O cenário político, social e econômico perpassou todas as falas da primeira mesa dos trabalhos do encontro nacional da Engenharia Unida, na manhã do dia 25 de novembro, em Barra Bonita (SP). Reunidos para debater “Engenharia e desenvolvimento nacional: o protagonismo no enfrentamento da crise”, o presidente da FNE – organizadora do evento –, Murilo Pinheiro, o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar Mista da Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento Ronaldo Lessa (PDT/AL) e o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto coincidiram no chamamento à unidade para que a área tecnológica possa estar coesa no enfrentamento à crise por que passa o País. Vargas Netto lembrou ao público que no mesmo dia ocorria manifestações unitárias em todo o Brasil em resistência à perda de direitos e pela retomada do desenvolvimento. “Barra Bonita nos põe em pé e ao lado dessa resistência”, salientou o analista.
Murilo fez um breve histórico das atividades da Federação, desde a sua composição, seu espírito colegiado e democrático até a contribuição da categoria com o lançamento, em 2006, do projeto “Cresce Brasil”, cujo propósito é discutir tecnicamente os problemas nacionais e, a partir disso, apresentar propostas em diversas áreas. “Foi o nosso projeto, inclusive, que inspirou o governo Lula na elaboração e apresentação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)”, lembrou a liderança dos engenheiros. E acrescentou: ““São dez anos buscando contribuir efetivamente para a melhoria de vida dos cidadãos brasileiros.”
Foto: Beatriz Arruda/FNE
Murilo inicia os trabalhos do encontro de Barra Bonita, no dia 25 de novembro.
Salientando que o Cresce Brasil nasceu numa conjuntura adversa, Pinheiro observou que o mesmo ocorria com o início do movimento Engenharia Unida, lançado pela FNE em março último. “O País precisa do nosso comprometimento e responsabilidade mais do que nunca”, convocou. Agora, todavia, realçou, dada a gravidade do momento, se faz necessária a unidade de todos. “Se estivermos unidos enfrentaremos dificuldades; mas desunidos será quase impossível sair da crise atual. Desunidos ficaremos apenas na defesa e perdendo cada vez mais”, advertiu.
Murilo observou que os profissionais da área fazem parte do Brasil que discute e pensa seriamente. “O ano de 2016 foi muito difícil, mas como será 2017? Com certeza também difícil, mas podemos melhorar as coisas a partir das nossas lutas e ações.” Nesse sentido, ele defende a manutenção de direitos, como os constantes na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e criticou o pagamento dos juros da dívida pública. “O dinheiro precisa circular, ser investido na produção e no emprego, e não no rentismo.”
Para Murilo, não há chance de o País sair da crise atual sem que a sociedade e os trabalhadores estejam bem. Por isso, criticou a recente reorganização do o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o chamado "Conselhão", por parte do governo Temer, sem a inclusão da engenharia brasileira. “Como discutir o desenvolvimento sem o conhecimento dos nossos profissionais?”, indagou.
Resistência e direitos
Vargas Netto traçou um quadro da política brasileira e alertou: “A situação do País nos preocupa demais. Ele não está pacificado. Vemos um Brasil sem rumo e sem projeto.” E prosseguiu: “O colchão social se esgota. Temos unidades da nossa federação que estão mergulhadas na violência e na tragédia da falta de perspectiva.” Para ele, a instabilidade é tão grande que “nem sabemos se amanhã teremos um governo estável. Podemos viver todo tipo de transição política a qualquer momento”.
“O que nos une, move e agrega, neste momento, é a Engenharia Unida”, refletiu Vargas Netto, para quem o movimento “é maior que a soma das partes que o compõe” e fará, tendo à frente Murilo Pinheiro, toda a diferença. “A convocação é pelo ativismo e não pelo proselitismo. Barra Bonita nos põe em pé.”
O chamado à unidade foi reforçado pelo deputado Lessa, lembrando que é da natureza da engenharia fazer a transformação, enfrentar desafios e adversidades. “Vamos acreditar que tem muita gente de boa vontade.” Nesse sentido, ele destacou aos presentes o lançamento recente da frente parlamentar mista, no Congresso Nacional, cujo intuito é garantir uma relação mais próxima entre o Legislativo federal e os profissionais da área técnica. E explicou o benefício dessa aproximação: “O raciocínio técnico é outro e está sempre na linha do fazer e produzir.”
Ele afirmou que o Congresso precisa da sociedade e, sobretudo, das entidades de classe. “O Congresso é que tem a última palavra nas várias questões, precisamos ajudá-lo nisso. Por isso, a sociedade terá muito que ganhar com a nossa frente parlamentar. Precisamos colocar essas inteligências a serviço da sociedade.” E completou: “O Estado foi feito para não funcionar; mas o engenheiro quer fazê-lo funcionar.”
Ao final, o parlamentar, que falou da sua trajetória inicial como profissional e professor e depois na vida pública (foi vereador e prefeito de Maceió e duas vezes governador do Estado de Alagoas), dedicou sua fala ao seu ex-vice-governador e ex-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de Alagoas (Crea-AL) Luis Abílio de Sousa Neto, já falecido.
Eixos de luta
O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, que compôs a mesa, parabenizou Pinheiro por ser o responsável por estar reunindo um grupo expressivo de representações da engenharia em torno de uma discussão necessária para o País e para os profissionais, qual seja a da retomada do crescimento e a valorização dos engenheiros no serviço público e na atividade privada. Segundo ele, toda essa discussão só posso se fazer a partir da defesa intransigente da democracia. “Ou nos unimos em torno dos preceitos democráticos ou caminhamos para um buraco negro tal o grau de deterioração que vemos nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.”
Celestino afirmou que os engenheiros são respeitados como formadores de opinião, por isso advertiu para que ninguém pesque em áreas turvas. “Não tenhamos dúvida que o colapso das nossas instituições nos levará a uma ditadura”, salientou. Para o dirigente, há que se ter responsabilidade para denunciar a ditadura que “sofremos do mercado financeiro expressa nesse simulacro de política econômica”. O resultado dessa “política”, é o aumento do desemprego que “nos levará a uma explosão social”.
Por isso, Celestino, apoiador da unidade da engenharia, acredita que a discussão do desenvolvimento pelos profissionais possa realmente ajudar o País a sair da crise.
Outro tema levantado pelo presidente do Clube de Engenharia foi o esvaziamento deliberado da Petrobras, “que foi e é âncora do nosso desenvolvimento nacional”. E foi taxativo: “Estão acabando com as nossas empresas para colocar no lugar multinacionais. Querem eliminar a nossa capacidade de produtividade e toda a veleidade desse País de se projetar como uma das maiores economias do mundo.” Por isso clamou pela unidade com o capital produtivo brasileiro e para que pare o desmonte de empresas construídas ao longo dos últimos 60 anos, “com esse desmonte vão junto os nossos empregos”.
Celestino finalizou chamando os presentes a defenderem três eixos básicos na luta pela retomada do crescimento do País: a defesa da democracia, a aliança com o capital produtivo e reforçar a luta “nenhum direito a menos”.
Participaram dessa primeira mesa, como comentadores a diretora regional Sudeste da FNE, Clarice Maria de Aquino Soraggi, e o presidente do Crea-AL, Fernando Dacal. O presidente do Conselho alagoano disse que está totalmente integrado ao movimento Engenharia Unida, já a diretora pediu mais atenção às ferrovias brasileiras, “infelizmente, já fomos reconhecidos mundialmente na área ferroviária, hoje regredimos 150 anos. Precisamos colocar o Brasil nos trilhos”. O encontro da Engenharia Unida termina neste sábado (26) com plenária e discussão e aprovação da Carta de Barra Bonita.
Rosângela Ribeiro Gil
Comunicação SEESP