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25/08/2023

Um soldado general dos generais

Carlos Magno Corrêa Dias*

 

“Sigam-me os que forem Brasileiros”

A célebre frase do parágrafo acima foi proclamada pelo Soldado Brasileiro, Marechal de Campo, Caxias, Luís Alves de Lima e Silva (25/08/1803-07/05/1880), o Duque de Caxias, o Patrono do Exército Brasileiro, o Pacificador, o Marechal de Ferro, aquele que como líder diplomata soube aliar com maestria a ação militar com habilidade política para a consolidação da Unidade Nacional Brasileira.

Não apenas o brado em referência gritado a plenos pulmões no dia 6 de dezembro de 1868, quando o Exército Brasileiro avançava na Passagem de Itororó, durante a sangrenta Guerra do Paraguai, é sinônimo do ideal do Soldado incorporado por Caxias como identifica, também, o mais importante Oficial Militar da História do nosso Brasil pelos feitos prestados à Nação. 

“Predestinado à carreira das armas” e um estadista por natureza, Caxias foi cadete desde muito jovem e já aos trinta e nove anos ascendeu ao posto de Marechal de Campo. Sua postura como líder diplomata, aliando à ação militar com a habilidade política, mantendo o respeito como “ordem do dia”, contribuiu sobremaneira para a consolidação da unidade nacional brasileira e para o fortalecimento do poder central em sua época.

Pouco, entretanto, se conhece sobre os primeiros anos de vida de Luís Alves de Lima e Silva a não ser que nasceu na então fazenda de São Paulo, Taquaruçu, próximo da Vila de Porto da Estrela, na Capitania do Rio de Janeiro, quando o Brasil era vice-Reino de Portugal; local atual do Parque Histórico Duque de Caxias, no município de Duque de Caxias, do Estado do Rio de Janeiro; e que, com apenas cinco anos de idade já era titulado Cadete de 1ª Classe passando sua infância em moradia localizada na rua das Violas, atual rua Teófilo Otoni.

 

Historiadores reportam, também, que o menino Luís Alves de Lima e Silva estudou no Convento São Joaquim, no local onde atualmente se encontra o Colégio Dom Pedro II próximo ao Quartel do Campo de Santana, hoje denominado Palácio Duque de Caxias e no qual está o Comando Militar do Leste.

 

Mais tarde, aos quinze anos de idade, Luís Alves de Lima e Silva matricula-se na Academia Real Militar permanecendo entre os anos de 1818 até 1821 quando sai promovido a Tenente e vai servir no 1º Batalhão de Fuzileiros considerada unidade de elite do Exército do Rei, quando já se reconhecia no jovem miliar características excelentes de comando e de diplomacia.

 

Em outubro de 1822, foi organizada a Imperial Guarda de Honra e o Batalhão do Imperador que foram integrados por militares considerados de valor excepcional. O Tenente Luís  Alves de Lima e Silva recebeu das mãos do próprio Imperador a bandeira do Império recém-criada, na Capela Imperial.

 

Contam os historiadores que dentre as honrarias recebidas por Caxias a que mais se orgulhava de ter conquistado foi o de “Veterano da Independência” dado ter sido reconhecido como o aquele que conseguiu pacificar o movimento contra a Independência do Brasil, ocorrido em junho de 1823, quando o Batalhão do Imperador foi destacado para resolver conflito na Bahia. 

 

Com o fim das hostilidades na Bahia, coube ao jovem Tenente Luís Alves de Lima e Silva carregar a bandeira brasileira quando da entrada das forças legalistas em Salvador. Devido à bravura com a qual enfrentou o conflito foi agraciado com a Ordem do Hábito de Cristo aquela que era a mais alta distinção militar da época.

Já como Capitão, em 1825, Luís  Alves de Lima e Silva segue com o Batalhão do Imperador para a província da Cisplatina (atualmente o Uruguai) para combater revoltosos. Devido ao seu excelente comando e liderança na campanha recebeu a Ordem do Hábito de Aviz e ao término da Campanha da Cisplatina na volta à Corte foi promovido a Major recebendo, também, a Ordem da Rosa, no grau de Cavaleiro.

 

Embora existam relatos que Luís Alves de Lima e Silva tenha sido noivo de jovem filha do Corregedor em Montevidéu quando atuava na Campanha da Cisplatina, o Major Luís Alves de Lima e Silva casou-se, em 1833, com a jovem Ana Luísa de Loreto Carneiro Viana (Anica) de apenas 16 anos. Entretanto, o casamento aconteceu sem o consentimento da mãe da noiva, pois viúva nutria forte aversão ao Imperador e aos integrantes do Batalhão do Imperador que foram os responsáveis pelo corte das amoreiras no Campo de Santana que o pai da menina havia plantado e que cuidava com todo zelo. A mãe da esposa de Luís Alves de Lima e Silva jamais perdoou a monarquia dado que seu marido veio a adoecer e morrer poucos dias após seu jardim ter sido destruído. Outros fatores tais como o fato de Luís Alves de Lima e Silva ser 14 anos mais que velho que sua esposa e não proceder de família nobre contribuíram, também, para que o casamento não fosse naturalmente aceito.

 

Conta-se que lua-de-mel de Luís Alves de Lima e Silva sua esposa havia proposto que deixasse o Exército para evitar as repetidas ausências que certamente aconteceriam quando fosse chamado para as campanhas. O futuro Duque de Caxias que tratava sua esposa com toda atenção não hesitou em atender a mulher. Mas, quando se punha a caminho do Ministro da Guerra para entregar seu requerimento de dispensa, foi impedido pela própria esposa que voltando atrás incentivou o marido a seguir a carreira escolhida.

 

Assim, continuando sua trajetória, em 1837, já como Tenente-Coronel, Luís Alves de Lima e Silva segue para pacificar a província do Maranhão, onde havia iniciado o movimento da Balaiada que foi uma revolta popular ocorrida no Maranhão, entre 1838 e 1841, em prol dos menos favorecidos. Teve o nome Balaiada por causa dos balaios fabricados na região.

 

No final de 1839 passou a ocupar o posto de Coronel, foi nomeado Presidente da Província do Maranhão e designado Comandante-Geral das Forças em Operações. Como prêmio e distinção por seus feitos em campo de batalha foi distinguido, também, como “Veador de Suas Altezas Imperiais” (antigo título honorífico em Portugal e no Brasil, que se atribuía ao oficial-mor (comandante) que servia junto à realeza).

 

Por haver conseguido a pacificação do Maranhão, em 18 de julho de 1841, Luís Alves de Lima e Silva recebe o título nobiliárquico de Barão de Caxias, sendo naquele mesmo ano de 1841 promovido a Brigadeiro e eleito unanimemente como Deputado na Assembleia Legislativa da Província do Maranhão. Em março de 1842 o Barão de Caxias passou a ser o Comandante das Armas da Corte.

 

É importante ressaltar que durante a permanência de Luís Alves de Lima e Silva na Província do Maranhão ele conheceu um garoto indígena órfão de mãe e filho de um cacique que fora vítima da Guerra da Balaiada. Aquele menino foi adotado como filho por Caxias e em quem Caxias depositava toda confiança. Seu filho adotivo ajudou a criar o único filho natural de Caxias, cuidou da saúde da esposa de Caxias e do próprio Caxias. No seu testamento Luís Alves de Lima e Silva deixou todas as suas roupas de uso pessoal e mais 400.000 réis de herança para seu filho adotivo. Luís  Alves de Lima e Silva teve três filhos naturais; duas meninas e um menino que veio a falecer com apenas 14 anos de idade.

 

Saliente-se, também, que o termo “Caxias” de acordo com biógrafos de Luíz Alves de Lima e Silva “simbolizava a revolução subjugada. ... O título de Caxias significava, portanto: - disciplina, administração, vitória, justiça, igualdade e glória". Com o passar do tempo Caxias "se tornou sinônimo de um oficial e cidadão correto que nunca infringe a lei - assim vem o termo popular Caxias, que se refere a indivíduos que seguem as normas sem desconfiança, dúvida ou evasão".

Então, Caxias, o Pacificador (alcunha pela qual Caxias já era conhecido), lá em maio de 1842, mais uma vez era chamado para pacificar outro levante agora na província de São Paulo. Naquele mesmo ano o Brigadeiro Luís Alves de Lima e Silva foi nomeado tanto o Comandante-Chefe das Forças em Operações da Província de São Paulo como, também, o Vice-Presidente da Província de São Paulo.

 

Na sequência, ainda no ano de 1842, Caxias foi designado Comandante do Exército Pacificador na Província das Minas Gerais e no dia 30 de julho, por ter pacificado as Províncias de São Paulo das Minas Gerais, foi promovido a Marechal de Campo quando possuía menos de quarenta anos de idade.

Todavia, o período da história do Brasil continuava complicado e revoltas continuavam a explodir por todas as regiões como aquela que desde setembro de 1835 acontecia, na então Província do Rio Grande do Sul. Era a chamada Revolução ou Guerra Regional que ficou conhecida como a Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha.

 

Muitas foram as dificuldades enfrentadas nas tentativas de debelar aquele violento conflito que se estendeu até março de 1845. O sistema de guerrilha e a troca constante de Presidentes e dos Comandantes de Armas da Província dificultavam ainda mais uma solução até que o Pacificar foi novamente chamado para resolver.

 

Luís Alves de Lima e Silva 3No ano de 1842, no dia 9 de novembro, o Barão de Caxias foi nomeado Presidente da Província e Comandante Supremo Imperial sendo incumbido de pacificar a região. Com seu conhecimento, inteligência, diplomacia de estadista e experiência para pacificar Caxias reorganizando o Exército pôs fim definitivamente ao conflito. A atuação de Caxias foi, entretanto, magnifica, nobre e tão correta para com os oponentes que a própria Província do Rio Grande do Sul, após unificada, veio indicar Caxias para Senador.

 

Embora lhe tenha sido dado pelos governantes da época todo poder para agir contra os revoltosos sem medir consequências o Barão de Caxias se posicionou com humanidade e elevado altruísmo para resolver a situação demonstrando uma vez mais porque era reconhecido como o Pacificador do Brasil sem, contudo, deixar de ser firme e honroso no campo da luta dada a sua excelência militar que lhe dava o reconhecimento de Marechal de Ferro também.

 

Seus atos de bravura e de respeito à vida humana não apenas conquistaram a estima e o reconhecimento dos adversários como, também, contribuíram determinantemente para o estabelecimento da paz.  O General dos Generais, Caxias, se transformava não apenas no Conselheiro da Paz, mas no maior Pacificador do Brasil.

 

Em 1845 o Império do Brasil concede ao Barão de Caxias o título nobiliárquico de Conde de Caxias. Em 1847 o Conde de Caxias assumiu uma cadeira de Senador pela Província do Rio Grande do Sul e em 1850 foi indicado Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande.

 

Homem sério, que jamais se permitiu utilizar de meios ilícitos, que jamais faltou com a verdade, que não subornou e nem se deixou subornar, que não corrompeu e nem se deixou corromper, Luís Alves de Lima e Silva foi pessoa extremamente correta e admirável e toda sua carreira política seguiu a mesma postura de dignidade e respeito com a qual se notabilizou como Soldado do Brasil. Paradoxalmente, até seus detratores o admiravam e o respeitavam.

Em 5 de setembro de 1851 Caxias, como Presidente da Província do Rio Grande do Sul e Comandante-Chefe do Exército do Sul, entra no Uruguai vencendo as tropas inimigas e diminuindo as tensões nas fronteiras dos pampas gaúchos. Em 1852, Caxias passa a ocupar o posto de Tenente-General e se torna Marquês de Caxias.

 

Em 1855, já integrante da Administração do Estado, Caxias assumiu o cargo de Ministro da Guerra; tornando-se em 1857 o Presidente do Conselho de Ministros do Império, cargo que tornou a ocupar em 1861 quando foi novamente o Ministro da Guerra. Em 1862, foi nomeado Marechal do Exército e no ano seguinte assumiu novamente a função de Senador. 

 

Incansável e sempre não medindo esforços para defender a Pátria, Caxias, no ano de 1866, como Comandante-Chefe das Forças do Império em Operações contra o Paraguai demonstra uma vez mais sua maestria nas batalhas atuando na Campanha da Tríplice Aliança conflito que reuniu os exércitos do Brasil, Argentina e Uruguai contra as Forças Militares do Paraguai a qual teve seu início em 1865.

 

Na Guerra do Paraguai Caxias escreveu definitivamente seu nome na história militar do Brasil mostrando toda sua forte liderança e seu infindável esforço para chamar seus comandados à luta. "Sigam-me os que forem Brasileiros". Caxias só parou quando em primeiro de janeiro e 1869 tomava a cidade de Assunção, Capital do Paraguai; tendo naquele mesmo ano de 1869 recebido o título nobiliárquico de Duque de Caxias.

 

Mas, o Duque de Caxias não parava e em 1875 foi nomeado, pela terceira vez, como Ministro da Guerra e Presidente do Conselho de Ministros; seguindo firme com suas contribuições para escrever a história do Brasil. Devido, porém, à idade já avançada e doente, chegava a hora do colossal Duque de Caxias se retirar quando decidiu retornar à sua terra natal, a Província do Rio de Janeiro, na Fazenda Santa Mônica, na Estação Ferroviária do Desengano, atualmente Juparaná. No dia 7 de maio de 1880, às 20 horas e 30 minutos, o Duque de Caxias, o grande Soldado do Brasil, o Pacificador do Brasil, o General dos Generais, entrava para a Galeria dos Imortais falecendo aos seus 76 anos de idade.

 

Historiadores de distintas posições ideológicas não se cansam em dizer, sem hesitar, que Caxias soube “incorporar a responsabilidade de alcançar o objetivo”, foi "extremamente poderoso dentro do Partido Conservador", "provou sua capacidade e sua lealdade ao derrotar revoltas contra o regime", foi "um brilhante oficial militar" e, também, "a figura militar mais famosa do Brasil”, foi “um homem genuinamente leal ao trono", ocupou “um lugar sublime na mitologia nacional do Brasil”, atuando “tanto como estadista quanto como militar, foi astutamente competente nos dois papéis", sendo o "o maior e o mais importante Soldado do Brasil".

Pelos seus mais de 60 anos de relevantes serviços prestados ao Brasil tanto como político e administrador público quanto como Soldado de vocação que honrou com inigualáveis méritos a tradição militar a serviço da unidade, da paz social, da integridade e da soberania do Brasil Império, a data de aniversário natalício de Luís Alves de Lima e Silva foi adotada como o Dia do Soldado do Exército Brasileiro. A cada 25 de agosto celebra-se em sua homenagem o Dia do Soldado.

 

Em conformidade com o Decreto do Governo Federal de 13 de março de 1962 o nome do Duque de Caxias passou a ser imortalizado como o Patrono do Exército Brasileiro aquele Brasileiro e militar que sempre será a figura tutelar da Força Armada Terrestre do Brasil.

 

Ano após ano não cessarão as inúmeras homenagens ao grande Pacificador do Brasil e na recordação, na lembrança nacional, sempre haverá de ser exaltado o grande Duque de Caxias.

 

Algumas homenagens são, entretanto, essenciais, muito mais que especiais, como aquela que se presta seguidamente desde 1931, quando os Cadetes do Exército, da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), a cada nova Cerimônia de Graduação, empunhando o Espadim de Caxias, uma cópia fiel do sabre de campanha de Caxias (cujo original está guardado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro desde 1925), e prestam seus juramentos proclamando com orgulho, admiração e convicção a sentença "Recebo o sabre de Caxias como o próprio símbolo da Honra Militar".

O Espadim de Caxias, criado em escala reduzida, constitui uma arma privativa que distingue todo Cadete da AMAN dos demais militares sendo enormemente significativa para que os exemplos do Duque de Caxias se mantenham presentes no seio da Escola e inspiram seus integrantes. O Espadim de Caxias é uma réplica da espada de campanha do Pacificador, aquela que o Marechal de Ferro desembainhou na Batalha de Itororó, ao proferir sua célebre frese: “Sigam-me os que forem Brasileiros”.

 

Atualmente, os restos mortais do Duque de Caxias, aquele que sempre será exemplo do Soldado, repousam no Pantheon de Caxias, construído em frente ao Palácio Duque de Caxias, na cidade do Rio de Janeiro.

 

A despeito de toda glória obtida e homenagens que se prestam seguidamente a Luís Alves de Lima e Silva, é importante lembrar que dentre seus desejos testamentários estavam a vontade de ser enterrado sem pompa; dispensando as honras militares; tendo seu caixão conduzido por seis Soldados da Guarnição da Corte, dos mais antigos e reconhecidamente de bom comportamento.

 

Quando o caixão de Caxias chegou no dia seguinte à sua morte na Estação do Campo de Sant’Ana, o corpo do Imortal Soldado estava vestido com o seu mais modesto uniforme de Marechal-de-Exército que possuía em vida, trazendo no peito tão somente duas das numerosas condecorações que recebeu: a do Mérito Militar e a Geral da Campanha do Paraguai; as únicas forjadas em bronze (como havia desejado antes de falecer).

 

A Soberania de uma Nação é evidenciada todas as vezes que sua História é recordada e seus grandes exemplos são rememorados e festejados. No dia 25 de agosto, Dia do Soldado, relembrando o formidável Caxias, cumprimentos a todos os Soldados do Brasil que serviram e servem com honra, respeito e dignidade, sem medir esforços, a nossa Pátria Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

*Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).

 

 

 

 

 

 

 

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