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02/09/2019

Artigo - A cabeça nas nuvens ou os pés no chão

João Guilherme Vargas Netto*

Eu não soube nunca de um exército derrotado que tentasse impor os termos da rendição aos vitoriosos.

E é isto, me parece, que algumas direções sindicais andam tentando fazer ao se debruçarem com uma insistência desmoralizadora sobre o projeto de uma futura organização sindical.

Desconhecem o estrago já causado nas fileiras sindicais pela recessão, pela deforma trabalhista e pelo governo Bolsonaro e insistem em documentar qual seria uma proposta vantajosa para o movimento sindical a ser apresentada às centrais sindicais e discutida com elas e com a CNI para orientar a ação no Congresso.

Não percebem que para as entidades patronais, para a burguesia e para o governo o único brinde que o sindicalismo merece é uma mistura de Activia com Johnnie Walker (segundo um meme famoso).

Ao invés de cabeça nas nuvens eu proponho que mantenhamos os pés no chão.

Isto pressupõe, ao invés de um detalhamento utópico e diversionista sobre o futuro, o estabelecimento desde já de alguns princípios de resistência e de contenção de danos capazes de unificar nossas posições.

Em primeiro lugar é preciso resistir ferozmente contra o desmanche sindical que já está em curso e ao fazê-lo aproximar-se das bases representadas que resistem às agressões que os trabalhadores sofrem.

Deve-se também tomar medidas imediatas que encaminhem soluções práticas – financeiras, orgânicas e políticas – capazes de fazer as entidades avançarem em direção àquilo que melhor lhes serve na conjuntura e além dela (unidade de ação, incorporações, fusões, economias de escala, representações e negociações compartilhadas etc).

Um princípio vital a ser defendido e mantido é o da representação total de categoria (com limite de município) não se admitindo a diferença de representação entre associados ou não ao sindicato, nem a discriminação dos resultados.

A defesa de recursos financeiros coletivos e legais para as entidade é um ponto de honra. Esses recursos, provenientes dos trabalhadores, devem ser razoáveis, decorrentes da representatividade e das negociações coletivas e aprovados em assembleias dos trabalhadores.

E, por último, deve se exigir e garantir que quaisquer mudanças a serem feitas o sejam de forma gradativa, obedecendo a um período de transição conveniente.
Mais que detalhamentos que podem nos dividir e que seguramente nos comprometerão no curso das discussões estes cinco princípios nos fazem tirar a cabeça das nuvens e manter os pés no chão.


Joao boneco atual

* Consultor sindical






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