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28/11/2016

Carta de Barra Bonita

O Brasil – que enfrenta hoje um grave quadro de desemprego, queda de renda e crise fiscal – precisa recriar as condições materiais, políticas e de engajamento dos brasileiros para retomar uma trajetória virtuosa de redução das desigualdades econômicas e sociais, de contínua expansão do acesso ao consumo de bens e serviços por todos os seus habitantes, de acesso universal e público a educação, saúde, mobilidade, saneamento, comunicações e segurança. E para enfrentar tal desafio sem penalizar desequilibradamente os diversos segmentos da sociedade, sem provocar danos irreparáveis ao meio ambiente e sem perder sua capacidade nacional de aproveitamento de seus recursos naturais e humanos, o Brasil precisa de muita engenharia.



Foto: Beatriz Arruda/FNE
LeituraCartaBarraBonita 
 José Carlos Rauen, do Senge-SC, faz a leitura da Carta de Barra Bonita, aprovada por aclamação durante a plenária.
 

Um ciclo virtuoso de desenvolvimento nacional com justiça social e integração regional exige a quebra da lógica rentista, a superação de um modelo calcado em bens primários e com baixa agregação de valor e de conhecimento, uma forte retomada de investimentos na produção, uma significativa ampliação dos salários na composição da renda nacional, taxas de retorno dos investimentos produtivos em linha com parâmetros internacionais e o financiamento adequado das atividades estatais. Isto é o mesmo que demandar mais produção e mais produtividade, é exigir inovação, tecnologia, ciência aplicada, métodos e organização eficazes. É falar da essência da engenharia.

O Brasil precisa de uma engenharia que – ao mesmo tempo em que atua na recomposição e modernização de sua infraestrutura de apoio à produção (destacando-se transportes, energia, armazenamento, distribuição e informatização) e de atendimento à vida das pessoas (notadamente habitação, iluminação, redes de água e esgotos, escolas, unidades de saúde, transporte de massas, conexão às redes computadorizadas) – indique ao país como produzir cada vez mais com o menor desperdício de fatores de produção e que viabilize a contínua expansão do acesso de todos aos frutos da produção coletiva. Uma engenharia obcecada com a produtividade sistêmica.

Para que tal engenharia possa efetivamente se colocar a serviço dos brasileiros há que se criar condições de atratividade e de realização profissional para as brasileiras e brasileiros que a ela se dedicam ou venham a se dedicar. Este é um processo que parte da exigência de acessibilidade e qualidade nos cursos universitários, passa pelo estabelecimento de pisos salariais de categoria compatíveis com as tarefas dos

engenheiros, por uma escala de remuneração profissional digna, pela instituição de quadros sólidos de engenharia pública e estatal, pela revalorização do projeto de engenharia até sua fase executiva, pela retomada dos processos de planejamento e de gestão da produção e de obras. É um processo que tem por alvo as necessidades prementes de valorização profissional e de reconhecimento social do papel e da missão da engenharia brasileira.

Por parte dos engenheiros, é essencial estabelecermos a mais firme unidade em torno de tal programa, pois somente uma engenharia efetivamente unida pode atuar consequentemente no cumprimento de tarefas dessa magnitude.

O fortalecimento da atuação e da participação dos profissionais engenheiros em torno de seus sindicatos e de suas associações profissionais é a base obrigatória para a construção da unidade. Das associações e sindicatos fortalecidos se exige a conjunção de esforços com o sistema profissional, com as instituições de ensino de engenharia, com os centros de pesquisa tecnológica, com as empresas que empregam engenheiros, com os entes públicos associados às atividades de engenharia, com cada um e todos os engenheiros atuando no Brasil.

Só a “Engenharia Unida” tem o potencial de se colocar a serviço de um Brasil que tanto dela demanda.

O Brasil precisa se reorientar em direção à efetiva melhoria da vida dos brasileiros. Aprimorar de forma factível e eficaz a vida de todos nós brasileiros exige muita engenharia. Uma engenharia que possa desempenhar esse papel demanda engenheiros reconhecidos e valorizados. Valorização e reconhecimento serão consequências de um exercício profissional de qualidade, com sensibilidade humana e respeito ao meio ambiente, associado a uma unidade de ação e propósitos de todos os engenheiros do Brasil.

A “Engenharia Unida”, através desta Carta, propõe-se a unir-se a todos os brasileiros na construção do Brasil necessário e possível, pujante, includente e verdadeiramente democrático.

Barra Bonita, 26 de novembro de 2016

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