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03/11/2016

Em busca de inovação e competitividade

Apesar da atual recessão, o Brasil ainda figura entre as dez maiores economias do mundo, ocupando o 9º lugar, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI). No entanto, a história é outra quando o tema é competitividade: o País ocupa a 81ª posição na lista do Fórum Econômico Mundial (FEM) – 2016-2017 –, atrás dos vizinhos Peru (67ª) e Colômbia (51ª).

Em inovação, um dos pilares avaliados na classificação da FEM, a posição brasileira é a 69ª, segundo o Índice Global de Inovação, apurado pela Universidade Cornell, pela Escola de Pós-graduação em Negócios (Insead) e pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Wipo).

Neste cenário, poucas empresas (35,7%) buscam inserção de produtos e processos novos ou significativamente aprimorados, conforme aponta a Pesquisa de Inovação (Pintec 2009-2011) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para a economista e doutora em política de ciência e tecnologia, Connie Vedovello, historicamente o setor industrial brasileiro não teve base produtiva que fomentasse a inovação, “pela forma de estruturação da economia e como a política industrial foi permeada”. Já Álvaro Prata, secretário de desenvolvimento tecnológico e inovação do Ministério de Ciên­cia, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), acredita que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são “adiados”, pois “há uma tendência pública e privada em colocar recursos em ações de curto prazo”.

Em 2015, foi aplicado 1,24% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em P & D, algo em torno de R$ 70 bilhões. No mesmo ano, o MCTIC teve o registro de apenas 1.100 empresas beneficiárias da Lei do Bem (Lei 11.196/05), que garante incentivo fiscal àquelas que desenvolvem projetos em inovação. Para o diretor geral do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), Saulo Krichanã Rodrigues, os números são negativos, pois “o valor destinado a inovação ainda é visto como um gasto, e não como investimento”, visão que precisa mudar.

Políticas e ações
Com a Lei da Inovação (nº 10.973/04) e demais incentivos, o MCTIC mantêm Parques Tecnológicos e Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), entre outras ações. Neste ano, o valor investido se aproxima de R$ 3,2 bilhões. Parte disso engloba a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que financia projetos em parceria com universidades e institutos.

Para João Oliveira Junior, coordenador do NIT Mantiqueira, as aplicações são positivas, mas pecam em organização. “É necessário uma política de inovação que estruture e determine as áreas principais a serem desenvolvidas.” Ele frisa a falta de profissionalização nos núcleos. “Ainda hoje vemos grandes pesquisadores que recebem bolsas, como estudantes”, diz.

A economista Vedovello vê com pessimismo ações que possam reverter o quadro no curto prazo, tendo em vista as recentes medidas governamentais. “A junção das pastas (CT&I e Comunicação) é um corte de orçamentos”, diz. Ela questiona também o efeito da Proposta de Emenda à Constituição 241/16 (tramitando agora no Senado como PEC 55) no setor: “Se limitam valores fundamentais, o que acontecerá com P & D, que ainda é subestimado?”

Pequena empresa
A boa notícia relativa ao tema está nas iniciativas empreendidas pelas pequenas empresas. Quem afirma é Athos Vinicius Valladares Ribeiro, diretor da Unidade de Acesso à Inovação e Tecnologia do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Segundo ele, essas assumem grandes riscos ao implantar projetos e são mais suscetíveis a adaptações. “Inovação deve ser compreendida como diferencial de qualquer negócio que deseja perenidade em um mercado cada vez mais competitivo, regulado por consumidores cada vez mais exigentes”, alega Ribeiro.

Foi o que buscou Aulus Macedo, presidente da indústria moveleira e comércio Sena Decorações, em Silva Jardim (RJ), ao fazer a qualificação em manufatura enxuta. “Nós modificamos os processos na confecção de pufes, adequando à filosofia ‘Lean’ de produção, pela qual gastos e desperdícios são reduzidos ao máximo, agregando valor à peça”, explica. “Produzíamos 1.300 pufes de baixo valor de mercado, com um faturamento de R$ 32,5 mil por mês. Hoje, com menos desperdício, fabricamos sete diferentes modelos, com maior valor de mercado, em menor quantidade (1.200), com faturamento de R$ 92,9 mil/mês”, conta o empresário.

Afinal, do que se trata?
A especialista Connie Vedovello explica que a inovação pode ser incremental – de pequenos acréscimos ou melhorias de produto – e radical – como grandes saltos tecnológicos ou produtos inéditos no mercado. Ela complementa que ambos os modelos devem visar produtividade. “Tem que atender uma necessidade de mercado, e não apenas ser algo novo”, salienta.

Na sua avaliação, a inovação provém da qualificação de pessoas, pois “é preciso capital humano capaz de atuar com as novas tecnologias”, aptidão essa que ainda é escassa porque “os currículos das universidades não conversam com a necessidade do mercado”. Segundo ela, inovar em setores econômicos “carece de pessoas com competências apuradas, que enxerguem aspectos importantes de processos produtivos, gerando agilidade, produtividade e competitividade às empresas”.

Saulo Krichanã Rodrigues, diretor geral do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), que desde o ano passado oferece a primeira graduação do Brasil em Engenharia de Inovação, acredita que a questão é comportamental. “É uma visão de futuro, de se incomodar com o que já existe e pensar de que forma aquilo pode ser melhor”, diz. Para o diretor, é papel da academia “mudar seu método de ensino para formar um profissional apto a inovar”.

Nesse ponto, Vedovello destaca também o MBA em Inovação Competitiva do Isitec. “É desenhado para amparar os profissionais, de qualquer área, que vão se engajar nessa rotina de atividade inovadora”, conta ela, integrante da coordenação e do corpo docente do curso, com duração de 376 horas/aulas presenciais quinzenais, que serão realizadas em São Paulo, na sede do instituto.

 

 

Comunicação SEESP
Matéria de Jéssica Silva publicada no jornal Engenheiro, da FNE, Edição 174 de novembro de 2016

 

 

 

 

 

 

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