Esse foi o tema abordado na tarde desta sexta-feira (13), durante a mesa que encerrou o seminário “Água e energia – Enfrentar a crise e buscar o desenvolvimento”. Realizada na sede do SEESP, em São Paulo, a atividade teve início no dia 12 e inaugurou os debates sobre o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” em 2015 – iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) lançada há mais de oito anos e que vem sendo atualizada desde então.
Foto: Beatriz Arruda
Diante das crises hídrica e energética, soluções para ambos setores são prioridade na etapa atual e serão ainda objeto de outros eventos pelo País ao longo do ano.
O presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, abriu as falas à mesa que discorreu sobre “Energia para o desenvolvimento”. Ele enfatizou que as saídas para as dificuldades atuais encontram-se não apenas na engenharia clássica, mas também “econômica, institucional e regulatória”. Destacando que tem havido diálogo sobre uma agenda positiva com o governo federal na busca de tais soluções, ele frisou: “A expectativa é que haja medidas suficientes para superar os problemas ainda em 2015, de modo que o ano seguinte seja de retomada.” Entre os desafios, reduzir o impacto do custo da energia à produção. “Empresas distribuidoras cada vez mais têm se tornado um negócio de aluguel de fios e outros meios de transporte da energia. Investir em eficiência energética envolve preservar a renda associada a um ativo.” Ele complementou: “Nossos competidores internacionais vêm sendo beneficiados, porque têm acesso a energia mais barata. A Conta de Desenvolvimento Energético (CDE, um dos itens que compõem a tarifa) representa 33% do custo de produção de algumas empresas.” Na sua avaliação, para recuperar a competitividade da indústria brasileira, os preços do insumo de curto prazo devem ser realinhados sob a lógica do consumidor. “É preciso ter previsibilidade na produção e contratos de longo prazo que travem riscos”, acrescentou.
Também para o ex-secretário de Energia do Estado de São Paulo e suplente de senador José Aníbal (PSDB-SP), as dificuldades vivenciadas não dependem apenas de soluções técnicas oriundas da engenharia brasileira – que, como salientou, “é de competência extraordinária”. Têm a ver, na sua ótica, com decisões políticas equivocadas tomadas pelo governo federal nos últimos anos. “A CDE na sua criação chegou a ser subsidiada, hoje é indistinta, todos pagam igual. Cai na conta do povo e vai impactar a renda das famílias.” Ele calcula que terão gasto anual de cerca de R$ 1.200,00 em seu orçamento doméstico somente com energia. Diante desse quadro, José Aníbal propõe que se construa no Parlamento um novo marco regulatório, institucional e econômico para o setor crucial ao desenvolvimento. Sobre os reajustes extraordinários, o consultor e engenheiro Carlos Kirchner, representante da FNE na Frente de Defesa do Consumidor de Energia, lembrou que devem chegar a 60%. “Metade do consumidor de baixa renda perdeu esse direito. Enquanto alguns não vão conseguir pagar suas contas, inclusive indústrias de pequeno porte, essa é a época em que alguns agentes do setor mais têm ganhado dinheiro.” Em alguns setores, segundo Kirchner, empresas cessaram sua produção para revender energia que haviam acumulado a preços gigantescos. Muitos transformaram o insumo essencial em capital especulativo. “A FNE considera que ter energia e não vender é infração contra a ordem econômica. Temos que envolver a sociedade para fazer os ajustes de modo a rever essa situação.”
Mais demanda
Diretor de Economia da Energia e Meio Ambiente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Amilcar Guerreiro ressaltou: “O setor elétrico ainda não sofreu a revolução que precisa. Governo, sociedade e corporações têm que se articular para garantir segurança energética, modicidade tarifária, mais tecnologia e eficiência e bem-estar.”
Ele traçou um panorama do País, apontando o aumento da demanda por energia: “A cada ano, são 1,2 milhão de pessoas novas (crescimento da população brasileira) e 500 mil migram da área rural para a cidade. A cada mês, são 300 mil novos carros emplacados e 125 mil residências ligadas à rede. Diariamente, 70 mil pessoas são transportadas por ônibus nas cidades e 40 milhões navegam pelo menos uma hora.” Consequentemente, de acordo com Guerreiro, o consumo em 2014 cresceu 3% e neste ano deve ser ainda maior. A expansão na geração –, como indicou o palestrante, deve ficar em 6 a 9 mil MW/hora por ano no próximo período. “Até 2023, serão perto de 200 mil MW/hora, 92% por fontes renováveis. Entre as hidroelétricas (20 mil MW/hora), a maior parte já está contratada ou licenciada e se situará na Amazônia.” Outro caminho importante foi também identificado pelo diretor da EPE: eficiência energética. “A quantidade de energia poupada equivale à geração hídrica de 10.400 MW. Significa que 24% do crescimento do consumo pode ser atendido dessa forma.”
Soraya Misleh
Imprensa SEESP