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26/10/2016

Opinião - Imprensa sindical e reformas neoliberais

Conta-se que, nos anos 70, auge da ditadura, um intelectual do PCB, produziu, na clandestinidade, documento centrado na seguinte pergunta: - O que está acontecendo no Brasil, hoje?

Passadas as décadas, terminada a ditadura civil-militar e ante o golpe paraguaio desfechado pelo vice contra Dilma, vale repetir a pergunta, já sabendo que a resposta é: - Aconteceu golpe de Estado, o golpe tenta consolidar sua hegemonia, os golpistas já põem em prática os compromissos assumidos com seus patrocinadores.

O principal compromisso embutido no golpe é de ordem antinacional. O governo-fantoche já cuida de entregar o pré-sal, de entregar ativos do Estado a particulares e desmantelar as bases para qualquer possibilidade de autonomia e soberania. Repete-se o modelo metrópole-colônia da época do Império.

Quanto aos compromissos do golpismo, eles têm, basicamente, dois vetores. O desmonte do Estado social produzido pela Assembleia Nacional Constituinte e os ataques neoliberais contra aposentados, trabalhadores da ativa e segmentos socialmente desprotegidos – do Bolsa Família à Agricultura Familiar.

No momento, o principal instrumento de ataque contra o povo brasileiro é a PEC 241, que radicaliza o ajuste fiscal conservador, fragiliza áreas e serviços como Saúde e Educação, com o cuidado de preservar as fontes de custeio do rentismo. A PEC, essencialmente, legaliza o modelo de transferência de renda dos mais pobres para os mais abastados – é o darwinismo social.

Toda essa onda de ataques conservadores é encoberta pela cortina de fumaça do denuncismo, do moralismo e dos escândalos. Deflagrada pela mídia, orquestrada pelo Judiciário e empalmada pela Polícia Federal, a operação tem outro compromisso, desta vez com o calendário eleitoral de 2018. Joga-se tudo contra Lula, buscando deixar livre o caminho para uma candidatura de direita.

O cenário é complexo e a simplificação não ajuda. Mas nós, da imprensa sindical, temos justamente o desafio de simplificar. Sem uma comunicação direta, objetiva, didática e sistemática, o trabalhador levará mais tempo para entender a real situação, tirar conclusões e reagir.

Do ponto de vista da comunicação, entendo que coisas tipo “Fora Temer!” tem ciclo biológico breve, não apontam para um dia seguinte e têm pouco poder de articular ações mais amplas. Precisamos ser mais incisivos no factual e no simbólico.

Três são, a meu ver, os pilares dessa construção. O primeiro, marcadamente político, é difundir a proximidade Temer/Cunha, mostrando-os faces da mesma moeda. A segunda é expor os estragos – para aposentados atuais e futuros – da reforma previdenciária. A terceira é reforçar os números do desemprego, do arrocho salarial e das perdas geradas pelas reformas em curso.

Todo movimento, toda ação socialmente ampla, precisa de uma palavra de ordem (tipo Diretas-Já). No nosso campo, é “nenhum direito a menos!”

No campo específico das categorias, é hora de valorizar a ação sindical, mostrar o Sindicato como barreira eficaz contra ataques e força capaz de resistir à brutalidade dos ataques.

Isso ainda não forma um discurso contundente – este nascerá das lutas de resistência, em nosso campo, e como produto dos ataques vindos do lado de lá.

 

* João Franzin é jornalista e diretor da Agência Sindical

 

 

 

 

 

 

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