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31/03/2020

"Não há tempo para disputas políticas", dizem educadores e formadores de opinião da AL

Portal da Unicamp

Pesquisadores, estudiosos e formadores de opinião divulgaram uma nota conjunta sobre a pandemia da Covid-19, causada pelo coronavírus. Entre diversos pontos, eles alertam que a prioridade agora " deve ser proteger a nós mesmos, nossas famílias e nossos vizinhos; combater a propagação do vírus". "Não há tempo para disputas políticas." Abaixo, a íntegra da declaração conjunta.

 

america latina maringoni interna

 

 

Declaração de educadores, acadêmicos e formadores de opinião pública da América Latina

O mundo nunca enfrentou uma pandemia como essa. A globalização contribuiu para a velocidade com que o vírus ignorou fronteiras, e as novas tecnologias oferecem estratégias importantes para lidar com a crise. Certamente superaremos esse momento, mas nunca voltaremos ao "normal" como o conhecíamos antes.


Não há tempo para disputas políticas. Nossa prioridade imediata deve ser proteger a nós mesmos, nossas famílias e nossos vizinhos; combater a propagação do vírus; e fazer todo o possível para mitigar os danos. Não sabemos quanto tempo durará essa crise, portanto as instituições devem agir agora!


As instituições de ensino superior têm um papel crítico nesta crise. Além de fornecer serviços importantes, as IES continuam sendo uma importante fonte de pesquisa de soluções de problemas como a Covid-19, e devem continuar a ser apoiadas e protegidas. Existem várias outras coisas que elas podem e devem fazer:


1. Faculdades de medicina e hospitais universitários precisam continuar funcionando. Estes hospitais muitas vezes prestam serviços a populações marginalizadas que não recebem atendimento em outros lugares. Universidades com residências estudantis podem oferecer espaço para hospitais sobrecarregados. Os dirigentes universitários devem se concentrar na proteção da equipe médica, fornecendo os recursos necessários e fazendo todo o possível para manter suas instalações em funcionamento.


2. A saúde dos alunos, professores e funcionários está em risco. Para sua própria segurança, todos os que não trabalham em atividades críticas relacionadas à segurança do campus ou serviços essenciais devem ficar em suas casas.


3. As instituições devem assumir a responsabilidade pela segurança e bem-estar dos estudantes estrangeiros que não puderem voltar para seus países de origem.


4. As atividades de extensão, especialmente aquelas relacionadas ao atendimento à população mais carente, devem continuar na medida do possível, com as instituições atuando para apoiar e proteger os professores e alunos envolvidos.


5. A interrupção da continuidade dos estudos e adiamento da conclusão dos cursos afetará milhões de estudantes em todo o mundo. Não devemos, e não podemos dispensar estudantes ou professores das obrigações e responsabilidades que teriam em tempos normais. Colocar os cursos online é a nossa melhor opção no momento. Claramente, poucos estudantes, professores ou administradores estavam preparados para essa mudança, mas todos, em todo o mundo, estão enfrentando o desafio. Continuar trabalhando online é uma opção que devemos oferecer aos nossos alunos, apesar dos desafios para nossos professores e equipe de apoio.


6. Os dirigentes devem apoiar e monitorar os esforços dos professores. Obviamente, a qualidade variará enquanto essa transição ocorrer, mas há recursos, tutoriais e serviços de apoio disponíveis para todos, se não na própria instituição, certamente através de uma grande quantidade de materiais disponíveis online. A curva de aprendizado será acentuada, mas a qualidade melhorará com a experiência, a flexibilidade e a vontade de se adaptar a uma circunstância excepcional. Novos mecanismos para avaliação da qualidade serão, sem dúvida, necessários.


7. Com tantas instituições trabalhando a distância, haverá preocupação com a qualificação que os estudantes irão obter. É uma questão importante que deverá ser tratada mais adiante, mas não é motivo suficiente para interromper a transição para o ensino a distância.


A desigualdade sempre assombrou o ensino superior e se torna mais evidente do que nunca durante a crise. O fato de alguns alunos terem acesso mais fácil à tecnologia do que outros ou que alguns professores se sintam mais confortáveis com a tecnologia do que outros não pode ser uma justificativa para limitar as opções para todos. As instituições devem fazer todos os esforços para disponibilizar os cursos através do maior número possível de meios - telefones, tablets, desktop, TV - para maximizar o acesso.


A maioria das instituições de ensino superior demorou em incorporar os recursos das novas tecnologias. Se tivesse havido abertura e flexibilidade mais cedo, a transição agora seria menos traumática. O ensino superior provavelmente não será o mesmo de antes da pandemia, com a educação virtual ocupando um lugar muito mais importante em todas as instituições, públicas e privadas, do que tem sido até agora.


Não há respostas perfeitas para essa emergência. Se adiarmos decisões importantes, gastando tempo discutindo a legislação e as normas internas, pesquisando as melhores práticas e esperando que as pessoas se adaptem à educação a distância, perderemos um tempo precioso. Devemos oferecer opções enquanto nos adaptamos à realidade atual da melhor maneira possível. É preciso consertar bicicleta com ela andando, e sem cair.


Os cientistas vêm prevendo há tempos que uma pandemia poderia ocorrer, mas não tiveram recursos suficientes para desenvolver soluções. Muitos políticos optaram por ignorar os avisos, deixando de financiar a pesquisa e o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde. A política não causou essa crise, mas os políticos certamente contribuíram para nos deixar despreparados.


O foco de nossas instituições deve estar na saúde pública e no que podemos aprender com os cientistas à medida que eles aprendem mais sobre esse vírus. A liderança institucional deve fazer todo o possível para apoiar nossos pesquisadores e professores, na busca de soluções. Os políticos devem assumir um papel ativo de liderança agora para apoiar todas as nossas instituições para chegar aos melhores resultados. Se perdermos tempo dando prioridade às agendas políticas individuais, locais ou nacionais, o risco de todos aumentará.


Assinam,

 

Raúl Atria Vicedecano, Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de Chile.

 

Jorge Balán, Nova York, Estados Unidos


Elizabeth Balbachevsky, professora associada, Departamento de Ciências Políticas, e diretora, Centro de Investigação para a Política Pública, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, Brasil


Andrés Bernasconi, professor de Educação, Pontificia Universidad Catolica de Chile, Santiago, Chile

 

Javier Botero Álvarez, consultor, Colômbia


José Joaquín Brunner, diretor, Cátedra Unesco de Políticas Comparadas de Educación Superior, Centro de Políticas Comparadas de Educación (CPCE), Universidad Diego Portales, Santiago, Chile


Hans de Wit, diretor, Center for International Higher Education, Boston College Boston, Estados Unidos


Ana Fanelli, investigadora, Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (Conicet), Centro de Estudios de Estado y Sociedad (Cedes), Buenos Aires, Argentina


Jocelyne Gacel-Avila, diretora, División de Estudios sobre Estado y Sociedad, Centro Universitario en Ciencias Sociales y Humanidades, Universidad de Guadalajara, Guadalajara, México


Kelly Henao, Asociación Columbus - Francia, investigadora - Centro de Internacionalización de la Educación - Universidad de Groningen. Bogotá, Colômbia


Marcelo Knobel, reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, Brasil


María José Lemaitre, diretora executiva, Cinda, Santiago, Chile


Alma Maldonado-Maldonado, investigadora do Departamento de Investigaciones Educativas (DIE-Cinvestav), Cidade do México, México


Salvador Malo, diretor de Aseguramiento de la Calidad en la Educación y el Trabajo (Acet), Cidade do México, México


Francisco Marmolejo, assessor educativo da Fundação Catar, Doha, Catar


Mónica Marquina, investigadora do Conicet, Untref, e professora da Universidad de Buenos Aires, Argentina


Carlos Marquis, investigador, Universidad de San Martín (Unsam), consultor en Educación Superior, Buenos Aires, Argentina


Iván Francisco Pacheco, consultor de Educação Superior Associado de Investigação, Center for International Higher Education, Boston College Boston, Estados Unidos


Marcelo Rabossi, professor de Educação, Universidad Torcuato Di Tella, Buenos Aires, Argentina


Alberto Roa, reitor da Universidad Tecnológica de Bolívar, Cartagena, Colômbia


Fábio Reis, diretor de Innovación y Redes de Cooperación, Semesp Presidente del Consorcio STEHM, Brasil


Liz Reisberg, consultora de Educação Superior Associada de Investigação, Center for International Higher Education, Boston College Boston, Estados Unidos


Jamil Salmi, professor emérito de Política da Educação Superior, Centro de Políticas Comparadas de Educación (CPCE), Universidad Diego Portales, Research Fellow, Center for
International Higher Education, Boston College


Dante Salto, professor assistente, University of Wisconsin-Milwaukee, Estados Unidos


Daniel Samoilovich, diretor executivo, Asociación Columbus Paris, França


Simon Schwartzman, Academia Brasileira de Ciências, Brasil


Lina Uribe-Correa, reitora da Fundación Universitaria Konrad Lorenz, Colômbia


Jeannette Vélez R., CEO Glocal Actions and Solutions - Gloccals, Colômbia


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