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30/06/2015

Em prol do desenvolvimento, reindustrializar o Brasil

Recuperar a atividade produtiva é fundamental ao crescimento socioeconômico sustentável do País, que vive um processo de desindustrialização. A conclusão ficou evidente durante o seminário “O desafio de reindustrializar o Brasil”, realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), por meio de seu Departamento de Conjuntura Econômica na sede do SEESP, em São Paulo, na tarde do dia 29 de junho. Não obstante, entre os palestrantes, expressaram-se diferenças entre o diagnóstico de o porquê desse cenário nacional e as ações para reverter tal quadro. Participaram como expositores os economistas Antonio Corrêa de Lacerda, coordenador do Programa de Estudos Pós-graduados em Economia Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maílson da Nóbrega, ministro da Fazenda entre janeiro de 1988 e março de 1990 e atualmente consultor na área, além de Anita Kon, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia do Programa de Estudos Pós-graduados em Economia Política da PUC/SP.


Foto: Beatriz Arruda
CNTU 29JUN2015 editada 
Mesa do seminário que discutiu a reindustrialização do País, organizado pela CNTU, no dia 29 de junho 


Como lembrou o presidente da CNTU à abertura, Murilo Celso de Campos Pinheiro, o evento vai ao encontro da postura da entidade de contribuir com proposições a questões importantes à sociedade brasileira, entre elas a premência da reindustrialização de modo a assegurar a produção de bens e serviços com maior valor agregado, geração de empregos de qualidade e aumento da produtividade para que haja a retomada do desenvolvimento. O diretor da entidade e coordenador do seu Departamento de Conjuntura Econômica, Waldir Pereira Gomes, lembrou no ensejo que “a fotografia da economia é preocupante. O PIB tem variação negativa próxima de 1,5% e a perspectiva é de crescimento pífio em 2016. A inflação, mais perversa às classes de rendas mais baixas, está em torno de 9% ao ano e cresce o desemprego, em 7,8%, sobretudo entre os mais jovens.”

Diante desse panorama, Lacerda foi categórico: “O desafio de reindustrializar o Brasil é estrutural. Nos últimos dez, 15 anos, vimos evoluir grande mercado de consumo, mas isso não foi acompanhado de desenvolvimento industrial – e não por falta de capacidade física para atender a demanda. Aproveitando o boom de commodities, nos acomodamos enquanto sociedade de consumo, e não de produção e investimento.”

Essa situação levou a um encerramento de tal ciclo, que chegou a culminar na geração de emprego e renda, segundo explicou ele. Com a queda global do mercado de commodities e a mudança da política cambial norte-americana – resultando na desvalorização do real em relação ao dólar e inibindo as importações –, frisou: “Este ano, temos uma recessão que deve se estender até 2016.” Para complicar, Lacerda apontou a forma equivocada com que se propôs o ajuste fiscal, com “elevação brutal da taxa de juros”. E completou: “um convite à especulação e desestímulo à produção e ao investimento”.

Na sua análise, o País ficou mais dependente de fontes públicas de financiamento, particularmente do Banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES), o qual contudo “tem seus limites”. Ele ratificou: “A única fonte de longo prazo está com os braços atados. E a situação adversa aumentou o déficit de conta corrente. Como consequência, o PIB vai cair 2% este ano e o investimento, perto de 10%.”

Os indicadores conjunturais da indústria, diante das escolhas feitas, são muito negativos. No geral, a queda é de 5% e em bens de capital, 10%, de acordo com Lacerda. Mas ele foi enfático: “O Brasil tem todas as condições de reverter esse processo. É preciso ajustar os macropreços, com a redução da taxa de juros, mas é fundamental promover mudança estrutural. A política industrial tem que ser de Estado, de longo prazo. O País tem uma demanda reprimida enorme do ponto de vista de investimentos em logística e infraestrutura, é preciso carrear recursos privados.”

Criticando os interesses partidários acima dos nacionais e certa “má vontade” com o atual governo federal, Lacerda concluiu: “Espero que o terceiro turno das eleições termine logo para que a gente volte a trabalhar, senão não vai haver reindustrialização.”

Mais produtividade e inovação
Para Maílson da Nóbrega, todavia, a chave para a reindustrialização não passa por rever os macropreços ou por definir uma política industrial, mas por ampliar a produtividade na indústria e, com isso, sua competitividade. Na sua visão, requer capacitar a mão de obra, resolver o “caótico sistema tributário” e questões como logística. Além disso, elevar acordos de comércio com outros países, abrir espaço ao investidor privado para ampliar a infraestrutura e realizar a reforma trabalhista. Ele se posicionou ainda a favor da terceirização, inclusive para atividades-fim, como forma de incrementar a produtividade na indústria – argumento que foi rebatido por sindicalistas na plateia e por Lacerda. “O desafio é restaurar a competitividade no setor, danificada por uma série de erros no passado. A reindustrialização será consequência natural, e depende de liderança, diagnóstico e gente competente.”

Anita Kon reiterou que “não temos condições de competir com preços e escala” devido às deficiências em logística. Para ela, é preciso uma política industrial que integre questões de micro, macro e mesoeconomia, de curto, médio e longo prazos, bem como os setores público e privado. Tal política deve ainda, conforme Kon, pensar saídas para problemas como a baixa taxa de inovação. “As condições de pesquisa e financiamento são muito tímidas, e o coeficiente de importação de tecnologia é muito elevado.” Isso tem a ver, também na sua ótica, com o baixo nível de formação de mão de obra. “É necessário qualificá-la.”

 

 

Soraya Misleh
Imprensa SEESP

 

 

 

 

 

 

 

 

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