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29/05/2019

A nova sala de aula da engenharia

 

 

Deborah Moreira
Comunicação SEESP

Após dois anos de discussões, foi publicada no Diário Oficial da União as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, em 26 de abril último. A Resolução Nº 2, de 24 de abril de 2019, propõe um conjunto de mudanças nas salas de aula das faculdades de engenharia em todo o País com metodologias ativas e competências tradicionalmente relacionadas à área de Humanas. As instituições têm três anos para implementá-las, a partir da data de publicação. Entre os desafios nesta fase de transição, está a formação do professor, que precisará passar por capacitação.

 

 

sala de aula invertida 2



É o que revelou o professor José Roberto Cardoso, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP. “O professor tem uma certa resistência, mas o problema maior é quando fazer essa formação, uma vez que esse profissional nas escolas privadas é horista. Precisamos encontrar tempo para treiná-lo. E isso só vai ocorrer no período de planejamento, que, no nosso caso, será nas férias de janeiro. Julho é férias por acordo sindical”, explicou Cardoso.

Ele vem coordenando a implantação das novas diretrizes na Universidade Santa Cecília, a UniSanta, em Santos, litoral paulista, onde, em agosto de 2018, foi feita a adequação da estrutura curricular para que os alunos pudessem iniciar este ano já com as alterações.

Até que o treinamento se concretize serão realizadas palestras, oficinas e workshops, além de um FabLab, laboratório para estimular a criatividade e inovação, onde todos os alunos passarão pela experiência.

“A maioria das disciplinas continuará igual, mas a filosofia da aula é diferente. O aluno é estimulado a fazer uma apresentação em sala de aula, é avaliado em todas as aulas, em um sistema de avaliação contínua”, detalha Cardoso, que foi diretor da Poli entre 2010 e 2014.


Atualmente, ele ministra uma disciplina, de 36 horas/aula, na pós-graduação da Poli, que aborda justamente a aplicação de metodologias ativas no curso de Engenharia Elétrica.


“Em todas as escolas tem uma ou outra atividade isolada. Na Poli, por exemplo, no curso de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Poli-USP, onde dou aula, gravo vídeos, aplico a sala de aula invertida. Mas faço porque decidi. Agora, todos terão que fazer sob orientação da direção da instituição”, continuou.


Perguntado sobre se essa mudança segue uma tendência já identificada em escolas particulares, e em algumas da rede pública, de metodologias construtivistas e interdisciplinares, ele é categórico: “Exatamente. A pressão para aplicar as metodologias ativas não estão vindo de cima, estão vindo de baixo, dos estudantes que vêm do Ensino Médio, principalmente das escolas privadas inovadoras. Imagina esse aluno que vem de um sistema dinâmico, interdisciplinar, se ele permanecerá numa escola superior que não tenha metodologia mais ativa. Não ficará”.


Do ponto de vista mercadológico, uma das consequências das novas exigências é que as faculdades optem em contratar professores com essa formação para não ter que investir na formação.


O Ministério da Educação (MEC) deverá criar um novo sistema de avaliação dos cursos. “Até isso vai ter que mudar. O instrumento de avaliação que o ministério tem só avalia as escolas tradicionais. Como avaliar esses novos requisitos? O MEC tem três anos para formatar isso, quando ocorrerão as primeiras avaliações. Na minha opinião a avaliação ainda vai dar muita discussão”.


Mercado 4.0 e novas competências
O professor Cardoso participou ativamente das discussões sobre as novas diretrizes no último ano e diz estar satisfeito com o resultado, que incluiu uma série de competências , além das técnicas já conhecidas. Agora, os cursos de engenharia têm que agregar conhecimentos que até então estavam diretamente relacionados à área de Humanas, como saber se comunicar oralmente ou estar apto a escrever um texto. São competências chamadas de soft skill ou, em português, competências socioemocionais.

“Essas mudanças são importantes para que o engenheiro tenha o que o mercado de trabalho está exigindo: formação multidisciplinar, flexível e a questão ética também ganha reforço”.

Estão elencadas nessas competências: conhecer e aplicar com ética a legislação e os atos normativos no âmbito do exercício da profissão; saber trabalhar em equipe, ter clareza do contexto em que a engenharia está inserida; ter noção de economia, história, uma vez que tudo impacta no desenvolvimento do projeto. Existe, ainda, competências específicas para projetos, em que o estudante deverá “conceber e projetar soluções criativas, desejáveis e viáveis, técnica e economicamente, nos contextos em que serão aplicadas”. “Nossos alunos estão saindo da faculdade sem saber desenvolver um projeto com começo, meio e fim; sem saber quais requisitos prevendo custos, viabilidade econômica. Em geral, a maioria das escolas, sobretudo noturnas, não têm projeto. Agora haverá”, comemora Cardoso, que lembra que há cerca de 40 anos não haviam alterações tão significativas quanto essas.


Ele recorda que as diretrizes passaram também por uma consulta pública, no final de 2018, que acabou alterando a proposta original. “Foi uma mudança cosmética. Por exemplo, a carga horária mínima de 3.600 horas que seria mais flexível, preenchidas com outras atividades, como externas, ficou engessada. Porém, os conteúdos ficaram mais flexíveis, apesar de se manter fixa disciplinas como Física, Matemática e Química”.


Acesse a Resolução Nº 2, de 24 de abril de 2019


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