Allen Habert*
15 de maio de 2019 inscreveu-se gloriosamente na história da educação no País. Paulo Freire, patrono da educação brasileira, piscou e sorria confiante através de um cartaz na traseira de um caminhão de som na Av. Paulista em São Paulo de sol e garoa.
Nas ruas, a emoção e a esperança tomaram conta de 222 cidades com mais de 2 milhões de manifestantes ocupando seus lugares centrais.
São Paulo 300 mil, BH 250 mil, RJ e Recife 150 mil, Fortaleza 100 mil, Brasília e Salvador 50 mil participantes... Brilharam com os estudantes, crescidos no século 21, os professores, pais e avôs conscientes alegrando e animando com sua indignação e leveza a alma do povo brasileiro.
Ao caminhar com os pés livres e olhos bem abertos durante 4 horas na Paulista, lembrei de muitos guerreiros e educadores que tinham lutado e nos legaram conquistas essenciais na educação. A longa batalha da escola e da universidade públicas e gratuitas. A democratização do acesso a elas na Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases, os avanços ainda tímidos contra as discriminações de cor no ensino superior. A ampliação das bolsas de estudo dentro e fora do País que está bloqueada hoje, a educação continuada dos profissionais universitários que ainda está tímida e órfã.
Um fio invisível nos uniu e conduziu ligados a este passado de lutas em todas estas marchas. É a força da memória e da história.
Ato em defesa da educação pública na Avenida Paulista. (foto: Soraya Misleh)
O que o MEC, seu ministro e o presidente mexeram foram com mais de 70 milhões de estudantes de todos os níveis. Um terço da população brasileira estuda. A China tem 30%, os EUA 25%, o Brasil 33%. Além dos 2 milhões de professores. Foi uma representação significativa e mais mobilizada deste gigantesco oceano que compreendeu o drama vivido e foi às ruas explicar a todos que os cortes e os contingenciamentos para a educação têm que recuar.
É uma questão que afeta a batalha do desenvolvimento soberano, da CT&I e da cultura. Afeta a indústria, a agricultura, o comércio e os serviços. O corte de 30% na educação aprofunda a recessão e o desemprego. A retirada de 42% do Ministério da CT&I ceifa nosso presente. Era sobre isto que o dia 15 de maio aflorou e se impôs. Teve o apoio do movimento sindical, da comunidade científica e tecnológica, a simpatia da população em geral e parte da mídia. Destaco o alto grau de unidade do movimento pacífico e de suas entidades.
A participação vigorosa da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e dos seus sindicatos, das entidades estaduais e municipais do professorado, da UNE, UBES, UMES, dos DCEs e dos centros acadêmicos estudantis garantiram um grande leito para que os rios humanos pudessem constituir esta força impactante no cenário político. A solidariedade e apoio da CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários) e suas entidades de engenheiros, economistas, farmacêuticos, odontólogos, nutricionistas filiadas, dos petroleiros, dos bancários, de várias outras categorias importantes, movimentos sociais e das centrais sindicais constituíram uma aliança social nova.
Isto influirá nos desdobramentos da greve geral programada para 14 de junho contra o projeto que tramita no Congresso Nacional sobre o fim da aposentadoria pública da Previdência Social.
As jornadas de 15 de maio foram a expressão do início do descolamento das camadas médias das manifestações de junho de 2013 e de março de 2015. O bolsonarismo nas camadas médias foi gravemente ferido e perdem força os fantasmas e as fake news fabricados na campanha eleitoral. Mexeu-se na educação e, portanto, na vida das famílias brasileiras. Isto não é pouco. A roda da história se moveu.
*Allen Habert é diretor do SEESP.