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27/08/2020

Artigo - O fantástico trabalho do CAE

Nestor Tupinambá*

alimentacao saudavel CAE homeIlustração: FreepikO Conselho de Alimentação Escolar (CAE) é um colegiado deliberativo de controle social, constituído por 42 pessoas, entre pais de alunos, trabalhadores da educação e representantes de entidades sem fins lucrativos. E é aí que entra a minha participação como diretor SEESP, indicado pela entidade para vistoriar as condições físicas das escolas municipais.

Ao assumir a tarefa, fui sendo surpreendido a cada reunião e, principalmente, a cada visita às escolas, que são inspecionadas a cada mês, nos quatro cantos da cidade, em bairros como Itaquera, Guaianases, Cidade Tiradentes, Brasilândia etc.. Uma especial, de cuja existência não suspeitava, em Parelheiros, funciona dentro de uma aldeia indígena! Processo interessante e diferente, respeitando os costumes.

A fiscalização é feita, principalmente, sobre a utilização da verba federal do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), neste ano estimada em R$ 130 milhões. Somam-se ela recursos da contrapartida do Município de São Paulo.

O mais relevante, contudo, é conhecer como esse trabalho se desenvolve, majoritariamente exercido por mulheres – nutricionistas, professoras, mães –, com grande esforço e coragem. Um exemplo foi a visita à escola que abrigava alunos a partir de oito meses de idade. Entramos com o aviso: “o estomago dessas crianças não aguenta 40% dos que os nossos aguentam, então seremos rigorosos”.

Foram inúmeras repreensões. Freezer sem termômetro e carne com cheiro esquisito? Lixo! E arrumem um termômetro! Pacote de alho sem etiqueta da data da abertura? Lixo, já que o produto não suporta mais de cinco dias assim (lembrei-me dos meus, fora da embalagem há muito mais tempo....). Extratos de soja sem obedecer a composição correta? Lixo! Frutas misturadas? Bolor? Lixo! Margarina aqui? Não faz parte! Fora!

A diretora constrita, cara de choro, me motivou a apoiá-la. Disse-lhe que encarasse como uma parceria, como uma ajuda sincera, embora de modo rigoroso, à saúde das crianças. Pior seria uma diarreia coletiva com audiência no telejornal matutino. Ela concordou comigo.

Outra demonstração de eficiência foi questionar a chefe da cozinha quanto a várias latas depositadas sobre as bordas de uma pia metálica, localizada na entrada da cozinha e destinada à higiene das mãos. Com os objetos ali, como seria possível lavar as mãos? A senhora argumentou que estavam lá por alguns momentos, somente. No entanto, as marcas de ferrugem contradiziam a versão. Nova advertência!

Assim, o trabalho se desenvolve com atividades que incluem a cobrança pela ampliação da alimentação orgânica e a queixa pela inexistência de hortas, a denúncia dos “derrames” de alimentos com prazo de validade curto, por isso mesmo “desovados”, e pedidos de reuniões com o secretário Municipal de Educação, nem sempre atendidos com presteza.
Certamente essa fiscalização, constante e rigorosa, consegue assegurar uma alimentação nutritiva aos nossos pequenos cidadãos, que também são ouvidos para contar se gostam da comida e se aproveitam bem as refeições.

É lamentável perceber as tentativas perversas de ganhos indevidos. Não fora a vigilância atuante, firme e detalhada sobre alimentos e sua composição, equipamentos das cozinhas e armazenamento, receitas e outros pontos essenciais, os pequenos não comeriam tão bem. Confesso que me surpreendeu a qualidade da alimentação escolar nas escolas públicas. Nelas, ao menos em nutrição, não há a desigualdade reinante em nossa sociedade. Em boa parte, isso se deve ao CAE. Orgulho de participar desse time competente e ousado, com o apoio incondicional do SEESP nessa parceria tão importante! Vida longa e muita força a esse colegiado e a todos os seus membros! Contem conosco!


200 Nestor

*é engenheiro, diretor do SEESP e representa a entidade no Conselho de Alimentação Escolar (CAE).






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