Os debates da 4ª Conferência Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), encerrada na última sexta-feira (28/5) em Brasília, alcançaram diversos pontos de convergência, como a necessidade de articular políticas de apoio à educação de qualidade para garantir emprego e desenvolvimento das sociedades. Esta avaliação resume a discussão da sessão paralela "Recursos Humanos: Qualificação e Mercado de Trabalho", realizada na quinta-feira (27).
A vice-presidente do CNPq, Wrana Panizzi, coordenou o debate sobre como a educação influencia no desenvolvimento científico e no mercado de trabalho no país. Para compor a mesa de discussão foram convidados o presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alvaro Toubes Prata, e a diretora de Operações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Regina Maria de Fátima Torres.
Segundo Wrana Panizzi, o novo paradigma do mercado de trabalho é a grande demanda por novos perfis de qualificação profissional. "O novo perfil de qualificação está relacionado a uma formação mais crítica e plena do profissional, não apenas direcionado a uma especialização exacerbada, mas deve possuir graus satisfatórios de competência, excelência, capacidade de resolver problemas e apropriar-se acima de tudo dos novos conhecimentos e das novas tecnologias. Enfim, o profissional deve possuir bases sólidas e abrangentes", pontuou.
Para Panizzi, embora se constate extraordinários avanços no desenvolvimento científico e tecnológico do país, persiste um enorme descompasso no Brasil entre a oferta de mão de obra e a qualificação para o mercado de trabalho. Já que, de acordo com estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estima-se que de um total de 9,1 milhões de demandantes de emprego, apenas 1,7 milhão possuem qualificação e experiência profissional adequadas aos postos de trabalho gerados.
"Esta falta de qualificação profissional ocorre devido às acentuadas desigualdades econômicas, sociais e culturais, que marcam o território brasileiro, o que implica em variados estágios de desenvolvimento que abrigam diversificada estrutura produtiva que acabam por requerer níveis e perfis de qualificação bem diferentes", afirmou Panizzi.
A baixa escolaridade superior no Brasil é um dos indicadores mais negativos que mais diferenciam o país do mundo. Entre a população com 25 a 43 anos, apenas 10% completaram a educação superior. E ao recuar e considerar o ensino médio, verá que apenas 50% dos jovens entre 15 e 17 anos estão matriculados no ensino médio, o que significa que de fato não existe uma universalização do ensino.
Para o engenheiro Francis Bogossian, o Brasil precisa reformular a educação para futuramente haver mais mão de obra qualificada. "O Brasil tem a oportunidade, nos próximos 10 anos, de consolidar-se no cenário mundial como um país de produção bastante arrojada. Mas a palavra chave para galgarmos este desenvolvimento produtivo é sem sombra de dúvida a Educação. É necessário também articular a inserção de uma educação transformadora, voltada para a inovação geradora de sustentabilidade social e ambiental, desde o ensino fundamental, passando pelo médio e pelo ensino superior", afirmou.
Durante a sessão ficou acordado que a escolaridade e qualidade do ensino são dois fatores fundamentais e que, sem isso, o setor produtivo e o desenvolvimento do país se tornam frágeis e limitados. "O acesso abrangente do país para uma economia do conhecimento depende, basicamente, de um fator: melhoria da educação", disse Álvaro Toubes Prata, reitor da UFSC.
Álvaro apontou ainda a preocupante deficiência quantitativa da capacitação em áreas estratégicas para o desenvolvimento pleno do país. Segundo ele, além da baixa oferta, existe um forte descompasso entre a população com educação superior e a política de estímulo a inovação.
"Apenas 10% dos egressos do nível superior têm formação em ciências e engenharias. Na China, este percentual sobe para aproximadamente 40%. Em nosso estágio atual, o Brasil necessita de um extenso corpo de engenheiros bem formados e com competência consolidada. Por isso, é fundamental fomentar uma expressiva formação de recursos humanos nas diversas áreas das engenharias e da Ciência, capacitando o país para explorar seus diversos nichos de competitividade", disse.
Quanto à produção do conhecimento científico, a diretora do Senai, Regina Maria Torres, afirmou que o Brasil, apesar de se encontrar em um momento favorável, precisa avançar muito no sentido de transformar esses índices de produção cientifica em indicadores de desenvolvimento tecnológico e inovação. "O Brasil só será desenvolvido econômica e socialmente quando tiver uma sólida e robusta plataforma não só cientifica, mas também tecnológica e de inovação".
O cenário Internacional aponta para uma realidade em que a competição internacional se dá cada vez mais pelo domínio do conhecimento. Mas este conhecimento, segundo a diretora, deve se transformar em tecnologias para nossas empresas. "Precisamos prospectar e antever a necessidade de projetar ações induzidas das agências de fomento delineando maior inserção e presença do Brasil no cenário internacional, explorando, sobretudo, vantagens competitivas e temas de pesquisa prioritários, com ênfase na formação de recursos humanos e na pesquisa em áreas de inovação cientifica e tecnológica ".
Regina Torres destacou ainda que é preciso oferecer um atendimento adequado às diferentes necessidades locais e contribuir para o fortalecimento da indústria para assim possibilitar o desenvolvimento pleno e sustentável do país. O SENAI busca promover exatamente essa educação profissional, tecnológica, inovadora e a transferência de tecnologias industriais, contribuindo assim para elevar a competitividade da indústria brasileira", finalizou.
No final da sessão ficou afirmada a necessidade de articular as empresas, as universidades e os governos para consolidar de vez caminhos para inovação, tanto no que se refere à formação de recursos humanos como a organização da pesquisa. Foi consenso dos integrantes da mesa a importância de estimular novos talentos para inovação, no sentido de ampliar a escala desta experiência e cristalizar uma cultura institucional da inovação. "No Brasil o novo modo de produção do conhecimento deve ser visto como padrão e não exceção", finalizou a coordenadora da sessão, Wrana Panizzi.
Fonte: Assessoria de Comunicação do CNPq
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