Petrere Júnior, essa pesquisa “é um feliz e oportuno resultado de uma colaboração conjunta de especialistas de três continentes” e a publicação pela revista Science “é uma grande conquista institucional e pessoal, pois de cada 100 artigos a ela submetidos, menos de três são aceitos”. Muitos ganhadores do Prêmio Nobel tiveram artigos publicados pela Science, “o que coloca a UFSCar, por meio do Campus Sorocaba, do Centro de Ciências e Tecnologias para a Sustentabilidade (CCTS) e do PPGPUR em honrosa companhia”, finaliza o professor.

 

 

Fonte: Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

 

 

 

 

 

 

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