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14/03/2017

Opinião - Irrelevância sindical

Pelos meus cálculos, o número de leitores regulares de jornal impresso no Brasil oscila em torno de 5 milhões; o número de filiados aos partidos políticos é de 12 milhões, e o total de sindicalizados ultrapassa os 18 milhões.

Levando-se em conta as diferentes bases para comparação, o número de leitores regulares de jornal impresso corresponde a 5% dos adultos letrados, os filiados a partidos são 12% do eleitorado, e os sindicalizados são 18% da população economicamente ativa (arredondei, grosseiramente, as três bases comparadas em 100 milhões de brasileiros).

Esses índices quantificam e simbolizam os pilares da construção democrática de uma sociedade avançada: a liberdade de expressão, com a leitura do jornal impresso (que para Hegel era a oração da manhã do homem moderno), a liberdade política, com a existência de partidos (essenciais no nosso ordenamento constitucional) e a liberdade sindical, com a representação dos trabalhadores pelos sindicatos (através das categorias e com unicidade na base).

Os números torturados acima revelam que, dos três pilares, o mais forte e o mais expressivo quantitativamente é o da representação sindical.

Ao longo dos anos da democratização e principalmente depois da Constituição de 1988, o papel dos sindicatos na sociedade tem sido crescente, em especial nas conjunturas econômicas favoráveis. O maior feito do movimento sindical, que atesta a sua relevância, foi a conquista da política de valorização real e acelerada do salário mínimo, cuja depreciação marcava a trajetória de sua série histórica, até mesmo na primeira década e meia do regime democrático.

O papel do sindicalismo, comparado às duas outras institucionalidades (comunicação e política) e em termos absolutos tem sido relevante, e não só numericamente.

Um dos efeitos da grave recessão e da derrota sindical associada ao impedimento presidencial é a contestação histórica dessa relevância. O movimento sindical, se dividido e incapaz de resistir eficazmente, tornar-se-á (apelo à mesóclise presidencial) irrelevante, um elefante sem osso. É isso que pretendem obter, estrategicamente, nossos adversários e inimigos.

Um alerta preocupante sobre essa possibilidade foi, na última sexta-feira e no sábado, a completa ausência da presença sindical – orientadora, auxiliadora, vigilante e solidária – durante a verdadeira avalanche de mais de 5 milhões de brasileiros que buscavam resgatar suas contas inativas do FGTS. Uma ausência estarrecedora, qualquer que seja a envergonhada explicação para isso.

Quando nos concentramos na organização das manifestações do dia 15 de março e trabalhamos para seu êxito, estamos procurando também contrariar essa tendência funesta à irrelevância sindical.

 


João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical

 

 

 

 

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