As ameaças feitas pelo governo brasileiro à Chevron, como impedir a sua participação nos leilões do pré-sal ou alterar a sua classificação de operadora, foram mal recebidas pelo setor de petróleo.
Antes de saberem que a ANP (Agência Nacional do Petróleo) havia proibido a empresa de perfurar no Brasil, enquanto o acidente no campo de Frade é investigado, apesar de companhia já ter suspendido a operação desde o acidente há duas semanas, representantes de empresas reunidos em um fórum do setor criticaram a maneira passional como o governo vem tratando o assunto, que envolve também a Transocean, dona da sonda utilizada na perfuração que desencadeou o acidente.
"Tem que se tirar o emocional da discussão, tem que se analisar as causas, ver os erros, mas vimos absurdos incríveis esses dias", disse o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, João Carlos de Luca, falando pela primeira vez sobre o assunto.
Ele lembrou que qualquer empresa do setor está sujeita a sofrer um acidente, "nossa indústria é de risco". Segundo de Luca, se insistir em punições exageradas o Brasil pode inviabilizar a exploração do pré-sal, já que a Petrobras também está sujeita a acidentes e será por lei operadora de todos os blocos da nova região.
"Daqui a pouco vamos inviabilizar a discussão do pré-sal, tem que dar chance da empresa se defender, não pode ficar ameaçando, ou o governo vai suspender a Petrobras no pré-sal em caso de acidente?", perguntou.
Ele informou que a Transocean possui 150 sondas no mundo e 10 estão no Brasil. A empresa também era proprietária da plataforma arrendada pela BP que explodiu no Golfo do México no ano passado e causou um dos maiores acidentes ecológicos nos Estados Unidos.
O secretário de Desenvolvimento, Energia, Indústria e Serviço do Rio de Janeiro, Julio Bueno, disse que houve exagero na reação do governo e que o acidente da Chevron "foi um acidente pequeno que contém ensinamentos importantes".
Segundo ele, o vazamento de óleo na bacia de Campos deu visibilidade para a discussão dos royalties e alertou sobre a necessidade de prevenir erros na indústria.
Também presente no fórum, o presidente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Eloy Fernández y Fernández, criticou o tom das discussões em torno do acidente da Chevron. "Está faltando racionalidade na discussão do acidente, dos roylaties, do marco regulatório. Do jeito que vai não vai ter licitação no país nos próximos 10 anos", lamentou.
(Folha de S.Paulo)
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