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17/08/2020

Integração de gerações é saudável e produtiva para as empresas

Longevidade e trabalho não são excludentes, observa criadora do Conexão Melhor Idade

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Atualizado em 18/9/2020

Solange Vilella iniciou sua carreira profissional em 1995, na área de publicidade do jornal O Estado de S. Paulo (Oesp). Trabalhou até 2001 elaborando relatórios gerenciais e anúncios publicitários do periódico. Em 2002, fez transição de carreira para a área de assessoria de comunicação. Hoje, aos 56 anos de idade, é gerente administrativa de agência e atua também na contratação de jornalistas. Há dois anos, iniciou uma ação que nasceu de sua vontade de valorizar os saberes dos mais velhos, o "Conexão Melhor Idade". Sem fins lucrativos, este tem a missão, como está descrito no perfil no LinkedIn, de falar sobre direitos e deveres e integrar a pessoa com mais de 60 anos ao mercado de trabalho. Para Vilella, a relação intergerações no ambiente laboral “será o caminho de sucesso das empresas no século XXI”.

 

300 Sol Melhor idade 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Todos ganham num ambiente de respeito,
ética e responsabilidade social.
Solange Vilella.

Assim como a população mundial está envelhecendo, o Brasil também vem alcançando a longevidade. Segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicadas em 2019, o País terá mais um milhão de idosos a cada ano, nos próximos dez anos, e chegará a 2060 com 73,5 milhões de pessoas acima de 60 anos, o equivalente a um terço de uma população estimada em 218 milhões de habitantes. A expectativa de vida ao nascer já alcança 76,2 anos, contra 45,5 em 1940. 

 

Nesse sentido, vale a observação da nossa entrevistada de que os gestores que não têm a prática do etarismo – discriminação ou preconceito contra pessoas ou grupos baseados na idade – estão bem à frente do seu tempo. “Todos ganham num ambiente que compreenda a importância da mão de obra veterana e dos que estão chegando.”

 

Sol, como também é conhecida pelos amigos e colegas pelo seu sorriso largo e com muito brilho, é casada e tem um filho de 32 anos. Ela é formada em Letras pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), em Lorena, e em Pedagogia pela Universidade Paulista (Unip). Fez pós-graduação em Economia e Gestão das Relações do Trabalho na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e MBA em Gestão Estratégica do Capital Humano nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).

 

O que a motivou a criar o projeto Conexão Melhor Idade?
Comecei a pensar num propósito maior há dois anos, quando me deparei com a possibilidade de chegar à aposentadoria. Penso que sou ainda muito jovem, e tenho muito a contribuir com a sociedade.

 

Nosso principal eixo é a intenção de minimizar os impactos das desigualdades vividas por pessoas sêniores no trabalho e a aproximação com jovens. Essa troca entre as gerações é algo saudável e produtivo para todos os envolvidos, principalmente para as empresas.

 

Com essa missão, valorizamos a humanização, o amor e a coragem, e damos a nossa contribuição à construção de uma sociedade mais inclusiva, com acesso à educação, cultura e participação social. Todas as nossas ações estão sempre pautadas pela conduta ética dentro dos seguintes pilares: integridade, transparência, responsabilidade, diversidade e respeito.

 

Como tem sido a sua experiência com o público veterano e o que ele traz de mais precioso para nós e o mundo profissional?
O convívio com os veteranos é algo fascinante. A experiência que eles carregam em suas vidas nos remete a respeito, formas de pensar equilibradas, paciência e perceber que você pode priorizar escolhas que te levem a alcançar momentos mais agradáveis em sua vida.

 

Dependendo da sua escolha de vida, você poderá canalizar melhor qualidade de vida no que diz respeito a exercícios físicos, saúde mental e alimentação.

 

Um desafio constante no mundo de hoje é ter ao seu lado alguém com equilíbrio e serenidade na hora de decisões. Em contraponto, a juventude nos traz leveza e alegria. Essa é a grande harmonia! 

 

Como o Conexão desenvolve suas ações e mantém contato com o público?

Nossas ações estão no campo das mídias sociais e com o foco na conscientização sobre qualidade de vida direcionada ao público sênior. Fizemos alguns eventos presenciais com palestras e cursos voltados à orientação. Um dos temas foi “Como aproveitar os meios digitais com segurança e alegria”. Também investimos na produção de vídeos com entrevistas e exemplos de profissionais que são referência no mercado em que atuam. Entrevistamos, desde Portugal, uma profissional que trabalha com essa temática; depois, o professor Manoel Marcondes Neto, que nos deu um belo exemplo do planejamento do trabalho na melhor idade; e ainda, a professora emérita da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Nelly de Camargo. [Os vídeos das três entrevistas estão publicados ao final desta matéria].

 

Atualmente mantemos uma coluna chamada “Entre gerações” no portal Observatório da Comunicação Institucional, em que falamos sobre essa relação de trabalho no ambiente corporativo. Além disso, estamos atualizando o nosso site, que estará voltado à realização de cursos que possibilitem melhor inserção dos sêniores em plataformas digitais. Vamos oferecer cursos sobre aplicativos de mensagens, Facebook, LinkedIn e Instagram. 

 

Editada Sol Melhor idade 2Sorriso largo valeu para Vilella o apelido carinhoso de Sol. Crédito: Vivian Koblinsky/LinkedIn.

 

O que perdemos ao criar um olhar preconceituoso na relação de trabalho entre as gerações Baby boomer (1945-1964), X (1965-1984) e Y (1985-1999) e até a Z (2000-atual), por exemplo?
Acredito que se perde tudo. Preconceito, antes de mais nada, é algo monstruoso, deveria ser combatido e visto com mais cuidado dentro das organizações. Percebo que com a discriminação vem o sofrimento de não poder partilhar um olhar com mais respeito, e isso pode acontecer em ambas as partes. Um ambiente harmonioso é fundamental para o sucesso de qualquer empresa.

 

Penso que o equilíbrio é algo que deve ser conquistado e saudável para todos. Os gestores que mantêm esse olhar estão bem à frente do seu tempo. Todos ganham num ambiente de respeito, ética e responsabilidade social.

 

Longevidade e trabalho são excludentes?
Não deveriam ser excludentes. No cenário da nova realidade da população brasileira, que discute a relação da senioridade no ambiente laboral, e as dimensões que o trabalho pode representar na sua vida social, pode nascer um novo olhar para a gestão de pessoas. Hoje existe um movimento de maior valorização das relações humanas.

 

Quando examino a velhice em seus diversos aspectos, principalmente os sociais, observo a questão do trabalho e da aposentadoria como apoio aos profissionais longevos e um dos desafios gerenciais do nosso tempo.

 

As organizações que contratam ou mantêm longevos no seu quadro de colaboradores colhem informações preciosas desses profissionais. Pode-se observar que o sentido do trabalho para o sênior, além de contar o caráter econômico e a possibilidade de conforto financeiro, alcança uma dimensão mais particular. Há uma percepção de uma vida social saudável, que, como consequência, eleva a sua autoestima.

 

Penso que o longevo, cujo trabalho se reverte de forma muito benéfica para a organização, deixa marcas positivas. Porém, devemos repensar as condições de trabalho, pois o desempenho físico já não é mais o mesmo de outrora. Por isso, acredito na intergeracionalidade como experiência benéfica no ambiente laboral.


Existem iniciativas de empresas para a inclusão desse público veterano?
Elas ainda são poucas e tímidas, mas já existem alguns programas que englobam essa mão de obra. A torcida é para que mais organizações entendam e percebam que a troca de conhecimento e aprendizado entre as gerações deve ser o caminho para o sucesso de uma empresa do século XXI.

 

Um conselho para recrutadores e selecionadores e CEOs sobre a mão de obra veterana.

Na verdade, diria para se despirem de preconceitos. Com olhar mais humano e profissional, perceberem responsabilidade, confiança, dedicação, experiência e maturidade emocional, observadas as devidas solicitações que o cargo exige.

 

Acredito que há uma grande preocupação, agora mais do que nunca, com o acerto na contratação. Deixo aqui como sugestão que gestores possam fomentar projetos internos voltados para esse público mais sênior. Isso pode trazer belíssimos resultados à empresa, principalmente neste momento difícil de pandemia.

 

Por fim, suas dicas de livros, filmes e outros tipos de leitura para entender melhor mais esse universo.
O filme “Um senhor estagiário” é uma dica bem interessante, além de ensinar sobre a liderança das mulheres no ambiente de trabalho. O filme “Para sempre Alice” também nos dá a dimensão do pensar nas ações de hoje, pois a sua vida pode mudar de forma inesperada. O livro “A bela velhice” é um ensaio escrito pela antropóloga Mirian Goldenberg, um texto fascinante porque aborda a velhice com muita sensualidade e leveza.

 

Assista aos vídeos com as entrevistas:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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